O presidente da Expodireto Cotrijal, Nei Mânica, e o sócio-proprietário e administrador do Grupo Guatambu, Valter Pötter, debateram a situação do agronegócio no Estado em meio à pandemia de coronavírus, assim como as expectativas para o futuro do setor, na manhã desta quarta-feira (5), durante o Painel Atualidade, na Rádio Gaúcha. Diversificação dos negócios, sustentabilidade e tendências que serão fixadas pela crise sanitária estão entre os temas abordados.
Nas quartas-feiras, o quadro dentro do programa Gaúcha Atualidade ouve representantes de setores econômicos para provocar o debate e estimular a busca por alternativas para a diminuição do impacto negativo causado pela pandemia na economia do Rio Grande do Sul.
Com base em Dom Pedrito, o Grupo Guatambu é uma empresa familiar que produz grande diversidade de produtos na agricultura e na pecuária. Realizada desde 2000, a Expodireto Cotrijal é uma das maiores feiras do agronegócio internacional e ocorre Não-Me-Toque, no norte do Estado.
Agronegócio em meio à pandemia
— Podemos dizer que o agronegócio felizmente é o que menos sofreu. Temos conseguido que nossa atividade continue dentro da normalidade, mas sempre observando e cuidando as orientações do Ministério da Saúde, das secretarias municipais. Cuidado da saúde, manter distância. Enfim, todo esse processo fez com que tivéssemos condições de continuarmos produzindo tanto grãos quanto proteínas dessa cadeia diversificada — destacou Mânica.
Futuro e recuperação
— Dentro da porteira não há dúvidas de que temos de fazer a lição de casa benfeita. Ou seja, lavoura com boa tecnologia, baixar custo para que tenhamos rentabilidade nos negócios, porque os preços estão bons. Nunca tivemos preço de arroz neste valor que hoje está sendo praticado — afirmou Pötter.
— Na safra do ano passado, que nós encerramos neste ano, tivemos em média mais de 50% de quebra. Então, realmente, nos trouxe grandes problemas. Estamos vendo, e o mundo mostra para nós, que o agro tem uma vida longa pela necessidade de alimento. Então, com certeza vamos ter condições de recuperar em parte as perdas no ano que vem. Mas como é que se recupera. Primeiro, fazendo bom plantio, não economizando em semente, defensivo, rotação de cultura. Temos de fazer com que o produtor (entenda), e ele tá bem consciente disso, que essa necessidade está presente. Esse desafio está imposto. O mercado está muito favorável a commodities. Mas eu só queria pontuar, para não ter uma falsa ilusão, de que esses preços vão recuperar (toda) a perda do produtor. Não. Sobrou 20% real da produção colhida (em razão de quebras do ano passado) para praticar esses bons preços, mas mesmo assim eles ajudam — destacou Mânica.
Meio ambiente e sustentabilidade
— Não tenho dúvida dessa questão ambiental. Quem manda é o consumidor. Isso aí é a regra básica de mercado. O consumidor diz o que quer, de que forma tem de ser produzido. Então, não adianta colocarmos a cabeça para dentro da terra tipo avestruz e deixarmos o bonde passar. Nós temos de absorver essa cultura de mercado, de sustentabilidade e de que o consumidor é o rei. Se o consumidor está dizendo que nós temos de melhorar em alguns pontos, vamos atacar e melhorar esses pontos. Não há dúvida que tem muita falácia, tem muita conversa que não condiz com a realidade, mas também tem sempre coisas a melhorar. Então, nós temos de fazer a mea culpa, nossa lição de casa, e cuidar mais do meio ambiente e mostrar para o consumidor que nós também trabalhamos dentro dessa linha de sustentabilidade — avaliou Pötter.
— Hoje, no Brasil, se nós olharmos friamente, tirando a parte política, o produtor é o que mais preserva o meio ambiente. Não vamos falar daqueles maus produtores, que desmatam, que queimam. Isso tudo tem uma lei, tem de ser punido, preso, penalizado. Isso é banditismo com a natureza. Agora, nós, produtores que temos consciência, profissionalismo, responsabilidade, produzimos com muita sustentabilidade. O uso de químicos, a rotação de culturas, o manejo do solo, a origem das sementes, a armazenagem, a industrialização. Essa cadeia nós sabemos fazer muito bem. Agora, a camada de ozônio, que é a grande preocupação no mundo e a própria Alemanha já falou que, até 2035, não vai produzir mais carros com combustíveis, nós temos que lembrar que o meio ambiente não é só na propriedade. Se nós olharmos as grandes metrópoles, as grandes capitais, as grandes cidades, não vejo hoje um debate sobre a preocupação com o meio ambiente nesses grandes centros, que também geram poluição. Temos de cuidar para não virar uma coisa política, que é muito ruim para o Brasil, denigre a imagem lá fora — afirmou Mânica.
Futuro da Expodireto Cotrijal
— Sempre em agosto ou depois da Expointer a gente começa a trabalhar a Expodireto. Como é uma anormalidade, a gente está jogando um pouquinho para frente, mas sempre com aquele pensamento de que vamos conseguir fazer, porque vai estar equacionado ou grande parte resolvido. Então, a gente tem um pensamento muito positivo — disse Mânica, destacando que a existência de vacina é um dos fatores que vão pesar na realização do evento em formato presencial ou não.
Leilão virtual no pós-pandemia
— Sem dúvida (veio para ficar), porque baixa o custo. É impressionante como baixa o custo. Porque o leilão presencial tem uma preparação muito grande, um gasto muito grande de transporte dos animais, tem estresse no transporte dos animais para esse local. Tem todo o staff de pessoal para a lida do dia, da hora e do momento. Tem a recepção dos convidados, imagina 300, 400 pessoas. Precisa de alimentação, de banheiro, disso, daquilo. Isso tudo é eliminado no leilão virtual. Existe uma filmagem com calma previamente, só o cameraman, o ajudante, uns dois campeiros e quem está coordenando a filmagem. Depois, essas cenas são passadas em determinado dia que for marcado. Então, isso vai acontecer neste ano, não acredito em exposições presenciais de interior neste ano, nem remates presenciais. Todo mundo vai se encaixar nisso e vão ver como é bom o processo, porque ele baixa custo, facilita a vida do vendedor, do comprador e dos animais também — disse Pötter sobre os leilões de animais.
Diversificação
A diversificação é salutar tanto na questão ambiental, que existe uma rotação de atividades, de cultura em razão dos aspectos físicos e químicos do solo e controle de pragas e doenças, como também da sustentabilidade econômica. Não tenho dúvidas de que as propriedades que vão persistir daqui a 10, 15, 20 anos são as propriedades com diversificação — estimou Pötter.