Por Jorge Audy
Superintendente de Inovação e Desenvolvimento da PUCRS
Épocas de crise são oportunidades férteis para gerar inovações disruptivas. E as inovações disruptivas tem o poder de transformar nossas vidas. Os computadores, a energia nuclear, a internet, até mesmo a barrinha de chocolate são inovações que surgiram em períodos de grandes crises mundiais. Assim como a Comunidade Europeia, a Organização das Nações Unidas (ONU) e a própria Organização Mundial da Saúde (OMS).
Nesses períodos, emergem muitas oportunidades para inovar, transformar nossas vidas e a sociedade em que vivemos. Não será diferente nesta crise sanitária global pela qual passamos: muitas oportunidades estão surgindo e ainda irão surgir. Temos uma bela oportunidade para nos transformarmos em duas áreas, como pessoas e sociedade. Para melhor. Apesar do sofrimento em tantas dimensões, talvez estivéssemos mesmo precisando de um empurrão para repensarmos o nosso papel no mundo.
A primeira área está relacionada ao papel e à importância da educação e da ciência. Há décadas nosso maior desafio no Brasil é a educação. Tanto em termos de qualidade como em termos de inclusão. Por que a educação é tão importante? Porque é a base de um processo de formação para a cidadania, um eixo estratégico para promover o desenvolvimento humano e social, além de ser o maior patrimônio de um povo.
E também porque promove um fluxo contínuo que começa na educação e evolui para o reconhecimento e o fomento da ciência, da tecnologia e da inovação. É esse fluxo que gera a elevação dos indicadores de desenvolvimento de uma nação (social, ambiental e econômico). E esta crise está mostrando de forma inequívoca a importância da ciência para combater a covid-19.
Igualmente, a educação formal vem sendo desafiada para repensar seus paradigmas, com a adoção massiva das tecnologias de informação e comunicação, como mediações que anunciam novos modelos de educação. Uma nova educação para uma nova sociedade. As duas partes iniciais desse contínuo, educação e ciência, possuem importância estratégica e são estruturantes de uma nação no século 21; não somente para enfrentar pandemias, mas também para incidir nas desigualdades sociais ainda existentes, permitindo que o conhecimento possa ser acessado por todos e, igualmente, seja capaz de criar novas formas para superar os históricos problemas da sociedade, de modo a promover um desenvolvimento mais igualitário e sustentável (fome, mudanças climáticas, energia etc.). Temos de aprender isso de uma vez por todas. Não podemos esperar mais.
A segunda está relacionada à oportunidade de reflexão sobre o real significado das nossas vidas que o distanciamento físico, e não social, nos possibilita experimentar. A necessária busca de uma nova relação com as pessoas e o coletivo. Com as tecnologias que passam a ser vistas como ferramentas a serviço das pessoas.
Pode emergir um novo humanismo. Humanismo como atitude frente aos desafios. Uma nova forma de estar no mundo. Humanismo como uma nova forma de cuidarmos uns dos outros. Pensar o coletivo antes do individual. A volta das pessoas para casa também é um convite para nos reconectarmos com o nosso interior, com os nossos sentimentos e as nossas relações.
Mas também estabelece novas formas de estarmos no mundo, de trabalharmos e nos relacionarmos com familiares, amigos e colegas. É inegável o potencial humanizador desta crise que, vista como oportunidade, pode favorecer a revisão de valores, a renovação do cuidado (de si e do outro), o senso de bem comum e a responsabilidade pela coletividade.
Educação, ciência e a busca de um novo humanismo. Áreas clamando por inovação no país. Inovação disruptiva. Transformadora. Social.