Estudo elaborado pelo Instituto Semesp, centro de inteligência analítica da entidade que representa mantenedoras de Ensino Superior do Brasil, aponta que o déficit de professores em todas as etapas da Educação Básica pode chegar a 235 mil em 2040. O levantamento foi apresentado no 24º Fórum Nacional do Ensino Superior Particular Brasileiro (FNESP), na manhã desta quinta-feira (29).
Entre os motivos que estão afastando os jovens da carreira de professor, segundo a pesquisa Risco de "apagão" de professores no Brasil, está o processo de precarização, como a falta de reconhecimento e a baixa remuneração. Outras situações apontadas são a violência em sala de aula, problemas de saúde e condições de trabalho precárias - como falta de equipamentos e materiais de apoio - e falta de infraestrutura adequada nas escolas.
O estudo explicou como chegou ao número possível de déficit de professores daqui a 18 anos: considerando a taxa atual de 20,3 pessoas com idade entre três e 17 anos para cada docente em exercício na Educação Básica, em 2040, serão necessários 1,97 milhão de professores para atender a demanda de alunos na mesma proporção de hoje. No entanto, mantendo as mesmas taxas de crescimento de 2021, estima-se que o número de professores diminuirá 20,7% até 2040. A pesquisa mostra que professores em atividade nesse ano serão 1,74 milhão. Logo, considerando a demanda e a oferta, o déficit de docentes na Educação Básica em 2040 pode chegar a 235 mil.
Conforme o levantamento, entre 2010 e 2020, o número de novos alunos em licenciaturas foi inferior ao crescimento registrado nos demais cursos. Enquanto a quantidade de calouros em licenciaturas cresceu 53,8% na última década, nos demais cursos o aumento foi de 76%. Além disso, na última década, houve queda de 9,8% em ingressantes com até 29 anos nos cursos de licenciatura, passando de 62,8% em 2010, para 53,0%, em 2020.
Outro dado relatado está relacionado ao estudo a distância (EAD) no Brasil. Desde 2016, o número de ingressos em cursos EAD tem sido maior do que em cursos presenciais de licenciatura. Na última década, enquanto a quantidade de alunos presenciais reduziu em 37,6%, em EAD subiu 73,2% no mesmo período. O estudo indicou, porém, que ingressar não é sinônimo de concluir o Ensino Superior. O índice de evasão nos cursos de licenciatura em EAD também é considerado alto: em média, um a cada três alunos ingressantes não termina a graduação.
Um dado curioso é que o aumento de calouros com mais de 29 anos em licenciaturas foi de 94%.
— Esse crescimento se dá, em sua maioria, por pessoas que já trabalham na educação. Isso acontece em razão da lei que obriga o professor em exercício a ter formação mínima na área de Pedagogia ou em licenciaturas para o Magistério na Educação Básica — explica a presidente do Semesp, Lúcia Teixeira.
Outro dado importante está relacionado à área do conhecimento na qual esse docente pretende atuar. Entre 2016 e 2020, o curso de licenciatura com maior número de concluintes foi Pedagogia (136.033 formados). Já o curso de formação de professor em educação especial foi o que apresentou maior aumento percentual nesse período, passando de 125 concluintes em 2016 para 2.104 em 2020 (aumento de 1.583,2%). A defasagem maior se concentrou em cursos como Biologia (-21%), Química (-12,8%), Educação Física (-11,7%) e Letras (-10,1%).
O estudo também indicou o envelhecimento do corpo docente nos últimos anos, com destaque para o número crescente de profissionais prestes a deixar o cargo. Além do desinteresse dos jovens em ingressar em licenciatura, o número de professores jovens em início de carreira (com até 24 anos) caiu quase pela metade (42,4%) de 2009 a 2021, passando de 116 mil para 67 mil professores com até 24 anos. Enquanto o número de professores com 50 anos ou mais e, possivelmente na iminência de se aposentar nos próximos anos, tem aumentado significativamente, chegando a subir 109% no mesmo período.
— Com base nessa pesquisa, fica claro que o principal problema do Brasil não está relacionado à formação de docentes na modalidade EAD porque os dados mostram que na verdade não estamos formando novos professores. Os jovens não demonstram interesse pela carreira de professor — reforçou o diretor executivo do Semesp, Rodrigo Capelato.