O pesquisador Rodrigo Cauduro Dias de Paiva foi anunciado nesta semana como um dos vencedores do Prêmio Jovem Cientista, promovido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Rodrigo ficou em terceiro lugar na categoria "Mestre e Doutor" com um trabalho que estudou a bacia amazônica e desenvolveu um sistema para prever a vazão nos rios da região.
A pesquisa foi resultado da tese de doutorado do autor, desenvolvida no Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS e no Laboratório de Geociências e Meio Ambiente da Universidade de Toulouse, na França. Lançando mão do monitoramento via satélite e de simulação computacional, o protótipo de Rodrigo é capaz de prever vazões nos principais rios do principal sistema hidrológico do mundo com antecedência de um a três meses. Teria sido possível, por exemplo, antecipar grandes secas como a ocorrida em 2005, que provocou danos generalizados à cobertura florestal e a interrupção da navegação e do transporte.
Assim, a pesquisa poderia contribuir com a população amazônica, vulnerável às cheias e dependente dos rios tanto para a produção de alimentos como para o transporte doméstico, a navegação comercial e a produção de energia, atividades que são comprometidas por fenômenos como as secas.
As simulações de Rodrigo foram validadas com medidas coletadas por instituições como a Agência Nacional de Águas (ANA), além de dados obtidos por satélite. O currículo de Rodrigo lhe rendeu uma vaga para trabalhar na missão SWOT, das agências espaciais NASA e CNES, cujo objetivo é desenvolver um satélite para o monitoramento detalhado de corpos dágua. Rodrigo conversou com Zero Hora sobre a pesquisa e a experiência nos Estados Unidos:
ZH: Como o teu trabalho contribui para que danos à natureza e aos seres humanos sejam previstos e minimizados?
Rodrigo: O primeiro passo para preservar e prever o funcionamento de qualquer sistema é compreênde-lo. Quais são os processos hidrologicos dominantes na bacia Amazonica? Como as ações do homem modificam este sistema? Ou, que fatores dominam a previsibilidade hidrológica na bacia Amazônica? Como prever secas ou cheias? Buscamos estudar o funcionamento hidrológico da bacia Amazônica e os meios para prevê-lo. Para tanto, foram desenvolvidas e utilizadas técnicas de simulação hidrológica e de observação via sensoriamento remoto, que são muito adequados para grandes areas como a Amazônia, onde o monitoramento detalhado de variáveis hidrológicas in situ é dificultado por questões operacionais.
ZH: Como surgiu a oportunidade de trabalhar na missão SWOT? O que tu tens feito por lá?
Rodrigo: Esta oportunidade foi publicada no jornal informativo da União Geofísica dos Estados Unidos (American Geophysical Union - AGU), para trabalhar com 2 pesquisadores da Ohio State University que estão entre os líderes deste projeto. Submeti o meu currículo e felizmente fui o selecionado. No momento estamos trabalhando nos algoritmos para estimar vazões nos rios a partir dos dados do futuro satélite SWOT. Esta é o primeiro satélite projetado especificamente para o monitoramento de águas continentais. Estes novos dados darão uma grande contribuição para as ciências hidrológicas em nível global, já que as estações convencionais de monitoramento de rios são espacialmente mal distribuidas e em muitos países os seus dados não são de livre acesso.
O quanto o Brasil tem a avançar em sensoriamento remoto e hidrologia? Quais são as nossas maiores carências?
O Brasil é muito grande, diverso e rico em recursos naturais, por isso há tanto a fazer. Precisamos conhecer melhor meio ambiente em que vivemos se queremos preservá-lo e prevenir danos causados por fenômenos naturais como cheias e secas. Muitos excelentes pesquisadores brasileiros vêm se dedicando a hidrologia e monitoramento do meio ambiente via satélite. Mas mesmo assim, penso que podemos investir e valorizar ainda mais a atividade de pesquisa no Brasil.
O Rio Grande do Sul deve lançar o seu primeiro microssatélite em 2015. O MMM-1 deve ter aplicação militar, com a possibilidade de sensoriamento remoto. Chegaste a manter contato com esse projeto? Satélites de pequeno porte podem ser uma alternativa econômica para auxiliar o trabalho de monitoramento de áreas como a Amazônia?
Pessoalmente, não tenho envolvimento com este projeto. Mas não vejo porque este tipo de tecnologia não possa também ser aplicado ao monitoramento ambiental. Devo dizer também que, no geral, as oportunidades pesquisa são imensas em hidrologia com sensoriamento remoto. Muitos satélites com finalidade hidrologica têm sido lançados por agências como NASA, ESA, CNES, entre outras, permitindo monitorar variáveis como precipitação, umidade do solo, evapotranspiração, águas superficiais, etc. A quantidade de dados é imensa e precisamos de técnicas adequadas para explora-los ao máximo.
Como a premiação no Jovem Cientista repercute no teu trabalho? O que vem pela frente?
O PJC é uma excelente forma de motivar em jovens pela atividade de pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico. Além disso, divulga os novos conhecimentos que estão sendo gerados no mundo acadêmico e ajuda para que sejam aplicados na sociedade. Foi muito bom ver reconhecido o meu trabalho, mas devo dividir tudo isso com todos os outros colegas que vem trabalhando na mesma linha. O prêmio indica que estamos no caminho certo e dá muita motivação para continuar desenvolvendo estas pesquisas.