O ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse nesta terça-feira (19) que o Brasil deve cair no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) e ficará em último lugar na América do Sul. Os dados oficiais, no entanto, só serão divulgados em dezembro.
O Pisa é uma avaliação internacional com jovens de 15 e 16 anos realizada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE ), uma entidade que reúne países desenvolvidos. No Brasil, cabe ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) a aplicação da prova.
— Vai sair o Pisa agora no início do mês e o Brasil estará no ultimo lugar da América do Sul, nós seremos o fruto desses 16 anos de PT e de abordagens esquerdistas — disse o ministro.
Weintraub não deixou claro se estava adiantando os resultados, cuja divulgação oficial cabe à OCDE e ocorre diretamente a jornalistas cadastrados. Em geral, o governo realiza uma coletiva de imprensa para comentar os resultados.
— Sim, eu diria que tem uma grande probabilidade de a gente estar figurando lá no fundo, das últimas posições dependendo da categoria — disse ele ao ser questionado.
— Eu estou supondo com base em números robustos.
Na última edição, divulgada em 2015, o Brasil ficou na 63ª posição em matemática (entre 70 países e territórios avaliados). Também são testadas na prova os conhecimentos de ciências (o Brasil ficou em 65º) e leitura (58º).
A reportagem apurou que as lideranças do MEC e do Inep têm se articulado para, na coletiva de divulgação, realçarem uma interpretação de que os maus resultados do Pisa são reflexos dos governos do PT.
O Pisa é realizado a cada três anos. O último resultado, divulgado em 2016, marcou a interrupção de uma tendência positiva registrada desde 2000. Em 2012, o governo Dilma Rousseff (PT) comemorou o avanço na última década, mesmo com resultados baixos e sem grandes avanços. Até aquela edição, o Brasil havia sido o país que mais crescera em matemática nessa avaliação em dez anos.
Expansão para conectar escolas à internet
O ministro Weintraub falou sobre o Pisa em cerimônia no Palácio do Planalto ao lado do presidente Jair Bolsonaro, que não fez pronunciamento. Foi anunciado no evento uma expansão no projeto para conectar escolas públicas à internet.
Com restrições orçamentárias, o Ministério da Educação (MEC) tem feito anúncios de programas que terão impacto apenas em anos posteriores, como é o caso de iniciativas de ensino técnico e alfabetização. Este já é a quarta entrevista coletiva para anunciar algum tipo de expansão no programa de conexão de escolas. O MEC indicou que mais 32 mil escolas urbanas receberão recursos para instalação de internet. A expectativa é chegar a cerca de 70 mil escolas até o ano que vem, ao levar em conta o volume de unidades já anunciadas.
O ministro voltou a associar os desafios educacionais do país ao educador Paulo Freire e também o custo das universidades federais com a escassez de recursos na educação básica.
— Paulo Freire não deu certo, deixar as crianças sem internet não deu certo — disse.
Ao todo, o MEC promete investir R$ 224 milhões ainda neste ano para a contratação de serviços de conexão à internet. As transferências serão feitas diretamente para escolas por meio do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) — os depósitos começarão a ser feitos nesta semana, segundo o ministro.
Este programa se chama Educação Conectada e foi criado no ano passado durante o governo Michel Temer (MDB). Em 2018, o MEC investiu R$ 78 milhões para atender 23.266 escolas. O governo Bolsonaro não havia feito nenhuma transferência dentro desse programa até o fim do primeiro semestre, como a Folha revelou.
Em julho, o governo fez o primeiro anúncio para retorno desses investimentos. Na ocasião, o MEC já havia anunciado o empenho de R$ 114 milhões para escolas urbanas, mais da metade, portanto, dos valores prometidos nesta terça.
A cerimônia ainda marcou o lançamento de um concurso para estudantes desenvolverem criações artísticas com o tema da bandeira brasileira. O dia da bandeira é celebrado em 19 de novembro. As criações integrarão livros didáticos distribuídos pelo governo federal a partir de 2021.