Um projeto de extensão universitária com uma missão bem definida, a de tornar a produção de flores uma fonte adicional de renda aos produtores familiares, de forma que eles melhorem seu padrão de vida e que as próximas gerações se sintam motivadas a permanecer no campo. Esse é o objetivo do Flores para Todos, que começou em 2018, na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), e já beneficiou 109 famílias de 82 cidades gaúchas.
A equipe ensina todo o processo de produção de algumas variedades de flores: as orientações começam no plantio, passando pelas técnicas de manejo durante o cultivo e culminam na colheita. A ideia é capacitar os agricultores para que estejam aptos a continuar sozinhos a produção.
— Os pequenos produtores correspondem a praticamente 80% das famílias que vivem no meio rural no Brasil. A maioria produz frutas e hortaliças, e as flores entram nesse portfólio do agricultor familiar com muito potencial para agregar renda, já que não é necessária muita área para se ter grande rentabilidade — afirma Nereu Augusto Streck, engenheiro agrônomo, professor e coordenador da ação.
No Rio Grande do Sul, o Flores para Todos é comandado pela Equipe PhenoGlad UFSM, composta por professores, alunos de graduação, mestrado e doutorado. A Emater-RS é parceira do projeto, responsável por visitas técnicas e pela indicação das famílias beneficiadas. Nesse semestre, participam 10 famílias de produtores, de oito municípios gaúchos: Dilermando de Aguiar, Cachoeira do Sul, Júlio de Castilhos, Venâncio Aires, Carazinho, Piratini, Santa Maria e Ivoti. Eles estão aprendendo a cultivar girassóis italianos, gladíolos e statices.
— As plantas que escolhemos para o projeto precisam ser de cultivo fácil, de baixo custo e a campo, sem necessidade de estufa, que custa caro. São plantadas ao lado do canteiro da alface, do tomate, sem exigir muita infraestrutura além da que já existe. A chave do sucesso é nos adaptarmos à realidade do produtor para que a família tenha lucro real em cima das flores — explica Nereu.
Técnicas de produção
Por causa da pandemia de covid-19, este semestre do projeto segue uma série de protocolos sanitários, e as visitas de alunos e de técnicos da Emater ocorrem pontualmente. Boa parte do acompanhamento da produção e do compartilhamento de informações sobre cultivo é feita online. O agricultor Milton Cauzzo, de Santa Maria, sempre trabalhou com hortaliças e algumas variedades de flores, mas, neste ano, se aventura pela primeira vez na produção de girassóis italianos, com a ajuda e a supervisão do projeto.
— É uma flor boa e que tem bastante procura. As pessoas gostam muito porque o girassol italiano dura cerca de 10 dias. Nós conseguimos cultivar umas 25 plantas por metro quadrado, o que é ótimo. Estamos começando a entrar no mercado — afirma Milton, que já encomendou uma remessa de 6 mil sementes, as quais espera plantar a tempo de comercializar as flores no Dia de Finados.
O compartilhamento de técnicas para a produção de plantas fora de época é uma das frentes do projeto, que envolve as famílias em experimentações. Em Ivoti, o produtor de suculentas, engenheiro agrônomo e pesquisador Laerte José Corrêa Silva está testando uma tecnologia proposta pelo projeto para cultivar a flor statice em maio, sendo que essa é uma planta de primavera.
— Esse projeto é de suma importância porque é uma grande oportunidade de a gente desenvolver uma prática que vai poder ser aplicada por outros agricultores que produzem flores de corte. Vai servir para várias outras plantas, na esteira dessa pesquisa — diz Laerte, que também é vice-presidente da Associação Rio-Grandense de Floricultura (Aflori).
O que é jornalismo de soluções, presente nesta reportagem?
É uma prática jornalística que abre espaço para o debate de saídas para problemas relevantes, com diferentes visões e aprofundamento dos temas. A ideia é, mais do que apresentar o assunto, focar na resolução das questões, visando ao desenvolvimento da sociedade.
Ele conta que a expectativa inicial era conseguir colher statices fora de época para comercializar no Dia das Mães. Mas a produção — embora em menor volume do que na primavera — foi suficiente para suprir a demanda dos consumidores já em março, no Dia da Mulher:
— As vendas foram boas, não sobrou nada. É claro que não era um volume tão grande, pois a produção ainda é menor, mas, se eu tivesse o dobro de quantidade, teria vendido.
Segundo Streck, a produção de flores do Rio Grande do Sul é muito inferior à demanda pelo produto, já que o Estado é o quarto que mais consome flores no país.
— Cerca de 70% a 80% das flores consumidas pelos gaúchos não são produzidas aqui. Nossa produção ainda é muito baixa, então temos um grande potencial para explorar — projeta o agrônomo.