O CEO da Usaflex, Sergio Bocayuva, e o diretor-geral da CMPC no Brasil, Mauricio Harger, debateram nesta quarta-feira (15), na estreia do Painel Atualidade, novo quadro semanal da Rádio Gaúcha, o impacto da pandemia de coronavírus na economia, as lições deixadas pela crise sanitária e a expectativa de retomada pós-crise.
A partir de hoje, toda quarta-feira, os apresentadores vão ouvir representantes de setores econômicos para provocar o debate e estimular a busca por alternativas para a diminuição do impacto negativo causado pela pandemia na economia do Rio Grande do Sul. O quadro também será transmitido em GaúchaZH.
Os participantes na estreia do quadro atuam em empresas líderes de seus setores. Com unidades produtivas nas cidades de Igrejinha, Campo Bom, Dois Irmãos, Parobé, a Usaflex é pioneira na fabricação de calçados de conforto e moda para homens e mulheres e gera cerca de 2,8 mil empregos diretos. Com base em Guaíba, a CMPC no Brasil produz matéria-prima biodegradável para fabricação de produtos de higiene pessoal (tissue), embalagens para medicamentos e alimentos, e está presente em vários outros inúmeros itens do cotidiano das pessoas. O grupo conta com mais de 17 mil trabalhadores em oito países — 6,5 mil deles no Brasil.
O que é o Painel Atualidade?
Trata-se de um novo quadro semanal dentro do Gaúcha Atualidade, que pretende provocar o debate e estimular a busca por alternativas que ajudem a minimizar o impacto negativo da crise do coronavírus na economia do Rio Grande do Sul. A iniciativa faz parte do projeto de Jornalismo de Soluções proposto pelo Grupo RBS, que busca o debate para enfrentar e resolver os problemas diagnosticados.
Impacto da pandemia nos setores
O diretor-geral da CMPC no Brasil afirmou que o início da crise teve impacto positivo no setor da celulose, impulsionado, principalmente pelo consumo de itens de higiene pessoal. Harger destacou que a busca desproporcional por papel higiênico — que se mostrou desnecessária — gerou grande demanda de produção da área.
— Foi uma corrida real no mundo inteiro. Nas primeiras semanas, houve procura grande por celulose, em especial para esses itens de higiene básica. A gente teve essa necessidade, a gente teve de recusar alguns pedidos globalmente, no Brasil, na América Latina, porque as pessoas sentiram por algum motivo que isso poderia faltar. Felizmente não faltou.
Em um segundo momento da crise, o setor sentiu leve diminuição de demanda, ocasionada principalmente pela baixa procura por papel para impressão, segundo Harger, justificada por suspensão de aulas presenciais e pelo teletrabalho. O executivo destaca que o setor deve encerrar o ano com demanda estável, “levemente negativa”.
O CEO da Usaflex explicou que o setor calçadista foi fortemente impactado pelo fechamento das lojas em razão das políticas de distanciamento social. No momento, com a reabertura gradual dos setores econômicos, Bocayuva avalia que a empresa está com faturamento estável, mas destaca que o fechamento no passado terá reflexos neste ano.
— Nós estivemos paralisados por dois meses e meio, o que gera realmente um impacto grande até por conta do Dia das Mães. Só para vocês terem uma ideia, este ano nós temos uma avaliação de possibilidade de uma queda de 40% no faturamento versus o ano passado — avaliou Bocayuva.
Cenário pós-pandemia
— A retomada tem de ser mais verde do que era. Acho que esse tipo de pandemia, esse tipo de doença nos traz algumas reflexões no quesito de como estamos nos relacionando com o meio ambiente, com o mundo, com o planeta. Como estamos tratando nossos resíduos, nosso lixo, como a gente está olhando para o saneamento. Isso tudo está conectado. Acho que esse é o nosso papel, aproveitar esse momento, fazer as reflexões devidas e trazer para a discussão como é que a gente retoma a economia de uma maneira mais sustentável — avaliou o diretor-geral da CMPC.
Sobrevivendo à crise
— Não importa o seu tamanho, desde que você tenha de fato uma transparência, um planejamento, um enfoque, saber onde você quer chegar. Isso ajuda bastante — destacou o CEO da Usaflex.
— Mesmo que você seja pequeno, seja uma startup, acho muito importante você ter uma orientação de onde você quer chegar, como você quer chegar, ter um planejamento, ter os caminhos que serão necessários. Acho que, infelizmente, isso falta muito para o setor em especial. Mas, por outro lado, ele é enorme em possibilidades — complementou Bocayuva.
Quando a crise será superada
— Acho que o segundo semestre é o momento no qual nós teremos um pouco mais de claridade. (...) É difícil dizer exatamente a data, a gente tem expectativa de que em setembro ou em outubro volte a um pouco mais próximo da realidade que a gente conhece, mas voltar a realidade, acho que a nova realidade é algo que a gente tem pensado. Mais do que pensar no planejamento, quando volta, nós temos nos dedicado muito nesse momento a ser protagonistas em ajudar a sociedade para que isso seja reduzido com o menor tempo possível e com menor impacto possível — afirmou o diretor-geral da CMPC.
— A gente entende que, de fato, somente lá para setembro, outubro a gente vai ter uma reabertura no patamar de 70% do cenário que a gente vivia no passado. Mas particularmente eu entendo que a economia só retornará ao patamar de 2019 a partir de 2021. Acho que ano que vem terá ainda um pouco de reflexo negativo, não tanto no meu setor, particularmente acho que a gente até vai sair fortalecido. Mas, efetivamente, olhando para o contexto como um todo, dado o nível de desemprego, as categorias de trabalho focadas nas classes C e D serão bastante prejudicadas. Com isso, acho que a economia como um todo só retornará em 2022. A partir de 2021, você retornará com 80% 90% do que foi 2019 — projeta o CEO da Usaflex.
Mudança de comportamento do consumidor pós-pandemia
— Acho que ele (consumidor) acaba retomando os hábitos, mas ele vai ter um pouco mais de apetite para o mercado digital. Acho que ele vai buscar mais experiências no mercado digital. Para quem trabalha efetivamente a monomarca, acho que essa experiência é gradual de se manter. Não há perda. Mas, de fato, você como empresa tem de se preocupar bastante, trabalhar forte, respeitando a jornada do consumidor. O consumidor acabou se acostumando em ter uma facilidade de acesso ao consumo, de entrega, de e-commerce e de coisas assimiladas. Todas as modalidades de facilidade à jornada do consumidor serão alteradas, havendo um avanço — estima o CEO da Usaflex.
— De fato, quem tiver uma rede própria, com consistência, com diferenciais de serviço e comunicação, porque não adianta você ter o produto e não se comunicar, terá um papel preponderante no mercado, de protagonismo — complementou Bocayuva.
Impacto social deixado pela pandemia
— Acho importante a gente cuidar dos nossos colaboradores, principalmente nesse momento de crise. Não somente com todos protocolos de segurança, mas, principalmente no apoio psicológico. Acho que essa crise afeta diretamente as famílias. Muitas vezes, não o colaborador, mas a família toda contextualizada, porque alguns acabaram perdendo emprego ou têm familiares enfermos. Então, acho que o recado que a crise gerou foi a maior aproximação das pessoas. Da importância da reaproximação. Algumas famílias estavam distantes. Acho que a empresa tem esse papel fundamental desse pilar gente. Gente e inovação são os pilares mais importantes de qualquer empresa — avalia o CEO da Usaflex.
— O que fica para a gente é essa grande capacidade que nós tivemos, como sociedade, empresa, cidadão, governo, de cooperar, colaborar em termos de solidariedade, em termos de valor compartilhado. Se a gente quantificar inúmeros investimentos, doações, construções que foram feitas. É um aprendizado que a gente deveria e tirar e ficar. Em especial, as nossas dificuldades que tivemos para adquirir máscaras, nós trasladamos em produzir as máscaras e, além de produzir para os nossos colaboradores para proteção deles, doamos. Essa é a grande lição, a cooperação, a capacidade de mobilizar em prol da causa vida. É algo que a gente deveria manter — afirmou o diretor-geral da CMPC.