O gerente educacional da Rede Marista, Luciano Centenaro, e o diretor-geral do Colégio Mauá de Santa Cruz do Sul, Nestor Raschen, debateram as lições deixadas pela pandemia de coronavírus na área da educação na manhã desta quarta-feira (14), durante o Painel Atualidade, da Rádio Gaúcha. Os representantes falaram sobre as adaptações feitas nas escolas, o comportamento dos alunos e das famílias, bem como as possíveis mudanças para o futuro.
Nas quartas-feiras, o quadro dentro do programa Gaúcha Atualidade ouve representantes de setores econômicos para provocar o debate e estimular a busca por alternativas para a diminuição do impacto negativo causado pela pandemia na economia do Rio Grande do Sul.
Presente em 16 cidades do RS, a Rede Marista tem 19 colégios privados com mais de 19 mil alunos, além de escolas e centros sociais. O Colégio Mauá foi criado em julho de 1870 e completou 150 anos em 2020. A instituição tem mais de 2 mil estudantes, da Educação Infantil ao Ensino Médio.
Lições e mudanças
— Temos pelo menos cinco elementos que poderíamos partilhar como mudanças e perspectivas para o futuro. Primeiro a necessidade e a viabilidade diante desta pandemia de rever os nossos marcos regulatórios, especialmente aquilo que de rigidez nos impede de fazer evoluções mais consistentes na educação. (Também) nunca houve espaço de sinergia tão grande entre hospitais e escolas, acho que esse é um cenário que vem pela frente bastante forte. A revolução tecnológica que aconteceu dentro das escolas, e também na casa das pessoas, um borramento entre aquilo que nós consideramos as fronteiras física e virtual dos espaços das escolas. O espaço de diversificação metodológica que foi proporcionado por este momento, imagino que seja um campo que se abriu, porque não teve professor que não foi buscar outra maneira de ensinar. E eu ainda acrescentaria os centros de solidariedade para as comunidades locais, as escolas passaram a ser referências para suas comunidades — afirma Luciano Centenaro, gerente educacional da Rede Marista.
— Esta pandemia fez com que a escola tivesse que se reinventar. Sabemos fazer a escola muito bem no presencial e tivemos que reinventar a escola no online, em casa. Mas toda essa reinvenção da escola também significou a reinvenção da família. De repente pai e mãe tiveram que auxiliar o filho na aprendizagem. Fica uma grande lição, isso significa que nós precisamos estar preparados para o novo a qualquer momento. E as escolas em geral conseguiram responder muito bem a esse grande desafio, penso que as escolas foram as que mais contribuíram para que a pandemia no Rio Grande do Sul não fosse tão avassaladora. Logo lá em março, quando paramos, entendíamos que nossa contribuição era importante para a questão da saúde, e de fato assim foi — defende Nestor Raschen, diretor-geral do Colégio Mauá de Santa Cruz do Sul.
Ideias para o processo de reinvenção em escolas públicas
— Uma experiência que temos bastante positiva é o investimento na formação dos educadores, não há como se fazer educação hoje sem investir naqueles que têm talvez a missão maior de estar diante dos estudantes e das famílias. Eu entendo que esse reinventar em sala de aula, que o professor Nestor trouxe, passa pela formação dos educadores, pela capacidade de dar respostas rápidas, pela capacidade de solucionar problemas e, mais do que isso, por muita competência profissional. O uso das plataformas nos ensinou que é possível trabalhar de forma coletiva, então, a parceria entre rede privada e escolas estaduais e municipais é sempre muito bem-vinda, e estamos abertos a projetos que possam ajudar — salienta o gerente educacional.
Colaboração de pais e alunos
— Acho que é importante dizer que esse é um vírus que exige cuidados e a escola é um lugar onde se ensina cuidados. Estamos fechando o primeiro mês com aulas na Educação Infantil sem nenhum caso, então é possível, sim, com todos os cuidados, desde a família ajudando e colaborando. Se nós tivermos os cuidados necessários, é seguro, posso garantir. Os jovens estão sendo muito colaborativos, estão contribuindo muito positivamente para que tudo corra bem, então se todos tivermos bons cuidados, seguindo as regras do plano de contingência, funciona — destaca o diretor.
— Essa tem sido uma surpresa muito positiva para nós, já voltamos com seis unidades e nós temos nos surpreendido muito positivamente porque as crianças já vêm muito bem preparadas de casa também. Me parece que a sociedade, a comunidade, as famílias, de uma maneira geral, estão conseguindo preparar bem os seus filhos para que tenham menos riscos ao estarem nas escolas. As crianças não estão alheias a esse momento que nós estamos vivendo, elas estão cientes do que está acontecendo. Então, diante dos protocolos que foram estabelecidos, a gente tem a grata satisfação de dizer que tem sido possível sim manter os protocolos necessários mesmo com as crianças pequenas — completa Centenaro, gerente educacional da Rede Marista.
Adesão e receios
— Nós estamos no Ensino Médio com 85% de alunos presentes na escola, claro que eles vêm em dias alternados por causa do distanciamento em sala de aula. Na Educação Infantil nós já chegamos a 90%, só ficaram em casa mesmo alunos com algum problema de saúde, que poderiam ter algum risco, mas todos aqueles que puderam, retornaram. A gente sempre pediu, tanto para alunos quanto para os professores, que qualquer sintoma semelhante àqueles que indicassem o coronavírus, comunicassem a escola e não viessem, isso tem funcionado. Então a parceria com as famílias tem sido muito importante, nós falamos aqui da ética do cuidado, um cuida do outro e assim funciona. E o nosso convencimento com a família foi exatamente informando para elas todos os nossos procedimentos e protocolos, mandando vídeos de como funcionaria o ambiente escolar e isso tudo criou um clima de confiança que, dia após dia, tem aumentado, inclusive com aquelas famílias que tinham algum receio — explica Raschen, diretor-geral do Colégio Mauá de Santa Cruz do Sul.
Mensagem para o futuro
— A mensagem é de confiança e de gratidão, por acreditarem na escola até esse momento e confiarem à escola o seu bem mais precioso, seus filhos. No futuro eu acredito muito em uma educação que trabalhe a autonomia dos estudantes, a capacidade de argumentação, de resolução de conflitos, da resiliência, do equilíbrio emocional, da saúde mental, e me parece que nós tivemos nesses sete meses uma aula sobre cada um desses elementos ou muitas aulas. Que a gente possa servir como um espaço seguro, que a escola possa continuar sendo um espaço seguro para que a gente tenha cada vez mais uma educação de qualidade, que desenvolva não só os conhecimentos, mas também os valores humanos — finaliza Centenaro, gerente educacional da Rede Marista.