Correção: o número de professores infectados nas escolas Tartaruguinha Verde é seis, e não dois como informado entre 19h11min de 5/11 e 12h45min de 6/11. A informação já foi corrigida no texto.
Após as aulas retornarem presencialmente em Porto Alegre no início de outubro, pela Educação Infantil, os casos de coronavírus nas escolas privadas têm sido esporádicos e, no geral, adquiridos fora das instituições de ensino, segundo levantamento oficial e relatos de instituições e professores ouvidos por GZH.
Pesquisa da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) divulgada na terça-feira (3) aponta que, ao longo de outubro, escolas públicas e privadas receberam 10,4 mil alunos, 2,2 mil professores e 2,6 mil funcionários. Desse total, 521 pessoas (3,4% da comunidade escolar que retornou) foram testadas e 30 tiveram resultado positivo para covid-19: oito alunos, 16 professores e sete funcionários. Os testes foram realizados em pessoas próximas a casos confirmados de infecção comunicados às instituições.
Das 521 pessoas que foram testadas, 65,5% deram negativo, 16% não tiveram o resultado ainda, 12,5% se recusaram a testar e 6% tiveram covid-19. A recusa da coleta acontece quando a escola não tem autorização formal dos responsáveis para coleta no ambiente escolar (é possível ir para um posto de saúde fazer o teste) ou se escola ou os pais preferem manter os alunos afastados por 10 dias em vez de realizar o PCR.
Mais da metade das escolas que retornaram é privada e, dos alunos que comparecem presencialmente, 90% são da Educação Infantil, cuja faixa etária, via de regra, não tem sintomas para o novo coronavírus.
Sindicatos de escolas e de professores não têm levantamento formal de quantos casos de covid-19 já foram confirmados em instituições privadas. Informalmente, ao menos sete escolas particulares tiveram casos, segundo relatos de docentes ao Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinpro).
De acordo com Erlon Schüler, diretor da entidade, as infecções foram adquiridas fora da escola e não há surtos, até o momento.
— São casos esperados. O sindicato considera que ainda é cedo pra dizer se há surto em escolas privadas, os próximos dias é que contarão. Mas o retorno de professores pode ser prematuro, ainda mais se a escola não adotou protocolos de retorno, como limpeza periódica de equipamentos e distanciamento — diz Schüler.
O diretor do Sinpro diz ainda que há poucos casos porque a adesão é baixa na volta às aulas – os 10,4 mil estudantes que retornaram na capital gaúcha são um contingente pequeno frente aos 400 mil alunos de escolas públicas e particulares que a Secretaria Municipal da Educação (Smed) estima que haja na cidade.
Escolas particulares seguem o protocolo da prefeitura quando identificam ou são comunicadas de um caso de coronavírus por professor, aluno ou funcionário, segundo o Sindicato das Escolas de Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe).
— Claro que algum caso vai aparecer. Pais e alunos circulam em parques e shoppings no fim de semana. Mas não houve surto em nenhuma escola privada até agora. Há casos de a família ligar para a escola e dizer que alguém teve covid. Se a criança foi para a aula, a escola mapeia a possibilidade de contágio e entra em contato com as famílias dos colegas para as pessoas que tiveram contato fazerem o teste. Isso ajuda a controlar para que não haja propagação — afirma o presidente do Sinepe, Bruno Eizerik.
Claro que algum caso vai aparecer. Pais e alunos circulam em parques e shoppings no fim de semana. Mas não houve surto em nenhuma escola privada até agora
BRUNO EIZERIK
Presidente do Sinepe
Decreto da prefeitura orienta que, quando houver um caso de covid-19, é preciso testar todos os alunos e professores que entraram em contato com a pessoa infectada nos últimos dois dias, mesmo se não apresentarem sintomas.
Os testes gratuitos oferecidos pela prefeitura são por exame PCR, considerado “padrão-ouro” porque detecta a doença ainda ativa. Quando há mais de cinco pessoas a serem examinadas, a prefeitura aplica os testes diretamente na escola, seja pública ou privada.
Segundo o decreto, a escola que tiver dois casos confirmados de coronavírus deve informar a situação à prefeitura. Se os casos forem da mesma turma ou de um professor e um estudante relacionados, as aulas da classe (e não de toda a escola) precisam ser suspensas por 10 dias.
Consultoria para reduzir riscos
O Colégio Farroupilha, além de seguir as regras municipais, contratou o Hospital Moinhos de Vento para dar consultoria na elaboração das regras da instituição e reduzir riscos. A escola detectou, desde o início de outubro, casos de covid-19 em dois professores (em momentos diferentes) e dois estudantes.
Em nota, o Farroupilha explicou que foi comunicado por uma família, na última quinta-feira (29), do teste positivo de uma estudante. “No dia seguinte, a Secretaria Municipal da Saúde realizou exames RT-PCR com estudantes da turma e educadores que tiveram contato com o grupo”, diz o texto, explicando que o rastreamento identificou que um professor e um estudante haviam sido infectados.
“A partir dessas análises, houve a confirmação de um estudante e de um professor positivados. Assim, atendendo às orientações da Secretaria da Saúde, as aulas presenciais da turma foram suspensas e retornarão no dia 9 de novembro, segunda-feira”, diz o texto.
No Colégio Leonardo da Vinci, o sindicato de professores privados recebeu relatos de um caso de covid-19 de uma professora, de um estudante e de uma aluna. O Leonardo da Vinci não confirmou nem deu detalhes a GZH sobre o número de casos detectados, mas ressaltou que segue as regras do governo.
A gente tem sido rigoroso, mas alguma coisa pode vir de fora. Quando um professor testa positivo, afastamos, comunicamos os pais, e as crianças e o professor ficam em casa. Para além disso, cada turma tem um horário de recreio, assim, ninguém se mistura
NILO ORTIZ
Diretor da Escola Tartaruguinha Verde
Em nota, a instituição afirma que “tem, como prioridade, o bem-estar de todos os alunos, professores e funcionários e se preparou de forma adequada para o retorno das aulas presenciais, com todas as medidas de saúde e segurança necessárias. As medidas estão sendo tomadas diariamente para que a escola e, também, todos aqueles que fazem parte da comunidade escolar estejam com toda a segurança possível. Ressaltamos ainda que o trabalho de saúde e segurança está muito alinhado com os órgãos responsáveis”.
A Escola Tartaruguinha Verde, com cinco unidades, teve seis casos confirmados. O diretor, Nilo Ortiz, explica que a Secretaria da Saúde de Porto Alegre foi, no dia seguinte, testar todas as pessoas que tiveram contato com a professora e que as aulas da turma foram suspensas por precaução.
— A gente tem sido rigoroso, mas alguma coisa pode vir de fora. Quando um professor testa positivo, afastamos, comunicamos os pais, e as crianças e o professor ficam em casa. Para além disso, cada turma tem um horário de recreio, assim, ninguém se mistura — afirma Ortiz.
O que dizem os especialistas
As medidas da prefeitura de testar e rastrear estudantes e professores nas escolas de forma gratuita são elogiadas por analistas.
— É extremamente importante testar todos os contatantes do caso confirmado, até para fazer o monitoramento — afirma Melissa Markoski, professora de Biossegurança na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). — Oito crianças com coronavírus até agora não parece preocupante, me preocupa as crianças assintomáticas não testadas — diz a profissional, que faz parte da Rede Análise Covid-19.
A volta às aulas é uma decisão de escolher entre pelos menores riscos, opina Jair Ferreira, médico epidemiologista e professor de Epidemiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
— A medida da prefeitura (de suspender aulas da turma por 10 dias quando houver caso confirmado) é sensata, faz sentido. Pode haver contaminação de outra turma, mas é um risco pequeno. Estamos tentando equilibrar os prejuízos de haver contaminação com o risco de perder um ano inteiro letivo, o que também é um desastre. Tem que afastar a pessoa contaminada, claro. Mas, se formos parar toda a escola a cada vez que tiver um caso esporádico, fica inviável — avalia Ferreira.
O médico infectologista Ronaldo Hallal, do Comitê Covid da Sociedade Sul-Riograndense de Infectologia, reconhece que a proporção de resultados positivos nas escolas frente ao total de testes aplicados está abaixo da média registrada na cidade como um todo, mas diz que é pouco testar 500 pessoas entre as quase 15 mil que hoje frequentam o ambiente de ensino.
— A prefeitura deveria realizar testagens periódicas, não apenas provocadas por casos sintomáticos — afirma. — Ainda que a doença seja menos grave em crianças, as crianças muito pequenas, que são a maior parte daquelas que retornaram, não usam máscara e têm maior dificuldade em fazer distanciamento. Pais têm que redobrar o cuidado e evitar o contato dos filhos com pessoas de risco e idosos.