A transição de carreira tem se destacado no mundo todo, e no Brasil não é diferente. O movimento é cada vez mais comum, impulsionado por novas gerações e crescentes demandas profissionais. Levantamento recente do LinkedIn indica que três em cada quatro trabalhadores brasileiros desejam mudar de emprego ainda em 2024. Cerca de mil profissionais participaram da pesquisa.
Em 2023, a porcentagem daqueles que cogitavam mudar de empregador era de 60%. Destes, 48% pretendiam mudar de carreira, ou seja, investir em uma nova área. Conforme especialistas ouvidos por Zero Hora, um dos principais pontos para quem pretende fazer essa transição é a importância da qualificação. Cursos de pós-graduação, como especialização e MBA (sigla para Master Business Administration), ou mestrado profissional, podem auxiliar.
— É um momento para agir com estratégia. A pessoa precisa olhar para si e para o mercado de trabalho, e aí entra a pós-graduação. No curso, o profissional poderá expandir seu conhecimento de mercado, conhecer professores atualizados e ampliar sua rede de networking — explica a psicóloga e diretora de Capacitação da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-RS), Gabriela Zambrano Ávila.
Segundo Gabriela, tem se destacado a Tecnologia da Informação, uma área com alta demanda, para a qual muitos profissionais buscam migrar. Segundo a psicóloga, hoje há maior velocidade no processo de transição de carreira, em função do amplo acesso ao conhecimento, com uma diversidade de cursos e formações disponíveis em diferentes formatos, bem como flexibilidade das carreiras.
Conforme o professor João Zani, do Mestrado Profissional em Gestão e Negócios da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), tanto cursos lato sensu quanto os stricto sensu – mestrado e doutorado acadêmico – garantem maior potencial de empregabilidade e de remuneração:
Os cursos de pós-graduação dão suporte de conhecimento técnico e desenvolvem habilidades importantes no âmbito profissional. Isso acaba sendo um diferencial para quem busca reposicionamento no mercado de trabalho.
JOÃO ZANI
Professor do Mestrado Profissional em Gestão e Negócios da Unisinos
Não existe momento certo
Gabriela destaca que não há momento certo para realizar a transição – deve acontecer no tempo da pessoa, quando ela sentir a necessidade, desde que esteja ciente das chances e dos riscos da área na qual pretende ingressar. É o caso da economista Dirlene Silva, que sabia que precisava planejar cada etapa para sua transição ser bem-sucedida.
Com 30 anos de carreira na área financeira, ela passou por cargos executivos e acumulou experiências valiosas. Mas, na pandemia, foi desligada de sua empresa diante do cenário de crise, após 10 anos na organização. Segundo ela, a demissão serviu como impulso para ir atrás de um sonho antigo: ter seu próprio negócio.
— Eu tinha muito medo de empreender. Eu sou a primeira na minha família a ter Ensino Fundamental completo. Não tenho referências próximas para abordar isso, sempre me senti sozinha nas minhas decisões. Então, fui buscar referências fora. Foi nesse momento de networking que entendi que era possível, e comecei a colocar em prática aprendizados de cursos e formações que fiz ao longo da vida — relata Dirlene, que é mestre em Gestão e Negócios.
Filha de mãe gari, a economista de 50 anos conta que enxerga a educação como ferramenta de transformação, e leva esse propósito em seu empreendimento. Hoje, ela atua na área de estratégia e inteligência financeira, prestando serviços de educação, palestras e treinamentos, com o intuito de desmistificar economia e finanças.
Mudanças impulsionadas pela tecnologia
Dados do Fórum Econômico Mundial apontam que cerca de 23% das ocupações devem se modificar até 2027, muitas delas por conta da adoção de novas tecnologias que podem vir a substituir processos e eliminar postos de trabalho. Segundo a professora Maura Corcini Lopes, diretora de pesquisa, pós-graduação e inovação da Unisinos, esse processo já está contribuindo para o crescimento da busca por transição de carreira.
Há muitos casos de profissionais que já estão no mercado de trabalho e começam a perceber que sua carreira já não tem mais futuro, talvez porque a inteligência artificial ou outra tecnologia tenha indicado uma descontinuidade da carreira que foi escolhida inicialmente. Por isso, também é fundamental que os profissionais tenham domínio da tecnologia, além dos conhecimentos específicos da área. Isso vale para todas as profissões.
MAURA CORCINI LOPES
diretora de pesquisa, pós-graduação e inovação da Unisinos
Foi o que aconteceu com o estrategista de dados Dirceu Corrêa Junior, 46 anos, CEO da startup Postmetria, focada em inteligência de mercado. Graduado em Relações Públicas pela Unisinos, o gaúcho atuou por 16 anos na área de pesquisa na Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC). Com o desenvolvimento acelerado dos formatos de big data e suas potencialidades, ele percebeu que o mercado em que atuava seria abalado por essas inovações.
Com isso, decidiu agir – um dos primeiros passos foi cursar o Mestrado Profissional em Gestão e Negócios da Unisinos, que concluiu em 2018. Em meio à trajetória acadêmica, ele descobriu novos métodos de análise de dados e começou a planejar seu negócio. Hoje, o empreendimento é sua forma de sustento, com clientes e colaboradores de todo país.
— O mestrado me deu subsídios para tomar decisões com mais assertividade. Os processos de gestão mostram que para empreender nessa área é necessário ter planejamento, identificação de foco, de mercado. Para mim, pensar em transição de carreira é como se fosse um projeto, eu fui desenvolvendo esse projeto — conta.