Com a chegada do governo Jair Bolsonaro ao poder, as comunidades acadêmicas das universidades federais se depararam com uma novidade. O presidente deixou de seguir a tradição de nomear como reitor o primeiro colocado da lista tríplice definida pelos conselhos universitários e encaminhada à União. A mudança de postura afetou instituições de todo o país, inclusive, no Rio Grande do Sul.
O governo federal tem prerrogativa legal de indicar qualquer um dos nomes três nomes indicados na lista para reitor das instituições federais de ensino. Contudo, desde 2003, era nomeado e empossado como responsável pela universidade o reitor pertencente à chapa vencedora nas eleições realizadas junto à comunidade acadêmica.
Até o momento, três instituições gaúchas não tiveram suas decisões internas respeitadas por Bolsonaro: Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS).
UFPel
O caso mais recente é o da UFPel. Na madrugada desta quarta-feira (6), Isabela Andrade foi escolhida pelo presidente da República como a mandatária da instituição pelos próximos quatro anos.
A professora integrou a chapa UFPel Diversa, que venceu o pleito interno. Contudo, era Paulo Roberto Júnior – antigo chefe de gabinete do ex-reitor Pedro Hallal – o candidato a reitor. Na hora de formar a lista tríplice que seria enviada para apreciação, o Conselho Universitário optou formá-la somente com os membros da chapa vencedora, segundo eles, em respeito à decisão dos estudantes, professores e servidores.
Nesta manhã, os grupos Uma UFPel Diferente e UFPel Diversa – atual gestão e a chapa eleita, respectivamente – repudiaram a decisão do presidente da República. No comunicado, eles afirmaram que respeitar a vontade da comunidade é um pressuposto básico da democracia e ressaltaram não estarem surpresos com a nomeação, tendo em vista outros movimentos dados pelo governo federal:
"Infelizmente, em um governo federal, cujo líder faz apologia a torturadores, nega o racismo, é condenado por ofensas contra mulheres e prega a não vacinação da população, não é surpresa que sejamos golpeados em nossa democracia e autonomia."
Os grupos afirmam ainda que, nos próximos dias, irão se reunir com os organizadores das eleições internas e que uma coletiva de imprensa será realizada na quinta-feira (7), às 17h.
UFRGS
Na UFRGS, a consulta pública realizada em meados de julho na universidade havia eleito a chapa de Rui Oppermann e Jane Tutikian – que estavam em busca do segundo mandato como reitor e vice-reitora respectivamente. Porém, Bolsonaro nomeou Carlos Bulhões e Patrícia Pranke, como diretor e vice-diretora da instituição, no dia 16 de setembro para uma gestão de quatro anos.
O professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH-UFRGS) e a docente da Faculdade de Farmácia faziam parte da lista tríplice, mas foram os menos votados nas eleições, ficaram em terceiro lugar na preferência da comunidade acadêmica. No dia da posse, estudantes realizaram protesto na universidade e "twitaço".
UFFS
Até 2023, a administração da UFFS está nas mãos do reitor Marcelo Recktenvald e do vice-reitor Gismael Francisco Perin. Contudo, a chegada desta dupla ao poder também causou barulho.
No processo de consulta, Recktenvald ficou em terceiro lugar, não chegou nem a alcançar o segundo turno da disputa. No conselho da universidade, a chapa dele recebeu quatro dos 49 votos, mas não deixou de integrar a lista tríplice. Por isso, o professor acabou sendo nomeado por Bolsonaro. Na posse de Recktenvald, estudantes se mobilizaram e, aproximadamente, 200 alunos ocuparam a reitoria da instituição.
Nas redes sociais, Recktenvald se define como “cristão conservador. Defensor da família. Pastor Batista.” Além disso, afirma no Facebook que "só quero exalar o bom perfume de Cristo... e viver intensamente a loucura do evangelho".
Indefinição da Furg
Na Furg, as eleições para a nova gestão aconteceram ano passado. A lista tríplice para a gestão 2021-2025 tem Danilo Giroldo, em primeiro lugar, Renato Duro Dias em segundo, e Danúbia Espíndola em terceiro.
O documento chegou em Brasília e caberá ao presidente escolher o novo reitor ou reitora. O prazo limite para essa decisão é 16 de janeiro.
UFCSPA na espera da decisão
O pleito universitário para definir a gestão 2021-2025 da reitoria da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) elegeu, em primeiro lugar, Lucia Campos Pellanda e Jenifer Saffi e em segundo, Miriam da Costa Oliveira e Paulo Ricardo Gazzola Zen.
O resultado desta consulta feita junto à comunidade da instituição também já está em Brasília aguardando análise. O prazo final para essa decisão de Bolsonaro é 22 de março.
Unipampa
O pleito correu dentro da normalidade na Unipampa. Realizada consulta interna, os conselheiros definiram o ranking para o posto de reitor: Roberlaine Jorge, José Rojas e Ana Cristina Rodrigues. Para vice-reitor a lista foi composta por Marcus Vinicius Querol, Cláudio Albano e Rafael Vitória Schmidt. E foi exatamente este ordenamento das duas listas, que foi seguido. Jorge assumiu como reitor, enquanto Querol ficou como seu vice. A gestão da dupla é válida até 2023.
UFSM
A federal da Região Central não realizou o pleito que definirá quem será o responsável pela administração da instituição. Segundo a assessoria de imprensa da universidade, a previsão é de que, em maio, o Conselho Universitário defina as chapas que entrarão na disputa para que o pleito seja promovido no final de junho. A posse do novo grupo seria realizada em meados de dezembro de 2021