Entre sete e 10 dias, segundo infectologistas, será possível saber se as aglomerações vistas nas praias de Santa Catarina tiveram impacto nos números da covid-19 no próprio Estado e em vizinhos, como o Rio Grande do Sul, já que milhares de gaúchos também escolheram o litoral catarinense para passar o feriadão de Finados.
Cenas de desrespeito às regras sanitárias foram verificadas em locais como as praias de Imbituba, em especial a do Rosa, e em Balneário Camboriú. Em Florianópolis, mais de 700 integrantes da Guarda Municipal, da Polícia Civil, da Polícia Militar e da Superintendência de Serviços Públicos foram envolvidas nas ações de fiscalização nas 42 praias da ilha, principalmente em Canasvieiras, Campeche, Santo Antônio e Jurerê, que apresentaram maior circulação de pessoas. Sete multas por aglomeração foram aplicadas pela Vigilância Sanitária em bares e até em cemitérios, segundo a Secretaria Municipal da Saúde.
Para a a infectologista Nicole Alberti Golin, integrante da Sociedade Riograndense de Infectologia (SRGI), é chocante, neste momento, identificar esse tipo de comportamento porque, segundo ela, o fato de as pessoas estarem ao ar livre não as exime de tomar os devidos cuidados, como o distanciamento social.
— Embora as famílias aleguem que as reuniões nas praias ocorrem entre pessoas do mesmo domicílio, sabemos que a grande parte dos grupos é de conhecidos e amigos. Mesmo sendo em área aberta, os grupos muito próximos uns dos outros têm um risco absurdo. O fato de não ser em ambiente fechado não diminui o problema porque há a questão do vento e a aglomeração foi muito grande. Aglomerações menores e em lugares fechados têm risco, assim como aglomerações maiores em ambientes abertos, ainda mais sem distanciamento mínimo de dois metros entre as pessoas — explica a infectologista. — Arrisco a dizer que nem a máscara protegeria com aquele quantitativo de pessoas tão próximas — completa.
A infectologista Lessandra Michelin, diretora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), lembra que a praia continua não sendo local para confraternização durante uma pandemia.
— É difícil usar máscara na beira da praia, mas, se quer ficar mais à vontade, tem que manter o distanciamento. As pessoas precisam entender que a proximidade com outras faz com que elas tenham chance igual de contaminação. Outro problema é que mesmo quem já teve a covid-19 corre o risco de ser reinfectado pelo vírus — alerta.
Um dos principais problemas ressaltados por Lessandra e Nicole é a volta aos locais de origem dos que estiveram nas praias de Santa Catarina neste feriado. Esse retorno poderá impactar nos números da doença já a partir do próximo final de semana, como ocorreu no feriado de 12 de outubro.
— Provavelmente, teremos uma teia de transmissão do vírus muito mais abrangente porque uma pessoa de cada município que retorne infectada começará o efeito dominó. Estamos baixando a guarda num momento que não seria recomendável. Quando vai dar para voltar ao normal? Ninguém tem resposta. Estamos num momento melhor, mas só continuaremos assim se as pessoas cumprirem as recomendações mínimas, que não deixaram de ser veiculadas — desabafa a médica.
Internações em alta
Na sexta-feira (30), o Ministério Público catarinense recomendou aos prefeitos das cidades litorâneas maior rigor nas ações de fiscalização no combate ao novo coronavírus. Na Grande Florianópolis, o número de internações nas UTIs por covid-19 quase triplicou em um mês, saltando de 24 internados em 1º de outubro para 65 nesta terça-feira (3), levando à ocupação de 76,68% dos leitos. Na semana passada, com a curva de casos do coronavírus em ascensão, os hospitais da Grande Florianópolis ficaram lotados e os pacientes tiveram dificuldades para encontrar leitos vagos.
Nesta terça, a reportagem tentou contato com as prefeituras de Garopaba, Imbituba, Palhoça, Bombinhas e Florianópolis para obter informações sobre fiscalização durante o feriadão. Apenas a Capital e Imbituba apresentaram dados finais da fiscalização realizada durante o feriadão.
Em Imbituba, 30 fiscais municipais trabalharam na orientação à população quanto ao atual Decreto Municipal. Também foram distribuídos cerca de 1 mil máscaras e álcool em gel à população. Na região da Praia do Rosa, a Secretaria de Saúde colocou, ainda, uma barreira sanitária, com o apoio de técnicos de enfermagem. Em parceria com a polícia militar, polícia civil e corpo de bombeiros, 11 termos circunstanciados foram lavrados, 42 pessoas foram abordadas, 29 testes de bafômetro realizados, 91 veículos abordados, um veículo autuado e um veículo removido. Dez equipamentos de som automotivo foram apreendidos pelos policiais militares.
Garopaba informou que não poderia falar sobre o assunto. Palhoça ainda não havia fechado os números até as 18h30min desta terça-feira.
Por meio de nota enviada pela assessoria de imprensa de Bombinhas, a Secretaria de Turismo, em conjunto com a Secretaria de Saúde, afirmou ter elaborado protocolos específicos para o funcionamento dos setores turísticos da iniciativa privada. Ressaltou também que a cidade foi uma das primeiras a elaborar protocolos para o uso das praias e para atividades de ambulantes e prestação de serviços na orla, com orientações como a distância entre guarda-sóis, pessoas no mar e demais medidas de segurança. A prefeitura ainda destacou que Bombinhas e as demais cidades da região turística Costa Verde & Mar estão discutindo e planejando ações coordenadas, como campanhas de conscientização sobre a covid-19 para o verão.
— Infelizmente, por mais que pareça estar num momento favorável com relação ao número de casos, temos que aceitar que a pandemia não terminou, que não teremos uma vacina disponível para todos em dezembro porque é utópico e precisaremos passar mais um período se controlando, se restringindo e mantendo um comportamento de autocuidado e educação, porque isso é também respeito em relação aos demais, que a gente percebe que está se perdendo — finaliza Nicole.