Com a demissão de Carlos Alberto Decotelli do Ministério da Educação (MEC), o atual reitor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Anderson Ribeiro Correia, é o nome mais forte entre os cotados para assumir a pasta.
A gestão Jair Bolsonaro busca um substituto para o ministro que saiu após ficar cinco dias no cargo. A escolha para o MEC virou uma disputa entre aliados do presidente – militares com cargos no governo contra a chamada ala ideológica, ligada aos filhos do presidente e ao escritor Olavo de Carvalho.
O próximo ministro da Educação será o quarto do governo Bolsonaro em um ano e meio de gestão. Trata-se de um cenário inédito de trocas em período tão curto, pelo menos desde a redemocratização. A pasta viveu polêmicas na gestão Bolsonaro, provocadas pelos mandatários anteriores – Decotelli, Abraham Weintraub e Ricardo Veléz Rodríguez.
Último a ocupar o cargo, Decotelli pediu demissão após universidades contestarem títulos incluídos no seu currículo. Nesta terça-feira (30), ele confirmou à reportagem que deixou o cargo depois de uma conversa com Bolsonaro no Palácio do Planalto.
Favorito para substituí-lo, Anderson Correia foi presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior (Capes) até o fim do ano passado, quando voltou a dirigir o ITA – cargo que ocupara antes de assumir o órgão ligado ao ministério.
Seu nome já havia sido cotado para o cargo após as demissões de Vélez Rodríguez e Weintraub. Ele é evangélico, do meio militar e tem perfil técnico, o que atenderia o objetivo atual do governo para a pasta.
Correia fez parte do grupo que discutia educação ainda na transição do governo, que também tinha participação de Decotelli. O nome do reitor do ITA recebeu apoio de lideranças do Senado e da Câmara, que teriam patrocinado sua indicação junto ao presidente.
A reportagem apurou que Correia já consultou o Comando da Aeronáutica, responsável pelo ITA, sobre a possibilidade de receber o convite para o MEC. Caso ele seja chamado, o Comando não deve se opor.
Outras opções
Além de Correia, o governo estuda outras indicações. Uma delas é a do professor Gilberto Garcia, que foi presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), reitor da Universidade Católica de Brasília e da Universidade São Francisco (SP), onde leciona atualmente.
Quem defende o seu nome no governo argumenta que ele é pardo, o que manteria um negro no cargo, e franciscano, pontos que podem ser favoráveis à imagem do governo. Garcia acumula experiência na área e conta com boa articulação com o setor educacional.
O núcleo militar ainda considera o nome do professor Marcus Vinicius Rodrigues, ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) nos primeiros meses do governo Bolsonaro.
O conselheiro do CNE Antonio Freitas também é cotado. Pró-reitor na FGV, seu nome aparecia como orientador do doutorado não realizado por Decotelli – Freitas disse não saber por que existia a menção.
Forte cotado antes do anúncio de Decotelli, o nome do secretário de Educação do Paraná, Renato Feder, voltou a circular. Ele fez chegar ao Planalto que ainda estaria à disposição, mesmo preterido na semana passada.
A ala de apoiadores de Bolsonaro ligada a Olavo de Carvalho também tem indicado nomes para o presidente. A aposta inicial era no secretário de Alfabetização, Carlos Nadalim, que teria rejeitado a indicação, segundo a reportagem apurou. A secretária de Educação Básica, Ilona Becskeházy, também é apoiada pelos chamados olavistas do governo.
Assessor de Weintraub no MEC, Sérgio Sant'Ana é outro defendido pelo grupo do escritor. Ex-advogado de grupos educacionais privados, é admirador de Olavo de Carvalho, tido como guru ideológico do bolsonarismo.
Ilona e Sant'Ana participaram, por exemplo, de vídeos sobre educação do grupo Brasil Paralelo, que produz conteúdo com viés de direita. A empresa exalta a ditadura militar e costuma escolher o aniversário do golpe de 1964 para lançar suas produções, como ocorreu com o material de educação.
Outro cotado para o cargo é o atual presidente da Capes, Benedito Aguiar, que é evangélico e tem apoio de parlamentares religiosos.
Instabilidade no MEC
Enquanto o nome do novo ministro não é definido, o MEC está sob gestão do seu secretário-executivo, Antonio Paulo Vogel.
A instabilidade no MEC é inédita desde a redemocratização do país, na década de 1980. Situação mais próxima da que se vive atualmente, só no segundo mandato de Dilma Rousseff (PT), marcado pela turbulência do processo de impeachment, que derrubou a então presidente.
De janeiro de 2015 a maio de 2016, houve três ministros da Educação: Cid Gomes (janeiro a março de 2015), Renato Janine Ribeiro (abril a outubro de 2015) e Aloizio Mercadante (out de 2015 a maio de 2016). Antes da posse de Janine, o então secretário-executivo do MEC, Luiz Cláudio Costa, respondeu interinamente pela pasta.