Uma grande aula aberta no Estádio Beira-Rio, em Porto Alegre, para inspirar 10 mil alunos convidados do Ensino Médio da rede pública a utilizar a educação como principal ferramenta para alcançar seus objetivos. Esse foi o objetivo do evento Crie o Impossível, promovido pela ONG Embaixadores da Educação, realizado na manhã desta quinta-feira (21).
Personalidades como Lorena Improta, Rafael Sóbis, Thaynara OG, Lucas Leiva, Kelly Baptista, entre outros, compartilharam experiências e adversidades que enfrentaram em suas trajetórias para motivar os jovens. O evento foi transmitido e exibido em diversas escolas pelo país.
O tom do evento foi de incentivo aos jovens a não desistir dos estudos e da vida, bem como a sonhar alto em relação ao futuro. Estudantes de mais de 60 escolas – as mais atingidas pela enchente – de todo o RS participaram com entusiasmo, e aproveitaram para garantir fotos com seus ídolos.
Estudantes de institutos, universidades e programas de educação também subiram ao palco para compartilhar suas jornadas e as dificuldades que enfrentaram para chegar ali. Relatos de alunos diretamente impactados pela ONG também foram exibidos. A “aula” contou ainda com DJ e uma tirolesa que atravessava o estádio.
Depois de uma chegada triunfal – descendo de rapel –, Léo Farah, capitão da reserva do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, que atuou em grandes desastres como Brumadinho, lembrou aos jovens que momentos difíceis acontecem e a dor é inevitável, mas a desistência é opcional. Cada um é o super-herói da própria história – e quanto mais difíceis os problemas, mais incrível a superação será, disse.
— Pelo fato de a gente ter passado por várias situações, a gente pode levar um pouquinho de palavra de esperança para eles que isso vai passar. Que não é fácil, que é difícil, que vai ter momentos que a gente pensa em desistir, em jogar tudo para o alto, mas que todos nós saímos mais fortes depois de tragédias. E o que precisa? Realmente acreditar no ser humano, na pessoa do lado, nos nossos amigos, nas famílias — relatou a Zero Hora.
O que mais chamou sua atenção no desastre do RS, diferentemente de outros lugares do Brasil e do mundo, foi o senso de cooperativismo, ajuda e coletividade do gaúcho – algo que considerou “fenomenal”:
— É algo que nunca vi na minha vida, e eu acredito de verdade que, por esse senso de coletividade, pela força que vocês têm, é que vocês conseguiram se recuperar de uma maneira que ninguém imaginava. Talvez, se esse desastre tivesse acontecido em outros locais do país, as consequências seriam muito piores, mas pelo fato de cada um entender a importância de cada indivíduo fazer a sua parte para que o mundo ganhe, é algo que eu acredito que só o gaúcho mesmo tem essa capacidade.
Representatividade
Dançarina e influencer gaúcha, Ramana Borba ficou emocionada em subir ao palco do evento após tudo o que aconteceu no Estado. A influenciadora compartilhou com os alunos o que queria que a Ramana do Ensino Médio soubesse.
— Estar aqui é um momento muito importante para mim, como gaúcha, como estudante de escola pública também, e estar ali no palco é mais importante ainda, porque quando eu era mais nova, acho que faltava essa representatividade. Então, hoje em dia, imaginar que as meninas podem se sentir inspiradas por mim, e sair daqui tendo a opção de sonhar, vendo que é possível, é algo que mexe muito comigo — afirmou à reportagem.
Foi justamente o que aconteceu com a estudante da 3ª série do Ensino Médio, Ester Martins Machado, 18 anos, de Água Santa, no norte do Estado, que tem o sonho de cursar Psicologia.
— Eu estou muito feliz pelas influências negras que estão aqui. Acho que o fato de eles inspirarem a gente para o futuro e nos contar que a gente pode ter oportunidade mesmo tendo poucas condições é bem importante e faz muita diferença. Eu acredito que o que a Ramana falou foi muito interessante, que mesmo que as pessoas não acreditem na gente, que a gente possa ter um futuro, o importante é a gente acreditar e não desistir, porque sempre vai ter comentários negativos.
A escola partiu à meia-noite para o evento e chegou às 6h. Ester considerou a iniciativa interessante:
— Eu acredito que para os jovens, inclusive os de baixa renda, de escola pública, de periferia e de cidades pequenas como a minha, é muito importante saber que tem pessoas que estavam nas mesmas situações que a gente e conseguiram ter um futuro bom. Inspira.
“Se um aluno não desistir de ir para a escola, já valeu a pena”
Em sua 5ª edição, o Crie o Impossível seria realizado inicialmente em São Paulo. Mas, como a enchente atingiu diversas escolas públicas gaúchas, a ONG decidiu transferi-lo para o RS – o Estado recebeu a última edição, em 2022. CEO da ONG Embaixadores da Educação, Guilhermina de Abreu avaliou o resultado da rápida mobilização como positivo, conseguindo alcançar os recursos necessários para a realização.
— Só de ver os alunos aqui já é muito emocionante — relatou.
Em um cenário em que muitos alunos foram afetados pela enchente e de abstenção recorde no Exame Nacional do Ensino Médio no RS (Enem), a CEO acredita que o evento impactará positivamente os jovens, como as pesquisas sobre o evento têm demonstrado nas edições anteriores.
— Se um aluno não desistir de ir para a escola, ou da vida, ou de seguir em frente, por causa desse evento, já valeu a pena — salientou.
Um dos nomes mais aguardados pelos adolescentes, a dançarina e influenciadora digital Lorena Improta contou ao público que sonhava pouco quando jovem e não conseguia imaginar como seria seu futuro, o que a prejudicava. Na faculdade, sua família acabou enfrentando problemas financeiros, e a publicitária somente conseguiu concluir o curso graças ao esforço de conquistar uma bolsa de estudos por mérito acadêmico – e o que parecia impossível permitiu que ela se formasse e transformou sua vida.
Embora tenham passado por um trauma, Lorena acredita que o que fará a diferença na vida dos estudantes gaúchos é não desistir dos estudos:
— Acho que eu consegui trazer a importância do estudo na minha vida, o quanto foi importante não desistir, eu quis passar isso para eles, porque, às vezes, a gente passa por algumas dificuldades e acha que ali é o fim, e para mim era só um impulso, era uma carga a mais para eu não desistir. Eu tenho mais noção do quanto isso foi importante para me tornar a empresária que sou hoje. A gente sempre vai encontrar empecilhos no meio do caminho, mas o importante é seguir em frente — ressaltou.
Exemplos do esporte
Para inspirar os jovens, os dois maiores adversários do Estado se uniram: Grêmio e Internacional. Rafael Sóbis, empreendedor e ex-jogador do Inter, classificou o movimento como “maravilhoso”. Em sua fala, o jogador buscou transmitir esperança e frisou a importância de os jovens contarem com uma rede de apoio.
— Vamos levar palavras de confiança e fazer com que esses meninos, principalmente, não deixem de estudar, porque é muito importante — afirmou à reportagem.
Lucas Leiva, empreendedor e ex-jogador do Grêmio, lembrou que, mesmo com os empecilhos da agenda, os jogadores nunca deixaram de estudar – mensagem que buscou transmitir aos estudantes. Os dois jogadores relataram que tiveram de estudar e aprender outras línguas e culturas para exercer a profissão em outros países, o que ampliou o conhecimento e abriu muitas portas.
— O impossível está na nossa cabeça, e eu acho que é um recomeço para todo mundo que foi atingido, e esses jovens agora precisam entender que o recomeço faz parte, e são vários ciclos, que eles vão ter vários recomeços durante a vida. Podendo compartilhar um pouquinho da nossa história, a gente espera poder impactar de alguma forma. O adulto de sucesso vai muito da juventude que você cria — destacou.
O Grupo RBS, parceiro da primeira edição gaúcha do Crie O Impossível, em 2022, segue como apoiador da iniciativa.