Eles achavam que era apenas mais uma palestra sobre educação, mas se surpreenderam com o Crie o Impossível, destinado a incentivar alunos do Ensino Médio de escolas públicas a correrem atrás de seus sonhos. Ouviram histórias de vida parecidas com as deles: jovens que tinham mais dificuldades do que oportunidades para estudar e, ainda assim, conseguiram ter sucesso na carreira.
Camili Rodrigues Lyrio, 19 anos, de São Borja, Gustavo Berg, 17 anos, de Três Cachoeiras, e Yasmin Rafaela Santos Aguirre, 18 anos, de Imbé, participaram da terceira edição do evento, em 2020, que foi totalmente online por causa da pandemia. Cada um a seu modo, assistiram ao que se define como a "maior aula aberta da América Latina".
Ganharam inspiração com personalidades que também foram estudantes da rede pública e motivação suficiente para apresentarem projetos no Empower, etapa na qual a Ong Embaixadores da Educação, que está por trás do Crie o Impossível, estimula os alunos a pensarem em soluções para problemas da comunidade.
Reconhecidos por suas ideias, os três jovens gaúchos conseguiram bolsas para estudar e hoje vislumbram um futuro melhor. Estarão no Beira-Rio, em Porto Alegre, no próximo dia 3 de junho, assistindo de perto à quarta edição do evento, que será transmitido para estudantes e escolas de todo o Brasil.
Camili, 19 anos, de São Borja
Foi uma professora da Escola Estadual de Ensino Médio Apparicio Silva Rillo, em São Borja, que incentivou a turma do 3° ano a se inscrever no Crie o Impossível. Camili Rodrigues Lyrio participou do evento mesmo sem internet em casa — conectou o celular no wi-fi da vizinha e acompanhou a transmissão em que diversas personalidades contaram sobre suas trajetórias.
Assistiu às quatro horas de palestras sentada na cama, com o móvel encostado na parede, que era o único ponto da casa onde o sinal da internet emprestada era bom.
A fala de que mais gostou foi a de Thelma Assis que, naquele ano de 2020, saíra vencedora do Big Brother Brasil. Ficou motivada com a história da médica negra que se formou em Medicina com bolsa em uma universidade particular.
— Eu gostei muito da história da Thelma, por ela ter passado por problemas parecidos com os meus. Ela falou uma frase sobre ser forte e não desistir, apesar das dificuldades — lembra Camili.
A estudante também se inscreveu no Empower, onde sugeriu uma proposta para diminuir a evasão escolar durante a pandemia, chamada Segure Minha Mão. Consistia em uma gincana com atividades online para os alunos, estimulando a participação nas aulas, além de uma coleta de cestas básicas para distribuir a famílias em situação de vulnerabilidade.
No meio da criação do projeto, no entanto, o celular que usava para estudar estragou. Camili só conseguiu dar sequência à sua participação no Empower quando a professora Elaine Aparecida Flores lhe deu um notebook.
— Assim, eu consegui chegar à final do desafio. Até hoje uso o computador que ela me deu — diz.
Camili teve seu projeto aprovado na banca final do Empower e ganhou uma bolsa integral para estudar à distância na Faculdade Arnaldo, de Belo Horizonte. Optou por Administração.
Como passou a gostar de se envolver com problemas sociais, também se matriculou na faculdade de Ciências Sociais e Ciência Política da Universidade Federal do Pampa (Unipampa). Hoje, toca as duas graduações ao mesmo tempo. Virou aluna destaque do Crie o Impossível e não tem dúvida da importância do evento na sua vida, assim como o ensino. Acredita que outros estudantes também podem se beneficiar.
— Aproveitem as oportunidades que forem lançadas. Escutem as histórias dos palestrantes, se inspirem, como eu fiz. E não desistam do desafio Empower, mesmo sendo difícil — incentiva.
Gustavo, 17 anos, de Três Cachoeiras
Ainda que fosse difícil sair da zona rural para ir à escola no centro de Três Cachoeiras, Gustavo Berg preferia pegar o ônibus e percorrer 20 quilômetros a ficar estudando em casa, como aconteceu ao longo de 2020, por causa da pandemia. Entediado com o isolamento, ganhou ânimo quando assistiu às palestras do Crie o Impossível. Não pensava que o evento fosse, de fato, lhe dar inspiração.
— Eu pensei: vai ser mais uma palestra sobre educação. Mas superou minhas expectativas. Foi incrível, jovem. Teve música, teve dança, luz, prendeu minha atenção. Ao mesmo tempo, me fez querer ir atrás de novos desafios — lembra.
O tédio sumiu de vez quando se inscreveu no Empower, onde apresentou uma proposta para diminuir a fome entre a comunidade escolar. Tinha percebido que muitos estudantes do Instituto Estadual de Educação Maria Angelina Maggi, onde está matriculado, tinham no lanche uma das principais refeições do dia — com as escolas fechadas, acabavam comendo menos.
Conseguiu arrecadar alimentos e distribuir cestas básicas para algumas famílias, o que lhe deu satisfação.
— Uma senhora que foi beneficiada com uma cesta me deu um abraço muito apertado. Aquilo valeu a pena. A sensação de dever cumprido é incrível — diz.
Seu projeto foi aprovado entre os avaliadores do Empower e Gustavo ganhou uma bolsa para estudar inglês na Global Amazon, escola destinada a ensinar brasileiros a falarem o idioma fluentemente.
Filho de uma artesã e de um caminhoneiro, Gustavo nunca tinha feito um curso de idiomas — só havia aprendido breves noções de inglês na escola. Hoje, tem duas aulas por semana, pela internet, em uma turma online com brasileiros de várias partes do país.
Ainda falta um ano para finalizar o curso, mas o estudante já sonha mais alto.
— Agora, se um gringo vem falar comigo, consigo me virar. Se Deus quiser, daqui um ano, dois, no máximo, vou fazer intercâmbio. Talvez eu vá para o Canadá — projeta.
Yasmin, 18 anos, de Imbé
Antes mesmo de a Escola Estadual de Ensino Médio 9 de Maio, em Imbé, convidar os estudantes a participarem do Crie o Impossível, Yasmin Rafaela Santos Aguirre já tinha se inscrito para assistir ao evento. Viu a divulgação no Instagram e pensou que poderia ser interessante para diversificar a rotina, exclusivamente restrita, em 2020, às aulas remotas.
Queria se envolver com alguma coisa, sentir-se útil. Ficou admirada com a palestra de uma das fundadores da Ong Embaixadores da Educação, a Polyane Costa, que apresentou o evento.
— Achei a história dela inspiradora. Ela veio de escola pública também, assim como eu. A criatividade dela e a vontade para mudar a sociedade são incríveis — diz.
No Empower, Yasmin criou um projeto para combater o bullying na escola, chamado Conhecimento É Poder. Fez vários conteúdos no Instagram para esclarecer sobre a prática. Também foi beneficiada com uma bolsa de estudos para fazer uma graduação a distância na Faculdade Arnaldo, em Belo Horizonte, e escolheu o curso de Marketing.
Hoje, aproveita o salário de vendedora em uma livraria de Imbé para pagar uma disciplina de Direito, na Unisinos. Faz os dois cursos ao mesmo tempo e, se já se sentiu inútil, hoje está completamente envolvida com seu futuro.
— O Crie o Impossível foi a coisa que mudou completamente minha trajetória no Ensino Médio. Não fosse isso, eu seria acomodada e teria medo de falar o que penso, de colocar em prática meus conhecimentos — diz.
Crie o Impossível 2022
- Data: 3/6/2022
- Horário: 8h às 12h
- Local: Estádio Beira-Rio, em Porto Alegre
- Público-alvo: estudantes da rede pública do Ensino Médio
- Como se inscrever para assistir à transmissão virtual: inscrições disponíveis neste link.