Continuar estudando durante toda a vida – essa é a proposta do “lifelong learning” (do inglês aprendizagem ao longo da vida), que se baseia no princípio de nunca parar de aprender. Embora a ideia tenha surgido nos anos 1960, o tema vem repercutindo, especialmente nos âmbitos profissional e comportamental.
Defensores dessa prática entendem que o processo de aprendizagem se estende para além da educação formal, não se restringindo às etapas da Educação Básica e Ensino Superior. Para a gerente de desenvolvimento de ensino da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), Cristiane Schnack, mais do que buscar cursos para aperfeiçoamento, trata-se de uma atitude, de estar disposto a aprender ao longo da vida em diferentes contextos.
— É uma forma de encarar o mundo, de estar aberto à aprendizagem. A aprendizagem ao longo da vida é a sequência de eventos de aprendizagem que temos ao longo da vida. Alguns são marcados com cursos, ou rituais, por exemplo, finalizar uma certificação, ou uma pós-graduação. Mas é além disso: é participar de grupos, de comunidades que me permitam aprender — explica.
Adotar esse estilo de vida contribui com a manutenção da saúde mental, de acordo com as especialistas ouvidas pela reportagem. Conforme a coordenadora do Instituto de Línguas da Unisinos, Jeane Cortezia, o estudo de idiomas é um bom exemplo disso:
— É preciso estar em constante aprendizado, tudo isso para manter a mente ativa. A gente geralmente mantém o corpo ativo. Fazemos academia, pilates. Mas é importante também exercitar a nossa mente. Estamos muito esquecidos. O estudo de línguas, por exemplo, faz com que a gente memorize as coisas.
Para a doutora em Psicologia Camila Bolzan de Campos, conviver e dialogar com pessoas de diferentes faixas etárias ao longo da vida é extremamente saudável, e o aprendizado amplia essas conexões. Segundo Camila, quanto mais o sujeito estiver se desafiando a aprender coisas novas, mais ativa vai estar a mente, e devemos seguir abraçando desafios conforme envelhecemos.
— Um dos fatores mais importantes para a saúde mental na segunda metade da vida é a conexão, a interação social. Ao estar em contato com outras gerações que não a sua, o sujeito está de certa forma se reciclando, se reconectando com o que é atual, criando conexões cerebrais de aprendizagem, se desacomodando. Parar de aprender é o primeiro passo para a estagnação — afirma Camila, que é coordenadora do curso de Psicologia na Universidade La Salle.
Impacto na trajetória profissional
Segundo Camila, a adoção da proposta do lifelong learning na rotina das pessoas já vem demonstrando reflexos, especialmente no mercado de trabalho. Ela diz que as gerações anteriores enxergavam as escolhas profissionais como algo definitivo, a ser seguido para o resto da vida, como a geração X e os baby boomers.
Agora, com a possibilidade de seguir aprendendo e se qualificando constantemente, as gerações atuais já não ficam presas a uma carreira que não dê satisfação. Pelo contrário: os profissionais tomam decisões mais orgânicas, e vão mudando a trajetória conforme a fase da vida.
— Antigamente, as pessoas até faziam um mestrado ou doutorado, mas não iam atrás de uma segunda graduação, por exemplo. Agora, eles percebem que ainda têm condições de estudar. Eles querem acessar aquilo que ficou para trás, se permitem conquistar um sonho antigo, por exemplo — diz Camila.
E esse processo de constante qualificação garante vantagens no mercado de trabalho. É o que diz Jeane – de acordo com a professora, isso contribui para alcançar melhores condições de trabalho.
— Estar em constante aprendizado também aumenta nossa vantagem competitiva para conseguir um trabalho melhor e melhor remuneração. Continuar aprendendo e se qualificando significa se manter relevante no mercado de trabalho.
Muitas vezes, realizar cursos e formações não cabe no bolso ou na rotina das pessoas, tendo em vista que é necessário conciliar essas atividades com os demais desafios da maturidade, como tarefas domésticas, trabalho e cuidados relacionados à família.
Por isso, é fundamental desenvolver habilidades como autogestão e autoconhecimento para organizar esse estilo de vida, segundo Cristiane:
— O grande desafio é fazer uma curadoria do que eu quero, o que é importante para mim e quais instituições de ensino vão entregar aquilo que eu preciso. Vivemos na era da abundância, temos muita oferta de cursos e oportunidades. Quando eu olho tudo que poderia ser feito, acabo desenvolvendo ansiedade, porque não vou conseguir fazer tudo. Por isso, preciso saber quem eu sou, o que eu quero e conhecer as instituições de ensino para ver as melhores opções.