A diretora da Escola Estadual Vera Cruz, no bairro Glória, em Porto Alegre, prestou depoimento na manhã desta quarta-feira (7) na 2ª Delegacia de Polícia e deu detalhes da agressão cometida pela mãe de dois alunos contra ela no final da tarde de terça (6). O incidente fez com que as aulas para 490 estudantes fossem suspensas por um dia. Abalada e com o rosto inchado depois de chorar na conversa com os policiais, a professora, que prefere não se identificar, relatou que a mãe do aluno "cravou as unhas" nela e a ameaçou.
— Ela cravou as unhas. Foi muito rápido. Eu chamei as funcionárias e um moço que passava fazendo caminhada me ajudou. Uma funcionária nossa foi embora e a outra me acompanhou. A gente dobrou a esquina e elas (agressora e amiga) foram atrás da gente, gritando, mas não consegui ouvir, estava muito atordoada — relata a diretora.
A educadora confirma que "se exaltou" ao cobrar da mãe pontualidade para buscar os dois filhos que estudam na instituição. Nesta terça, a mulher teria chegado, acompanhada de uma amiga, 40 minutos após o término das aulas, que é habitualmente às 17h. O tempo de tolerância seria de 10 minutos. Sem ter com quem deixar as crianças, a diretora e outras funcionárias ficaram além do horário de trabalho para cuidar dos meninos, de seis e sete anos.
— A mãe chegou e eu disse para ela que não poderia se atrasar daquele jeito. São meninos que têm muita falta na escola, tanto é que eu nem conhecia eles nem a mãe. Não estou há muito tempo da direção, mas estou na escola há bastante.
De acordo com a professora, após repreender a mãe pelo atraso, ela tentou ir embora pois tinha um compromisso, o que revoltou a mulher. A mãe teria chamado a diretora e informado que desejava ir até uma delegacia para resolver a questão. Com a negativa da diretora, teria ocorrido a agressão. No primeiro boletim de ocorrência, havia inclusive a informação de que ela foi atingida por tapas, mas segundo a diretora foi uma anotação errada por parte da polícia.
A diretora comenta que pensa em retornar para a escola, mas não sabe que tipo de respaldo terá para isso. A profissional, que atua no magistério há sete anos, diz não conhecer a família da agressora e teme por sua integridade física. Ela lamenta por este ser o terceiro registro policial de agressões a professoras de escolas em Porto Alegre em 13 dias.
— O governo nos trata com descaso, não temos condição de trabalhar, verba atrasa e vivemos com a doação da comunidade. (...) Quanto aos professores, já estava todo mundo fragilizado, e agora eu acho que infelizmente a motivação para o trabalho está bem complicada.
Para a diretora, não há clima para conversar com a mãe após o ocorrido.
O que diz a mãe
Em entrevista ao GaúchaZH, a mãe negou que tenha agredido intencionalmente a diretora, e alegou que segurou seu braço para que ela baixasse o dedo, mas a professora fez força e acabou se arranhando. Uma ocorrência por constrangimento foi registrada por ela contra a diretora. A mãe alega que foi ameaçada pela educadora, que nega.
A mãe também disse ter medo de como ficará a situação de seus filhos, já que eles não possuem outro lugar para estudar. Além disso, outras mães teriam ficado irritadas com ela após o episódio.
Por nota, a Secretaria Estadual de Educação informa que as aulas da Escola Vera Cruz voltarão a normalidade nesta quinta-feira (8). Em relação ao ocorrido na tarde desta terça-feira (6), afirma que está acompanhando a investigação, acrescentando que "a violência a professores tem diminuído na rede pública estadual". Conforme dados do Programa Comissões Internas de Prevenção de Acidentes e Violência Escolar (Cipave), do governo do Estado, no primeiro semestre de 2018 foram registrados 175 casos de agressão física a professores nas 2,5 mil escolas da rede pública estadual. No mesmo período do ano passado foram registrados 290, ou seja, houve uma diminuição de 60,3%.
Investigação policial
O delegado César Carrion, da 2ª Delegacia de Polícia, pretende ouvir na tarde desta quarta a mãe dos alunos e entrar em contato com a funcionária que estava com a diretora e com a amiga da agressora. Segundo ele, o fato apresentado até o momento é grave, mas só após ouvir todos os relatos poderá tomar uma decisão se responsabilizará a mulher, ou não. Não há câmeras de segurança que tenham flagrado o ocorrido.