Por Jorge Audy
Superintendente de Inovação e Desenvolvimento da PUCRS
A evolução da sociedade passou por diversas ondas ou etapas, desde a posse da terra como principal fator de geração de riqueza, passando pela Revolução Industrial nos séculos 18 e 19, deslocando o eixo para as máquinas e as indústrias. Na segunda metade do século 20, a revolução da tecnociência muda novamente os principais fatores de geração de riqueza, com a emergência da sociedade do conhecimento, com o foco na tecnologia e na inovação.
Neste século 21, diversos eventos e sinais vêm sendo enviados do futuro com relação a um novo ciclo de transformação na sociedade, sendo a crise sanitária que vivemos somente um deles. As questões sociais, em especial o desafio da desigualdade em suas diferentes dimensões e as questões ambientais, principalmente as mudanças climáticas e seus impactos no meio ambiente, são temas centrais com relação ao futuro da humanidade.
Uma das mais importantes discussões hoje no mundo vem da Inglaterra, em torno dos negócios de impacto social e ambiental. Nesse sentido, Sir Ronald Cohen aborda o tema da Revolução do Impacto, cuja questão básica é: que tipo de mundo nós queremos viver no futuro?
Estamos hoje imersos ainda na primeira fase da pandemia, o que poderíamos chamar de sobrevivência, tentando nos manter vivos e os negócios, viáveis. Logo, ingressaremos em uma segunda fase, ainda crítica, que envolverá a recuperação: será a hora de retomarmos nossas atividades relacionais, sociais e profissionais. Somente depois chegaremos na fase da renovação, o que muitos chamam de “novo normal”, que é muito difícil de prever ou antecipar. Mas parece que todos concordamos que não seremos os mesmos. Não nos comportaremos da mesma forma. Novos paradigmas irão emergir.
Quase impossível saber ou antecipar o que virá. No máximo podemos ler alguns sinais do futuro e imaginar algumas possibilidades. Provavelmente, as transformações virão em duas frentes: pessoal e social, profissional e dos negócios. Na frente pessoal e social talvez emerja um novo humanismo, como atitude frente aos desafios, como uma nova forma de estar no mundo. Humanismo como uma nova forma de cuidarmos uns dos outros. Pensar o coletivo antes do individual.
Na frente profissional e dos negócios, talvez emerja um novo conjunto de valores a nortear a ação das organizações, não somente da percepção social, mas também novos padrões de análise dos negócios, onde o impacto social e ambiental dos empreendimentos se torne tão importante quanto seus resultados financeiros. Podemos imaginar um mundo no qual as pessoas tenham mais responsabilidade e ciência de seu papel na sociedade, no qual o consumo seja mais consciente, no qual possamos (e devamos) escolher onde trabalhar, o que comprar e em quem investir, de acordo com valores que nos sejam relevantes. Valores globais, com senso de bem comum e responsabilidade pelo futuro do planeta.
O modelo mundial vigente não atende mais nossas expectativas de um mundo melhor. A revolução da tecnociência deve ser seguida por uma revolução de impacto social e ambiental. Podemos pensar em gerar resultados econômicos e impacto social e ambiental simultaneamente. Um não deve mais excluir o outro.
Assim como a grande crise de 1929 mudou para sempre a forma como as empresas atuam, são avaliadas e auditadas, esta crise de 2020 pode ser um marco para uma nova forma de avaliar as organizações e seu papel social. Existem muitos desafios que devemos superar como sociedade, os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) indicam com clareza estes desafios. O que devemos fazer é direcionar o melhor dos nossos esforços e capacidades no desenvolvimento de ações de impacto. Impacto social, impacto ambiental. Devemos, juntos, mudar as regras do jogo. O modelo mundial vigente não atende mais nossas expectativas de um mundo melhor. A revolução da tecnociência deve ser seguida por uma revolução de impacto social e ambiental. Podemos pensar em gerar resultados econômicos e impacto social e ambiental simultaneamente. Um não deve mais excluir o outro.
Desde a encíclica Laudato Si, do Papa Francisco, até pensadores como o inglês Sir Ronald Cohen, cada vez mais as pautas social e ambiental se tornam mais e mais relevantes. Para o nosso futuro. Para o futuro da humanidade. Para transformar o mundo em um lugar melhor para se viver, menos desigual, reduzindo a pobreza e ampliando as possibilidades de desenvolvimento pessoal por meio de uma educação de qualidade, transformadora, inclusiva. Para todos. Pelo bem de todos.