No ano passado, estavam abaixo da linha da pobreza 13,1% dos gaúchos — o equivalente a 1,48 milhão de pessoas, mais do que toda a população de Porto Alegre.
Esse índice é o maior verificado no Rio Grande do Sul desde 2013, quando os pobres representavam 11,6% dos habitantes do Estado. O critério de pobreza para países com o Brasil, segundo o Banco Mundial, consiste em viver com menos de US$ 5,50 ao dia pela paridade do poder de compra (o que dá R$ 420 ao mês).
A proporção de gaúchos pobres é bem inferior à média nacional, mas ela subiu, enquanto a do Brasil como um todo teve queda no ano passado. O Rio Grande do Sul foi um dos cinco únicos Estados onde o percentual de pobres aumentou no período — os outros são Paraíba, Sergipe, Minas Gerais e Goiás.
Segundo a Síntese de Indicadores Sociais, divulgada nesta quarta-feira (6) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um quarto da população brasileira, ou 52,5 milhões de pessoas, vivia com menos de US$ 5,50 pela paridade do poder de compra no ano passado. O índice caiu de 26,5%, em 2017, para 25,3% em 2018, mas o percentual está longe do alcançado em 2014, o melhor ano da série, que registrou 22,8% de pobreza.
Segundo o IBGE, a ampliação moderada da ocupação em 2018, aliada ao crescimento do rendimento no trabalho e do rendimento de aposentadorias e pensões, ajudam a explicar a redução nacional da pobreza — que se concentrou basicamente no Sudeste. Nas demais regiões, a variação, afirma o IBGE, não foi significativa. Em termos absolutos, entre 2017 e 2018, cerca de 1 milhão de pessoas alcançaram ou superaram o limiar de US$ 5,50 pela paridade do poder de compra por dia. Dessas, 700 mil eram do Sudeste.
A razão para o Rio Grande do Sul ter sido um dos poucos Estados que foram no sentido contrário, com aumento da pobreza, ainda não está clara. O técnico do IBGE Walter de Sousa Rodrigues, coordenador da PNAD Contínua no Rio Grande do Sul, diz que seria necessário fazer uma análise conjunta com outros indicadores para entender melhor o desempenho gaúcho e identificar que setor da economia pode ter impactado nos índices divulgados. A observação dos números leva-o, no entanto, a levantar a hipótese de que o Rio Grande do Sul talvez sofra os fenômenos com uma espécie de efeito retardado.
— Se olharmos os dados, vemos que houve uma redução da pobreza e da pobreza extrema no país até 2014, quando começa a crise econômica e pessoas que estavam ultrapassando essas linhas voltam para trás. Mas enquanto no Brasil a pobreza para de cair em 2014, no Rio Grande do Sul ela ainda cai em 2015. O Estado sofre os efeitos da virada um ano depois. Da mesma forma, a tímida recuperação que houve no país em 2018 pode estar atrasada aqui. O que leva a esse comportamento a gente ainda não sabe — diz Rodrigues.
A pobreza atinge sobretudo a população preta ou parda, que representa 72,7% dos pobres, em números absolutos 38,1 milhões de pessoas. E as mulheres pretas ou pardas compõem o maior contingente, 27,2 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza.
— A partir de 2015, com a crise econômica e política e a redução do mercado de trabalho, os percentuais de pobreza passaram a subir, com pequena queda em 2018, que não chega a ser uma mudança de tendência — avalia o analista do IBGE Pedro Rocha de Moraes.
Extrema pobreza cresceu no país
Se a pobreza recuou um pouco, a extrema pobreza cresceu no país. No ano passado, 13,5 milhões de brasileiros viviam com uma renda per capita mensal inferior a R$ 145 — o equivalente a US$ 1,90 por dia, o que significa extrema pobreza, segundo o Banco Mundial. Isso é mais do que toda a população de países como Portugal ou Bélgica.
Essas 13,5 milhões de pessoas representam 6,5% da população, maior índice em seis anos. Os extremamente pobres eram 5,8% em 2012. No Rio Grande do Sul, os miseráveis são 214 mil, o equivalente a 1,9% da população. Se eles formassem uma cidade, seria a 10ª maior do Estado, logo à frente de Rio Grande.
O gerente do estudo do IBGE, André Simões, ressaltou a necessidade de políticas públicas para combater a extrema pobreza, pois ela atinge um grupo com menos condições de ingressar no mercado de trabalho.
— Esse grupo necessita de cuidados maiores, que seriam, por exemplo, políticas públicas de transferência de renda e de dinamização do mercado de trabalho. É fundamental que as pessoas tenham acesso aos programas sociais e que tenham condições de se inserir no mercado de trabalho para terem acesso a uma renda que as tirem da situação de extrema pobreza — disse ele.