Uma turma de 25 alunos do bairro Bom Jesus, em Porto Alegre, está aprendendo sobre barbearia e empreendedorismo. Os jovens têm entre 16 e 19 anos e foram selecionados para participar de duas oficinas realizadas pela Fundação Tênis, ONG com sede em Porto Alegre. Entre os requisitos, o principal era ter vontade de aprender, destaca Maria Dorilda Vivian Xavier, supervisora do Programa de Educação Profissional da entidade.
— O objetivo maior dessas oficinas é fazer com que esses jovens se tornem autônomos, donos das suas próprias histórias — pontua.
O projeto, que leva o nome Desenvolvendo Competências para o Mundo do Trabalho, teve início em junho e se estende ao longo de seis meses. As atividades ocorrem nas tardes de terça-feira, no Centro Esportivo e Cultural Bom Jesus, que é parceiro da atividade, assim como também é o Ministério Público do Trabalho. A turma é dividida em dois grupos — cada um faz uma das oficinas em determinado horário. Mensalmente, os alunos ganham uma bolsa de R$ 400 para incentivar sua participação — notícia que receberam só depois de já terem sido selecionados.
Chance única
Foi conversando com um cliente que faz parte da equipe da Fundação Tênis que o barbeiro Grégori Camargo, 31 anos, soube da iniciativa que estava sendo pensada para a Bom Jesus. Dono de uma barbearia em Viamão e de outra na zona sul da Capital, ele topou ser professor de uma das oficinas. No seu próprio empreendimento, também já ajudou na formação de outras pessoas.
A profissão de barbeiro foi algo que surgiu em sua vida depois de trabalhar em uma rede de fast-food. Dali em diante, virou paixão. Nas oficinas na Bom Jesus, Grégori planeja ensinar aos alunos a teoria e a prática de quatro cortes: mid fade, taper fade, low fade e high fade.
— A oportunidade que eles estão tendo hoje é única. Eu não tive essa oportunidade, tive que me dedicar, ir para internet e aprender meio que sozinho para, depois, quando abri meu próprio negócio, fazer um curso — lembra.
Motivação e planejamento
Um dos jovens que está abraçando a oportunidade é Kauan Rafael Souza Moraes, 19 anos. Hoje, ele atua como designer de sobrancelhas em um salão de beleza que mantém com outros profissionais.
— Eu já trabalho com estética, aí a barbearia me chamou a atenção. E por eu ser, vamos dizer assim, empreendedor, eu estar abrindo meu negócio, é uma forma de eu aprender a administrar, cuidar.
Kauan conheceu o projeto por meio de uma ex-professora sua e decidiu se inscrever. A seleção foi feita pela Fundação Tênis junto a representantes da comunidade. Os jovens passaram por uma conversa individual, na qual foram vistas questões como a situação familiar e as condições para estar ali.
Para Kauan, cortar cabelo tem sido mais tranquilo do que imaginava. Sobre a oficina de empreendedorismo, diz ter se sentido motivado a ter rotina, planejamento e "sede de futuro".
Pensar no amanhã
Trabalho em equipe, gerenciamento de tempo, educação financeira e cuidados com a saúde mental e física são alguns dos temas iniciais da oficina do professor Lázaro Sumba Quími, 49 anos. Ele, que é economista, professor universitário e pesquisador, sentiu a necessidade de trazer assuntos ligados à vida pessoal dos alunos, ajudando a se organizarem e a se motivarem, antes de entrar no conteúdo mais voltado ao empreendedorismo. Os encontros são feitos em forma de conversa e podcasts são sugeridos para os alunos escutarem, driblando assim a dificuldade de ler e também do acesso a livros.
— Eu espero, com essas atividades, despertar o interesse em pensar no amanhã, em um futuro, e procurar descobrir qual é a trilha para que eles consigam atingir esse futuro —ressalta.
Lázaro é natural do Equador e está há cerca de uma década em Porto Alegre. Durante as explicações, traz exemplos pessoais e também casos de pessoas que trilharam um caminho empreendendo. Nas palavras da aluna Andryelle Cardoso da Silva, 19 anos, o professor "ensina falando do nosso dia a dia, do dia a dia de uma empresa, do dia a dia dele até".
O interesse pela oficina de empreendedorismo fez a jovem se inscrever no projeto. Mas, passados alguns encontros, ela conta que também está gostando da barbearia. A diversidade de assuntos é algo que chamou a sua atenção no projeto.
— Eu acho que me traz bastante perspectiva de vida porque acaba abrangendo muitas coisas — comenta.
No final do curso, Andryelle espera conseguir fazer cortes de cabelo sozinha e estar mais preparada para o mundo do trabalho. Segundo a supervisora do programa ao qual o projeto está vinculado, Maria Dorilda, uma segunda edição da atividade está prevista para 2023, também para jovens em situação de vulnerabilidade social no bairro.
Produção: Isadora Garcia