Os estudantes brasileiros estão ingressando no Ensino Médio sem o conhecimento e as habilidades mínimas para exercer uma plena vida social e econômica no mundo globalizado. Foi o que revelou a última edição do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), que foi realizada em 2015 e cujos resultados foram divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) nesta terça-feira. As informações são de Zero Hora.
A prova, que traça uma comparação com os resultados de 70 países, traz ainda um diagnóstico mais preocupante: no Brasil, o desempenho dos estudantes na faixa etária de 15 anos está significativamente abaixo da média internacional. No ranking do desempenho dos alunos, o Brasil assume a 63ª posição - atrás de Turquia, Colômbia, México e Costa Rica, e, na América Latina, à frente somente do Peru.
E pior: a pontuação dos adolescentes brasileiros no último exame caiu em relação à registrada na edição anterior, realizada em 2012. São três as áreas avaliadas: ciência, leitura e matemática. Os participantes brasileiros fizeram respectivamente 401, 407 e 377 pontos em cada uma delas em 2015. A média dos alunos dos demais países participantes do Pisa na mesma edição foi de 493, 493 e 490 pontos. Pode parecer pouco, mas a discrepância é comparada ao aprendizado de três anos letivos.
Os dados não chegam a surpreender especialistas, que são unânimes ao afirmar: as más notícias eram esperadas. Segundo eles, o desempenho dos estudantes revela uma educação estagnada, reflexo de um país que tem professores malformados, o "conteudismo" como metodologia predominante e é incapaz de corrigir falhas apresentadas em cada nível de ensino.
"O Pisa 2015 reforça um diagnóstico já feito pelas avaliações brasileiras mais recentes, como a Prova Brasil e a Avaliação da Educação Básica (Saeb). Se forem comparados os resultados deste ano com os de anos anteriores, pode-se dizer que nas outras edições o Brasil vinha crescendo timidamente. E o cenário deste ano é diferente: há uma estagnação. Para não dizer um retrocesso. Em matemática, a pontuação retorna para um patamar-base de 2006 (quando o Pisa foi aplicado no Brasil)", avalia Olavo Nogueira Filho, gerente de projetos do movimento Todos Pela Educação.
No Pisa, a competência do aluno em cada área é avaliada por níveis que vão desde o 1B, passando pelo 1A, nível 1, nível 2, até chegar ao nível 6. De acordo com a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), responsável pela prova, o nível 2 compreende as capacidades mínimas para exercer uma cidadania plena - mas a grande parte dos brasileiros não chega a ele. Em matemática, 70% dos brasileiros que realizaram o exame em 2015 ficaram abaixo do nível 2. Em ciência, 56%, e em leitura, 51%.
Conforme a avaliação, os brasileiros têm maior facilidade para compreender textos que dizem respeito ao universo pessoal: e-mails, mensagens de texto e cartas. Mas penam para interpretar notícias e documentos oficiais. Em matemática, em que a dificuldade é maior, as habilidades dão conta de simples adições e subtrações do cotidiano, como o cálculo de um troco em uma compra. O sufoco é grande quando os números começam a ficar abstratos, como ocorre nos cálculos geométricos, por exemplo. Para Olavo Nogueira Filho, a explicação pode estar na qualificação dos professores para lecionarem as disciplinas.
"O professor é o elemento que mais pode fazer diferença no aprendizado do aluno. Na nossa realidade, no entanto, pode-se dizer que mais de 60% dos professores de ciências no Ensino Fundamental no Brasil não têm formação específica na área. Os resultados de aprendizagem do sistema estão condicionados à qualidade dos professores", afirma Nogueira.
Gaúcha
Pontuação cai, e Brasil está entre os piores do mundo em avaliação da educação
Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) realizado em 2015 teve resultados divulgados nesta terça-feira
Bruna Scirea
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