Fabricado desde 2019 por uma empresa gaúcha, o kit GoGo Board tem tornado viável que escolas públicas do RS ampliem o ensino de robótica entre seus alunos. O motivo é o preço – o valor, que gira em torno de R$ 700, é até 10 vezes mais baixo do que o produto feito pela Lego, tradicionalmente utilizado por instituições de ensino.
Com oito sensores e placa que permite conectar o equipamento ao computador, para programar robôs, o GoGo Board foi criado por Arnan Sipitakiat e Paulo Blikstein, este último gaúcho. Em 2019, equipes do Serviço Social da Indústria no Rio Grande do Sul (Sesi-RS), que já pretendia investir em robótica nas suas escolas, pediram à empresa Novus Produtos Eletrônicos para fabricas os kits utilizando o protótipo dos pesquisadores.
— Eles tinham a demanda e necessitavam da fabricação do hardware. Quando nós fizemos o hardware, nos limitamos a fornecer os equipamentos necessários para que os professores capacitados pelo Sesi-RS desenvolvam os experimentos — relata o diretor-geral da Novus, Marcos Dillenburg.
Apesar de a iniciativa ser encabeçada pelo Sesi-RS e ser aproveitada em todas as escolas da rede, outros municípios têm adquirido os kits, a fim de incorporar a robótica em suas atividades em sala de aula. Para estes, a orientação é passar pela capacitação dos profissionais do Instituto Sesi de Formação de Professores, inaugurado no mês passado no Centro de Porto Alegre. Foi o que fez a prefeitura de Westfália, no Vale do Taquari. A professora Kássia Trapp, da Escola Municipal de Ensino Fundamental Vila Schmidt, era uma das participantes do curso ministrado na última quinta-feira (1º).
— Está sendo a minha primeira experiência com robótica, comigo manejando. Está sendo muito enriquecedor. Para mim, como professora de Ciências, é um leque de possibilidades que se abre. Lá na escola, temos uma horta, por exemplo, na qual podemos aproveitar sensores para identificar como está a umidade do solo — cita Kássia.
A docente revela que, antes de fazer a formação, a robótica parecia muito difícil – os kits já tinham sido adquiridos pela prefeitura no ano passado, mas eram pouco usados, porque a maioria dos professores não se arriscava.
Se, para a rede municipal de Westfália, o GoGo Board é novidade, para os professores e estudantes da Escola Sesi de Ensino Médio Albino Marques Gomes, em Gravataí, na Região Metropolitana, o uso dos kits é constante e disseminado em diferentes disciplinas. Thiago Neves, 17 anos, está na 3ª série do Ensino Médio da instituição de ensino e domina – e adora – os mecanismos.
— A robótica deveria ser algo comum em todas as escolas, porque é algo muito importante. Ela envolve matérias que se conectam totalmente, e tu vai levar isso para a tua vida. A gente aprende a resolver problemas diversos usando a robótica — resume Thiago.
Na 1ª série do Ensino Médio, a turma de Thiago teve suas primeiras noções de robótica com kits da Lego, que vêm com manuais e são mais intuitivos, para projetos nas aulas de Matemática. No ano seguinte, os alunos foram apresentados ao GoGo Board e tiveram o desafio de aplicar o aprendizado na área de Ciências da Natureza. Equipes desenvolveram desde robôs-girassóis que se moviam em direção à luz, até robôs representando plantas carnívoras, que reagiam a movimentos próximos a eles.
— Como são kits muito diversos, com muitos componentes e sensores, é possível ter um pensamento muito abrangente. Hoje, já é muito natural olhar para a sala de aula e pensar no que a gente consegue aplicar a robótica. No começo, tu pensa que aquilo não é pra ti, mas, quando tenta entender, fica tudo claro e tu fica realizado — conta o adolescente.
Laura Saraiva, 17 anos, é colega de Thiago na Escola Sesi Gravataí, e pretende fazer da robótica uma inspiração para a sua futura profissão.
— Pretendo cursar Engenharia Mecânica, mas, caso isso não aconteça, com certeza será algo relacionado a tecnologia. Sou apaixonada por isso. A robótica te abraça, não fica aquela coisa chata de sala de aula — comenta a jovem.
A estudante também ressalta o aprendizado trazido no processo de trabalho em grupo existente nos projetos de robótica e tantos outros das escolas do Sesi-RS.
— Temos que entender que não é só a nossa opinião que vale, mas também a nos posicionar, porque, se não, a nossa ideia não vai ser ouvida. A robótica te ensina que tu não vai ser bom em todas as áreas: tu pode ser bom em programação e não em gerir uma equipe. Então, tem que trabalhar em grupo, para que aquilo tudo funcione em unidade — pontua Laura.
No caso dela, a adolescente identificou que vai bem na área da comunicação, ao apresentar os projetos, e também em liderança, o que considera que “não é mandar”, mas, sim, ser uma referência para todos crescerem juntos”:
— Às vezes eu dou o primeiro passo, e nem sempre é o correto, às vezes eu erro. Mas também aprendo e abro caminhos para outras pessoas que talvez sejam mais tímidas terem voz.
Conforme o diretor-geral da Novus, o GoGo Board é mais do que um kit de robótica: é um kit de ciências, pois possui uma série de sensores que podem ser usados em experimentos desde a medição de temperatura, até a qualidade da água e a umidade do solo. A perspectiva de que mais crianças e adolescentes desenvolvessem esses conhecimentos científicos animou a empresa, que não costuma trabalhar com produtos educacionais – seu mercado é voltado para indústrias – e, ainda assim, aceitou produzir os equipamentos com uma margem mínima de lucro.
— Topamos em prol da causa. Faltam profissionais de ciência, de tecnologia. Então, se a gente ajudar lá na origem o estudante a ter gosto pela ciência, lá adiante ele vai ser importante para o país e até mesmo para nós, que, muitas vezes, temos dificuldade de encontrar profissionais capacitados — analisa Dillenburg.
Para mais informações sobre o Instituto Sesi de Formação de Professores, clique aqui. Já as informações sobre o GoGo Board estão aqui.