A saída do terceiro ministro da Educação em 18 meses causou repercussão na área. Nesta terça-feira (30), Carlos Alberto Decotelli pediu demissão antes mesmo de assumir oficialmente o cargo. Especialistas em educação ouvidos pela reportagem de GaúchaZH afirmam que a indefinição em relação ao comando da pasta reforça a falta de protagonismo da área, que segue prejudicada. O economista e especialista em educação Claudio de Moura Castro destaca que o governo não tem uma ligação com a educação e peca ao não consultar os principais nomes do setor no país na tomada de decisões.
— Esse centro de poder do governo está muito longe do mundo da educação. E está vendo a educação de uma perspectiva muito ideológica — afirma.
Castro também cita a conformidade do brasileiro em relação à qualidade de ensino como um dos principais problemas da educação no país, o que se reflete no governo e em outros níveis da sociedade, contribuindo para a falta de avanços.
Ministro da Educação no governo Dilma Rousseff, o filósofo e professor da Universidade de São Paulo (USP) Renato Janine Ribeiro diz que os problemas na pasta podem ser explicados pela falta de interesse e até por uma espécie de aversão do governo em relação à área. Janine Ribeiro avalia que esse comportamento prejudica avanços importantes no ensino, como uma definição sobre o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb).
— É um governo que não tem competência para lidar com a educação. É básico a esse ponto. Apesar disso decorrer de uma certa aversão à educação, isso daí vai resultar em uma incompetência mesmo. Um governo que não sabe governar. Isso a gente vê em todas as áreas — critica.
O ex-ministro afirma que a escolha de um bom nome para a pasta também esbarra nos interesses do governo, pois a falta de alinhamento com a agenda do Executivo eliminaria candidatos qualificados.
— Quando eles procuram pessoas mais qualificadas, essas pessoas não vão fazer a pauta deles, porque a pauta deles tem muito a ver com a chamada escola sem partido. Eu chamava a gestão do Weintraub de partido sem escola. Ele não teve interesse nas escolas, no sistema educacional — destaca.
João Marcelo Borges, diretor de estratégia política do Todos Pela Educação, também entende que essa nova indefinição sobre o comando do Ministério da Educação (MEC) é reflexo da falta de prioridade do governo em relação ao ensino. Borges destaca que “ficar parado em educação é andar para trás”, portanto, o governo precisa buscar um nome técnico e com experiência em gestão para avançar na área:
— O perfil ideal do ministro me parece que não muda. Deveria ser alguém com experiência no setor educacional, experiência de gestor público, porque ele precisa saber operar a máquina pública, mas também com excelente capacidade de disposição para o diálogo para construção de soluções conjuntas. Alguém com capacidade de ouvir mais do que falar e de construir pontes.
O diretor também lembra que a educação sofre em um cenário no qual os alunos estão em casa, sem perspectiva de retorno às aulas.