A ativista paquistanesa Malala Yousafzai defendeu, em entrevista à BBC News Brasil, o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). A jovem, formada em filosofia, política e economia pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, disse se preocupar com o futuro das brasileiras — especialmente meninas negras e indígenas, que não conseguem estudar e correm o risco de ver suas escolas fecharem.
— Meninas negras e indígenas estão entre as que têm menos chance de completar 12 anos de educação, por conta da pobreza, do racismo estrutural e de outras barreiras sociais — disse, lembrando que mais de 1,5 milhão de garotas estão fora da escola no Brasil.
Alvo de votação sobre a educação no Brasil, o Fundeb é responsável pela distribuição de R$ 150 bilhões anuais em verbas para escolas e professores, da creche ao Ensino Médio. Se ele não for renovado nos próximos meses, será extinto em 31 de dezembro.
— O Fundeb é fundamental para assegurar um futuro em que todas as meninas brasileiras possam ir à escola, não importa onde vivam — afirmou Malala.
A paquistanesa é conhecida por lutar pela democratização da informação. Malala foi a pessoa mais jovem ao receber o Nobel da Paz. Em 2014, quando tinha 17 anos, ela teve a sua luta pela defesa da educação das mulheres em seu país reconhecida pela entidade.
Ela foi baleada na cabeça por um membro do Talibã quando ia para a escola. Recebeu tratamento médico no Reino Unido e, então, escreveu um livro marcante no qual apresenta a realidade da educação para mulheres no Paquistão. Desde então, tornou-se um símbolo de resistência das mulheres contra a opressão.
A paquistanesa teve contato com o tema da educação no Brasil durante visita ao país em 2018, quando conversou com estudantes e ativistas. Na ocasião, as emissárias da ativista paquistanesa tiveram uma audiência pública com parlamentares e um encontro com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
— Sem acesso igualitário à educação, não pode haver meritocracia — disse à BBC News Brasil Malala, que faz uma defesa enfática ao Fundeb como instrumento de democratização.
— (Ele) significa professores mais preparados, material escolar atualizado, menos escolas superlotadas e mais oportunidades para que estudantes tenham acesso à tecnologia — afirma.
A PEC que prorroga a validade do Fundeb foi aprovada na Câmara dos Deputados em 21 de julho. O texto, porém, fez uma alteração importante: o aumento no aporte do governo federal ao fundo. A matéria prevê mais que o dobro de gastos da União na educação básica, passando a complementação dos atuais 10% para 23%. A alteração deve ser gradual.
Nos próximos dias, o Senado pode confirmar a decisão ou devolver a PEC aos deputados.