Depois de encarar um primeiro dia de provas exaustivo, principalmente pelas questões de física, os vestibulandos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) deixaram a segunda etapa do exame, neste domingo (24), aliviados com o tema da redação — e satisfeitos com as mudanças no formato do concurso.
Nesta edição, os candidatos foram desafiados a opinar sobre a qualidade da música brasileira, a partir de um artigo do jornalista Leonardo Lichote, publicado no jornal
O Globo em fevereiro de 2018.
À época, Lichote discorreu sobre palavras erroneamente atribuídas ao cineasta Arnaldo Jabor. Baseado no refrão do funk Que Tiro Foi Esse, de Jojo Todynho, o texto circulou na internet e causou controvérsia ao atacar o nível da produção musical no país.
Para o professor de Linguagens e Redação do Unificado, Ávila Oliveira, a definição do assunto não poderia ter sido melhor:
— A temática escolhida foi acessível, além de muito bem encaminhada e totalmente ligada ao universo dos jovens. Acho que a gurizada se saiu bem.
Na avaliação do professor de Redação do Mottola, Carlos Luzardo, a UFRGS "manteve a tradição". Luzardo também celebrou a escolha do mote.
— Arte e música estão presentes nas provas da universidade há muito tempo. Como conteúdo, é absolutamente aceitável. Outro ponto a ser destacado é a plena liberdade que o aluno tem para responder. A UFRGS não quer respostas objetivas. Quer uma visão subjetiva, pessoal. Eu gostei muito — resumiu Luzardo.
Entre a gurizada – que neste domingo (24) também respondeu a questões de língua portuguesa –, a sensação foi de alívio. Aluno do 3º ano da Colégio Estadual Padre Rambo, na Capital, Paulo Ferreira, 18 anos, disse ter ficado "tranquilo" ao ler o enunciado da redação.
O segundo dia, para ele, foi "mais fácil" do que o primeiro – no sábado (23), as perguntas versaram sobre física, literatura em língua portuguesa e língua estrangeira moderna (inglês, espanhol, italiano, francês e alemão).
— Começou bem estressante, mas hoje (domingo) foi melhor — avaliou o rapaz, que sonha em estudar Engenharia Mecânica.
De olho em uma vaga no curso de Farmácia, Joana Godoy, 17 anos, também gostou da proposta da redação.
— Foi fácil, porque o texto pedia para a gente opinar. Era quase como escrever uma resposta ao jornalista que escreveu o artigo — explicou a aluna do Colégio Marista Champagnat, em Porto Alegre.
Quanto à prova de língua estrangeira, Marcelo Giusti, professor de inglês da Método Medicina, diz que, dessa vez, houve maior cobrança em termos de gramática:
— No vestibular passado, foram 10 questões do tipo e, agora, 15. Mais questões de gramática pura, sempre relacionadas com texto. Como a UFRGS usa textos literários, isso exige um grau de leitura mais aprofundado dos alunos. O vocabulário continua sendo a parte mais difícil.
Problemática mesmo foi a prova de física, aplicada no sábado (23). Para o professor da disciplina no Unificado, Enio Kaufmann, a UFRGS pecou na descrição exaustiva das questões.
— Foi mais difícil na linguagem do que no conteúdo. Uma prova pesada, muito cansativa, com muita conversa fiada e todos os defeitos que o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) está procurando corrigir e que a UFRGS não tinha. Isso deixa o aluno tenso e inseguro — sintetizou.
Com qualquer candidato que se conversasse na saída da sabatina, a conclusão era a mesma: os enunciados foram "muito longos".
— Gastei metade do tempo da prova só com as questões de física. Foi bem difícil mesmo —lamentou Ferreira.
O que parece ter agradado a maioria foram as alterações na sistemática do vestibular de 2020 da UFRGS. O certame foi antecipado de janeiro para novembro, com provas à tarde e aos sábados e aos domingos (e não mais durante a semana, como sempre foi). Em entrevista coletiva, o reitor da instituição, Rui Vicente Oppermann, considerou as medidas um sucesso e disse que já cogita mantê-las em definitivo nos próximos anos.
Para o casal de vestibulandos Daialu e Thiago Oliveira, ambos de 26 anos, a decisão é acertada.
— É bem mais tranquilo. A gente chega mais descansado à tarde e não tem aquela tranqueira no trânsito — destacou Thiago.
O vestibular da UFRGS continua no próximo sábado (30) com os testes de Biologia, Química e Geografia, e termina no domingo (1º), com História e Matemática.