O número de estudantes com mais de 40 anos nas universidades tem crescido expressivamente nos últimos anos, conforme o Censo da Educação Superior, do Ministério da Educação (MEC). Em 10 anos, a quantidade de estudantes nessa faixa etária nas graduações cresceu mais que o dobro.
No Rio Grande do Sul (RS), as matrículas tiveram salto de 135% nesse período no Ensino Superior. O número passou de 37,6 mil em 2012 para 88,7 mil em 2022. No Brasil, no mesmo período, foi um salto de 109% no número de matrículas. Os matriculados desta faixa etária passaram de 648 mil, em 2012, para 1,3 milhão, em 2022.
Muitos estão em cursos de graduação híbridos ou remotos – seja pela comodidade, seja para conciliar com outros afazeres, como trabalho e cuidado com a família.
É o caso da profissional de Educação Física Gabriela Frohlich, 49 anos. Com alguns anos no mercado de trabalho e formada desde 1995, ela chegou a cursar pós-graduações, mas sempre teve o desejo de fazer uma segunda graduação. Ela decidiu ingressar no curso de Fisioterapia em 2021, durante a pandemia, após começar a trabalhar com reabilitação. Ela conta que a rotina é agitada, mas vale a pena:
— Eu acordo, levo meu pequeno para o colégio, trabalho, almoço, vou para a faculdade em São Leopoldo, atendo na clínica, como estou fazendo estágio, volto e pego meu filho na escola, ele faz turno integral. Depois, ainda tem as atividades online do curso, muitas vezes, exercícios e trabalhos para fazer — conta a aluna do penúltimo semestre do curso na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).
Gabriela diz que tem muitos colegas com perfil semelhante, da mesma faixa etária, que equilibram os estudos com a rotina de trabalho. As áreas de Saúde e Bem-Estar, Educação e Negócios, Administração e Direito são as que mais concentram alunos acima dos 40 anos no RS, segundo o levantamento, que é baseado em dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Somente em cursos da Saúde foram contabilizadas 15,7 mil matrículas em 2022, e outras 28 mil na área de Negócios. No entanto, essa faixa etária segue sendo minoria no universo de alunos em cursos de graduação.
Em 2022, eles representavam 14% das matrículas – eram 1,3 milhão dos 9,4 milhões de estudantes no Ensino Superior no país. Os 88,7 mil estudantes acima dos 40 anos matriculados nas universidades do RS em 2022 representam 15,4% das 575,8 mil matrículas naquele ano.
Rompendo estigmas
Para a psicóloga e docente Eliana Sardi Bortolon, conselheira do Conselho Regional de Psicologia do RS, ainda existe um estigma na sociedade em relação a pessoas maduras no Ensino Superior, mesmo antes da terceira idade, mas esse preconceito precisa ser desconstruído:
— Os cursos estão discutindo isso e se preparando pra receber alunos de todas as idades. É uma pena que ainda existam pessoas que não conseguem admitir as diferenças. Faz bem para a saúde mental a gente manter a mente ativa, seguir estudando e principalmente seguir tendo trocas com pessoas, as relações humanas.
Segundo a professora Tatiana Rocha, gerente acadêmica de Graduação da Unisinos, o desejo de complementar a formação, de se qualificar no mercado de trabalho ou realizar uma transição de carreira são os principais motivos que levam esse público a buscar o Ensino Superior. Com as facilidades trazidas pelas modalidades a distância e híbrida, possibilidades se abriram e esse movimento se intensificou.
— As diferenças geracionais em sala de aula fazem bem para todo mundo, inclusive para os professores. Quando falamos de educação superior, não se trata só do ensino técnico, mas também de formação do ser humano. Essa possibilidade de interagir com pessoas de diferentes idades só enriquece as discussões — destaca.
Incentivo
Para a acadêmica de Enfermagem, Kátia Assumpção, 52 anos, chegar ao final da graduação nessa faixa etária é uma conquista que merece ser celebrada, e que serve como estímulo para outras pessoas maduras que queiram voltar a estudar.
Não importa a idade que a gente tenha, a gente continua aprendendo e amadurecendo todos os dias. Para mim é muito gratificante estar aqui. Eu aprendo muito com meus colegas mais jovens, tenho um carinho especial por eles.
KÁTIA ASSUMPÇÃO
acadêmica de Enfermagem
A carioca mora em Canoas desde 2021, quando ingressou no curso na Unisinos. Ela tinha iniciado a trajetória acadêmica em outra instituição, em outro Estado, e já está no 8º semestre. Após muitas mudanças de cidade e de rotina, ela e sua família se instalaram no RS e foi possível levar adiante o sonho de se tornar enfermeira e atuar em Atenção Primária à Saúde.
Formada em Análise de Sistemas desde 2009, Kátia trabalhou por alguns anos e depois passou a ser dona de casa, cuidando dos dois filhos. Agora, com os meninos crescidos e com mais tempo para se dedicar aos estudos, ela ocupa boa parte de sua rotina na faculdade. Ela diz que tem dificuldades, mas que essa etapa é como um recomeço.
— Já sou uma mulher madura, na menopausa, então, tenho várias questões que me exigem mais esforço na parte cognitiva, para ter concentração, memória. Essa fase mexe muito com a mulher. Eu tenho que me superar todos os dias. Mas vou chegar lá — celebra.
*Colaborou Beatriz Coan