No Brasil, os jovens de 18 a 24 anos representam cerca de 12,7% da força de trabalho, conforme relatório da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso corresponde a 12,9 milhões de pessoas ocupadas. Já os adultos de 25 a 59 anos representam 78% dos trabalhadores, e os idosos (a partir de 60 anos) são 7,9%.
Conforme a pesquisa, as pessoas de 18 a 24 anos equivalem a 12,4% da população economicamente ativa (PEA) do país, somando 21,8 milhões. Os dados são relativos a junho de 2024. Esses jovens fazem parte da geração Z, que se refere àqueles que nasceram entre 1995 e o início dos anos 2000.
As novas demandas desses profissionais na carreira, como propósito, flexibilidade e bem-estar têm sido muito discutidas. A renda, no entanto, continua sendo uma preocupação importante para os jovens brasileiros no momento de escolher um emprego, segundo especialistas.
Conforme o técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), André Gambier Campos, essa geração adquire maturidade e inicia a trajetória profissional na janela entre 2015 e 2025, período marcado por uma conjuntura econômica complexa e pela informalidade. Especialmente com os impactos da pandemia, em 2020, e da crise de 2015, quando foi registrada queda brusca no Produto Interno Bruto (PIB) e inflação muito acima da meta.
— Por mais que a geração de empregos esteja alta no momento, há muitas vagas sem carteira assinada e trabalhadores com contrato PJ. Esse cenário não favorece os jovens. E é esse tipo de vaga que a geração Z está encontrando, como motorista de Uber, entregador de aplicativo. Estamos com uma estrutura de mercado muito informalizada — explica o pesquisador.
Impacto da desigualdade
A nova geração de trabalhadores também enfrenta uma taxa de desemprego maior do que a geral do país – foi de 15,3% no final do ano passado, o que representa 2,3 milhões de jovens de 18 a 24 anos, sendo que a média nacional foi de 7,8%. Segundo Campos, o desemprego é sempre mais alto nessa faixa etária, até os 24 anos. Por isso, segundo ele, é necessário refletir sobre a realidade brasileira e os desafios desses profissionais.
— Temos que questionar se esses lugares comuns resistem ao choque da realidade do mercado de trabalho brasileiro. Não sabemos se esse discurso bonito se sustenta de fato, essa concepção de que o jovem só permanece em ambientes de trabalho compatíveis com o seu propósito, que tenham conexão com seus próprios valores — argumenta o especialista.
Custo de vida é uma das principais preocupações da geração Z no Brasil, conforme estudo da consultoria Deloitte. Dos 500 jovens entrevistados no levantamento, 30% citaram este fator entre suas inquietações.
Segundo a professora da Fundação Getulio Vargas (FGV) e especialista em carreiras, Anna Cherubina Scofano, é importante levar em consideração os contrastes da sociedade brasileira, que tem jovens de diferentes perfis.
— Temos diferenças grandes entre as classes sociais, do ponto de vista de necessidades. Alguns trabalham para se realizar, porque têm uma família que fomenta isso. Outros, para garantir a sobrevivência, não somente sua, como de seus familiares. Isso dá um tom diferente no impulso da busca por crescimento profissional — destaca.
Estereótipos sobre a geração
Para a estudante Isabel Silveira, 22 anos, as concepções sobre a geração Z acabam criando estereótipos em torno dos jovens. Ela acredita que tudo depende do ponto de vista e que, para ela, buscar propósito no trabalho significa buscar ser feliz.
— Hoje, eu trabalho oito horas e meia por dia. Se eu não gostar das pessoas com quem convivo no trabalho, se eu não me identificar com elas, o que estou fazendo? Eu vou fazer o que escolhi durante boa parte da minha vida. A gente tem que estar feliz no trabalho e em conexão com as pessoas, porque se não a gente vai colapsar. Eu procuro propósito, bem-estar, flexibilidade, e coloco limites quando necessário — conta.
Isabel está no 6º semestre do curso de Publicidade e Propaganda na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Ela chegou a trocar de faculdade no meio do percurso por questões financeiras, mas conta que tem o suporte da família para se sustentar. Mesmo assim, o salário pesa na hora de escolher um emprego, segundo Isabel, além de seus valores.
Após dois anos de trajetória profissional, ela passou a entender melhor suas prioridades e o que valorizar em um emprego. No quarto estágio, ela conta que as experiências foram fundamentais para chegar neste momento, com maior satisfação e tranquilidade em relação ao trabalho:
Hoje, eu vejo isso com bons olhos, essas experiências que tive, mesmo as que foram negativas. Tudo isso me deu uma noção do que eu quero e do que eu vou procurar.
ISABEL SILVEIRA
Estudante
Vantagens
Para a professora da Anna Cherubina, a geração Z é privilegiada do ponto de vista da flexibilidade, por terem as opções de trabalho remoto e híbrido, além da facilidade que o ensino a distância trouxe para quem necessita conciliar trabalho e estudos. O que atrapalha os jovens na busca por emprego, e precisa ser trabalhado, é a questão do imediatismo.
— As novas gerações trabalham com um imediatismo que não existe no mercado de trabalho. Eles precisam desenvolver a autopercepção, entender aquilo que precisam desenvolver para alcançar seus objetivos individuais. Porque eles falam muito em propósito, mas muitos deles não conhecem seu propósito. A autogestão ajuda nesse processo de amadurecimento — explica a professora da FGV.
Trata-se de uma geração altamente educada, considerando a escolarização formal. Os jovens de 18 a 29 anos alcançaram 11,8 anos de escolaridade média em 2020, conforme dados do IBGE. Isso também contribui para que os jovens ingressem no mercado de trabalho com mais facilidade.
— Temos um ganho geracional do ponto de vista da Educação Básica, e é um ganho progressivo. Ano a ano, vamos melhorando esse índice. Isso certamente melhora a situação ocupacional deles — complementa o pesquisador do Ipea.