No começo da pandemia de covid-19, havia muitas dúvidas sobre a relação entre o clima e a propagação do coronavírus — temia-se, por exemplo, que o inverno aumentasse o número de infectados. Por outro lado, era esperado que as altas temperaturas do verão pudessem reduzir a disseminação da doença.
Entretanto, uma pesquisa liderada pela Universidade do Texas (UT) em Austin foi capaz de esclarecer as incertezas acerca do assunto ao descobrir, por meio de um novo estudo, que a temperatura e a umidade não desempenham nenhum efeito significativo na propagação do vírus. As informações são do portal de notícias EurekAlert!, que é operado pela American Association for the Advancement of Science (AAAS).
De acordo com a publicação, a pesquisa aponta que a transmissão do coronavírus de uma pessoa para outra "depende quase inteiramente do comportamento humano", sendo indiferente se está frio ou calor em determinado local.
— O efeito do clima é baixo e outras características, como mobilidade, têm mais impacto do que o clima. Em termos de importância relativa, o clima é um dos últimos parâmetros — afirmou Dev Niyogi, professor da Jackson School of Geosciences da UT Austin e da Cockrell School of Engineering que liderou a pesquisa.
O estudo, que tem como coautores o assistente de pesquisa na Purdue University Sajad Jamshidi, e Maryam Baniasad, candidata a doutorado na Ohio State University, definiu o clima como "temperatura do ar equivalente", que relaciona temperatura e umidade em um único valor. A partir disso, os cientistas analisaram como esse valor e o vírus se espalharam em diferentes regiões de março a julho de 2020.
As análises foram variando de Estados e condados dos Estados Unidos a países e demais localidades do mundo. Na escala de condado e Estado, os pesquisadores investigaram ainda a relação entre a infecção por coronavírus e o comportamento humano em um sentido geral, sem relacioná-lo a como o clima poderia influenciar. Também houve um cuidado para que as diferenças populacionais entre as escalas não interferissem nos resultados.
Em todas elas, foi possível identificar que o clima quase não teve influência. Na escala do condado, por exemplo, a importância relativa do clima foi inferior a 3%, sem nenhuma indicação de que um tipo específico de clima promoveu a propagação sobre outro.
No entanto, os dados analisados mostraram que o comportamento humano tem uma significativa influência na disseminação do vírus. O estudo aponta viajar e passar algum tempo fora de casa como os dois principais fatores que contribuíram para o aumento dos casos de covid-19. Os dois elementos que apareceram em seguida foram a população e a densidade urbana.
— Não devemos pensar no problema como algo impulsionado pelo tempo e pelo clima. Devemos tomar precauções pessoais, estar cientes dos fatores de exposição urbana — salientou Jamshidi.
Para Niyogi, uma das principais lições da pandemia é a importância de analisar os fenômenos na "escala humana". Segundo ele, essa pesquisa é um bom exemplo desse tipo de perspectiva.