Durante seis meses, voluntários do projeto de extensão Reconecta UFRGS trabalharam sem medir esforços para arrecadar doações de computadores, consertá-los e, em seguida, destiná-los a estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Neste período, foram realizados cinco sorteios, que contemplaram 270 alunos beneficiários de auxílio da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Prae) com desktops e notebooks.
A iniciativa foi criada em julho de 2020 com o objetivo de ajudar estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) que não tinham equipamento para acompanhar o Ensino Remoto Emergencial (ERE), implementado pela instituição em agosto devido à pandemia de coronavírus.
Professor do Instituto de Informática e coordenador do Reconecta, Renato Ribas explica que a ideia surgiu a partir de outro projeto que a universidade realiza com o Parque Científico e Tecnológico Zenit, em parceria com a ONG NCC Belém e com financiamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).
— Quando paramos na pandemia, vimos que poderíamos fazer algo dentro da UFRGS, mas sem utilizar equipamentos do patrimônio da universidade. Então, a nossa primeira dúvida foi se teríamos doações, e ela desapareceu em uma semana. A resposta da comunidade foi impressionante, e certamente o projeto foi muito além do que a gente imaginava — relata.
Ribas salienta que as máquinas repassadas aos contemplados não são da universidade porque o Reconecta não é um projeto institucional, e sim uma ação de extensão organizada por professores, funcionários e alunos, que foram atrás de equipamentos doados por pessoas físicas e empresas. O espaço para montar a oficina e recondicionar os computadores, no entanto, foi cedido pela UFRGS, no Instituto de Informática.
Além das doações, o projeto recebeu apoio financeiro, que foi utilizado para adquirir mouses e teclados – itens de baixo custo. Já as outras peças, como memória e HD, não precisam ser compradas, pois vêm de máquinas que não funcionavam. Segundo o coordenador, com dois computadores que não funcionam é possível deixar um pronto para uso, mas, no caso dos notebooks, esse reaproveitamento é bem menor.
— Nós recebemos de doação em torno de mil máquinas nesses seis meses de projeto e conseguimos repassar 270. O que a gente não aproveita, que é, de fato, lixo eletrônico, nós temos uma parceira que recolhe esse resíduo e faz a destinação correta em recicladoras — esclarece.
O estudante de Biblioteconomia Felipe Prestes, 26 anos, foi um dos alunos contemplados no primeiro sorteio realizado em agosto, antes do início das aulas. Ele conta que mora com a namorada, que também estuda na instituição, e que eles só tinham um notebook para acompanhar as atividades remotas, o que dificultaria o aprendizado:
— Na época, só eu estava trabalhando, então a gente não tinha condições de comprar outro computador. Eu estou com uma carga excessiva de cadeiras, e ela também, então ajudou bastante, porque o semestre ia ser muito difícil, a gente não saberia o que fazer.
Assistência após a entrega
Fora o conserto prévio do equipamento, o Reconecta oferece toda a assistência técnica caso a máquina que o aluno recebeu apresente algum problema. Para isso, o projeto possui um canal para contato direto com os contemplados pelo sorteio.
— O computador é igual a um carro, ele precisa de manutenção, ainda mais se você ganha um carro usado. Então, se dá problema, nós trocamos ou arrumamos a máquina. Para nós, não é suficiente simplesmente entregar o bem, o nosso objetivo é que realmente seja útil — afirma Ribas.
De acordo com o coordenador, todos os estudantes beneficiados pela iniciativa conseguiram usar adequadamente os equipamentos durante o semestre passado, mas, em janeiro, uma das máquinas do segundo sorteio apresentou problema:
— Nós recebemos na oficina, fizemos os ajustes que precisava e ela (a aluna) levou a máquina de volta.
Leticia Dartora, 23, foi contemplada no quinto sorteio, pouco depois do início do segundo semestre remoto da universidade. A estudante de Direito relata que vinha trabalhando e estudando em casa com um computador antigo, que já tinha problemas na tela e na bateria, quando recebeu um e-mail da UFRGS com informações sobre o Reconecta.
— Me inscrevi, mas nunca pensei que fosse ser sorteada, porque são muitas pessoas. Fiquei muito feliz porque o meu computador parou de funcionar na mesma semana (do sorteio), então, se não tivesse ganho, eu teria que me virar com o celular até conseguir comprar um novo — comenta.
Depois de pegar o equipamento, a jovem precisou entrar em contato com os voluntários do projeto, pois uma das teclas não estava funcionando. Ela mandou mensagem para o canal indicado e, em seguida, o defeito foi resolvido.
Suspensão temporária do projeto
Apesar dos bons resultados, o projeto Reconecta está temporariamente pausado. Ribas explica que a iniciativa se tornou insustentável neste momento devido à dificuldade no recebimento das doações, já que a UFRGS está fechada, o serviço depende exclusivamente do voluntariado e a maioria das pessoas opta por coleta a domicílio por conta da pandemia.
— Começamos a contar com voluntários motorizados para fazer essas coletas aos sábados, só que não temos como ressarcir o gasto com gasolina. Além disso, existe uma exposição dos voluntários ao risco de contaminação pelo coronavírus, e o ritmo de coleta dessa forma não rende — afirma.
Esses fatores, segundo o coordenador, mostraram que o projeto precisa de um outro modelo para receber as máquinas doadas. Mesmo assim, ele garante que a experiência foi um aprendizado gratificante para todos que participaram:
— Quando a gente recebe um retorno de um aluno que foi contemplado, parece que simplesmente ganhamos energia para refazer tudo de novo. É, de fato, muito gratificante ver o valor que eles (os estudantes) dão para o trabalho que foi feito.
Entretanto, Ribas ressalta que está articulando junto à reitoria da UFRGS para que a iniciativa se torne um projeto institucional da universidade, para apoiar alunos em situação de vulnerabilidade da instituição e também de fora dela.
— Não estamos enterrando o Reconecta, estamos suspendendo-o porque o modelo não é sustentável. Mostramos que é possível, entendemos onde estão a dificuldades, mas agora temos que estruturar algo institucional. E temos esperança de que no segundo semestre deste ano a UFRGS já tenha um projeto recriado — pondera.
Produção: Jhully Costa