Acordar às 5h para ir à fábrica e passar o dia carregando e descarregando caminhões. A tarefa já é cansativa quando faz parte da rotina diária, e mais ainda quando o "novo funcionário" é, na verdade, o diretor de Finanças e Operações. Valdo Marques Junior, da Stemac, viveu a experiência para o quadro Chefe Secreto, reality show do Fantástico. Com a convivência junto aos colaboradores "lá da ponta" - como ele os define -, conseguiu implantar mudanças e garantir ganho de 35% de produtividade em apenas um semestre.
- Foi uma grata surpresa. Pude enxergar coisas que seriam muito difíceis de ver da minha mesa, em relatórios e indicadores, uma percepção acurada sobre relacionamento entre áreas e entre líderes e liderados.
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Marques passou cinco dias em cinco unidades diferentes da Stemac, fabricante de grupos geradores. Gravado em 2014, o reality show foi ao ar em duas partes, a última delas exibida dia 20 de setembro.
Disfarçado de operário, o diretor era apresentado como um trabalhador que estava há anos fora do mercado e que participaria de um programa de TV - desculpa para as câmeras que acompanharam a rotina - e seria avaliado antes da contratação oficial.
- "Tem que colocar o cara para trabalhar mesmo", eles falavam para o pessoal que me treinava. Foi muito gratificante ver que os colegas me estimulavam a ficar na empresa e diziam que era muito bom trabalhar lá.
Profissionalismo e gentileza
Técnico de manutenção de geradores na unidade fluminense da Stemac, Yuri Alexander Garcia de Matos foi o responsável por ensinar ao "novo contratado" as funções básicas. As câmeras assustaram um pouco, mas não atrapalharam o trabalho.
- Eu estava muito nervoso, tinha uma câmera enorme na frente, outra no lado, microfone. Mas tem um momento em que você esquece que está na filmagem, a conversa vai fluindo e você começa a relaxar - diz.
No treinamento, o foco foi menos em detalhes técnicos de profissionais experientes e mais em ações práticas.
- Disseram que ele nunca tinha trabalhado com geradores, então tentei ser o mais didático possível. Ensinei a verificar alguns itens, fazer reapertos, manutenções bem visíveis. Achei que ia ser mais interessante - detalha o técnico.
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E como ele avalia o chefe? Atento e aplicado são as definições. Durante o dia em que trabalharam juntos, Marques tentou conhecer Matos melhor.
- Ele queria saber quem eu era por trás do funcionário, como pessoa.
Após o Chefe Secreto, Matos (à dir.) observou mais de agilidade na área de manutenção para atender clientes.
Lá na ponta
O principal destaque da experiência, para o executivo, foi ver o comprometimento dos funcionários com os valores da empresa.
- A maioria dos colegas foi muito colaborativa, cuidadosa - elogia.
O que o especialista em gestão de pessoas e empresas observou na lida diária nas operações ajudou as esferas de gerência a melhorar processos e trazer mais produtividade. Como carregador, viu que muitas vezes a mercadoria era embarcada no caminhão e, por problemas na documentação, tinha de ser removida depois.
- Uma análise fiscal, feita por um departamento no RS, era realizada antes do caminhão sair. Hoje, ela é feita antes do carregamento, porque, se houver qualquer problema, não perdemos tempo de carregar e descarregar - descreve.
O processo de liberação fora definido antes da chegada do atual gerente da área fiscal, que o realizava corretamente. Mas, sem contato com os carregadores em Itumbiara (GO), não tinha a percepção do problema. Na fábrica, os carregadores também faziam seu trabalho com excelência, mas sem compreender o porquê do descarregamento.
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Questão semelhante Marques observou entre áreas de abastecimento, que tinham influência direta uma no trabalho da outra, mas que não conseguiam melhorar a operação. A mudança, aqui, foi estrutural.
- Havia muros entre as áreas, além de problemas de relacionamento, então eram muitas acusações e poucas soluções. Trocamos pessoas, unificamos áreas e conseguimos eliminar o "buraco" que existia, consequentemente aumentando a produtividade.
*Zero Hora