O atual presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Anderson Ribeiro Correia, foi nomeado nesta terça-feira (17) como novo reitor do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA). O ato indica uma nova baixa na equipe do Ministério da Educação (MEC). A Capes é ligada ao MEC. O órgão é responsável pelo sistema de pós-graduação do país.
O jornal Folha de S.Paulo revelou em outubro que Correia havia se candidatado para voltar ao ITA, em meio a discussões sobre uma possível fusão com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Ele já havia comandado o instituto antes de chegar à Capes.
Ligado às Forças Armadas, o ITA selecionou o reitor a partir de um concurso aberto. O nome de Correia foi definido pelo Comando da Aeronáutica no último dia 12 e ele deve assumir em 27 de janeiro de 2020.
O MEC já está em busca de um substituto. O reitor do Mackenzie, Benedito Guimarães Aguiar Neto, é um dos cotados – ele esteve com o ministro da Educação, Abraham Weintraub, no último dia 11.
Correia chegou ao MEC no início do ano, ainda na gestão do então ministro Ricardo Vélez Rodriguez. Seu nome chegou a ganhar força para substituir o de Vélez, com a simpatia da ala militar do governo, mas ele acabou preterido por Weintraub.
Superado um distanciamento inicial, Correia e Weintraub depois se aproximaram. Na Capes, porém, a imagem de Correia foi abalada pelos cortes de bolsas, o que culminou em protestos de servidores contra sua gestão e a suposta passividade diante do esforço do ministério em capitanear a fusão com o CNPq.
A Folha de S.Paulo ainda revelou que uma decisão atípica da Capes liberou um doutorado na Unisa, de São Paulo. A instituição é controlada por Antônio Veronezi, empresário com estreita relação com Weintraub e com o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.
Veronezi, da Unisa, diz que não tentou interferir no processo e que esteve na Capes, durante o período de análise, apenas para expôr o novo bom momento da universidade – isso estaria sendo ignorado pelos avaliadores.
— Eu aproveitei que conhecia o Anderson (presidente da Capes), não tenho nenhuma outra relação com ele, disse para ele da dificuldade que estava havendo no curso de pós-graduação, que a reitora me disse que ia e voltava, ia e voltava. Falei: "Olha, Anderson, vai, passa lá e vê a realidade da instituição" — disse Veronezi, que relatou ter ido algumas vezes à Capes.
A convite, Anderson Correia visitou a universidade no dia 5 de abril. Questionado sobre os encontros na Capes, o órgão informou inicialmente a ocorrência de uma reunião, em fevereiro. No dia seguinte, corrigiu a data para julho.
O MEC foi a pasta com o maior número de mudanças e turbulências neste primeiro ano do governo Bolsonaro. Houve troca de ministro, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) já está em seu segundo presidente e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) em seu terceiro.
Nas últimas semanas, o MEC teve baixas na equipe de alfabetização e a principal assessora do ministro se desligou repentinamente, dias antes de Weintraub sair de férias.
A própria permanência do ministro na pasta no próximo ano é vista com desconfiança por aliados e integrantes do governo. Bolsonaro nega, entretanto, que planeje promover alterações no comando da pasta.
"Haverá tempo para uma transição tranquila, já articulada com o MEC. A escolha do futuro presidente da Capes será feita pelo ministro da Educação, que já está estudando um nome", informou o órgão em nota.
O Centro de Comunicação Social da Aeronáutica informou que o rito de escolha do reitor segue o previsto em portaria de outubro de 2019. Essa portaria, no entanto, alterou as regras de seleção e acabou favorecendo Correia.
Norma de 2015 previa um intervalo de três anos para que um ex-reitor pudesse se candidatar novamente ao posto. Esse item foi eliminado. Anderson Correia foi reitor do ITA de 2016 até o início de janeiro de 2019. A reportagem questionou o MEC na segunda-feira (16) sobre essa nomeação, mas não obteve resposta.