O aumento no número de cursos a distância (EAD) e também no de matrículas nessa modalidade de ensino é uma tendência sem volta. A opinião é da reitora da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Carmen Lucia de Lima Helfer, também presidente do Consórcio das Universidades Comunitárias Gaúchas (Comung).
De acordo com o Censo da Educação Superior, divulgado nesta quinta-feira (20) pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), relativo a dados de 2017, o ensino presencial apresentou queda nas matrículas, e a EAD registrou o maior salto desde 2008 — hoje, responde por 21,2% do total de matrículas em todo o Ensino Superior. Para Carmen, esse movimento de constante expansão na EAD será marcado pela abertura de mais polos de atendimento, maior variedade de cursos, mensalidades com valores em queda, alunos mais jovens e com domínio de tecnologia. Essas características devem fazer com que a EAD tenha melhor aceitação, principalmente no Rio Grande do Sul, onde, segundo a reitora, o modelo ainda provoca certa resistência.
— Temos ainda um caminho a trilhar, mas é um caminho sem volta. Vai haver mais fluxo de matrículas, e o curso presencial vai ter que se renovar. Não pela queda de alunos, mas pela necessidade estratégica de oferecer formações mais flexíveis, interdisciplinares, inovadoras — afirma Carmen.
A reitora da Unisc salienta que essa reinvenção dos cursos presenciais é fundamental para que as universidades possam atender ao aluno "digital" da atualidade.
— Uma interação da educação presencial com a EAD vai possibilitar novos percursos formativos, novas arquiteturas curriculares, com características de empreendedorismo e liderança. Estamos olhando para dentro de nós mesmos para ver o que podemos fazer de melhor para esse jovem que é diferente de tudo que já tivemos — acrescenta a presidente do Comung.
Diretor executivo do Semesp, entidade representativa das instituições de Ensino Superior privadas, que congrega estabelecimentos de todo o Brasil, Rodrigo Capelato também acredita que um formato híbrido, que é uma tendência mundial, parece ser a fórmula mais sustentável e aceitável para a realidade brasileira. O estudante poderia assistir a aulas expositivas via internet, exemplifica ele, e comparecer à faculdade menos vezes por semana com tarefas mais objetivas, como realizar exercícios sob a orientação do professor ou produzir e apresentar trabalhos em grupo.
— Esse contato seria muito mais rico — aposta Capelato.
O diretor destaca que uma reformulação das ofertas é fundamental para que o Ensino Superior continue sendo atrativo para os jovens que, em meio à crise econômica, deixaram de sonhar com a entrada na universidade porque estão premidos pela necessidade de arrumar um emprego e contribuir com o orçamento doméstico.
Não estamos conseguindo aumentar o número de jovens no ensino presencial, e deveríamos investir muito nisso
RODRIGO CAPELATO
Diretor executivo do Semesp
— Quem procura a EAD é um aluno mais velho. É muito mais uma pessoa buscando uma diploma para melhorar sua carreira profissional do que um jovem que quer ser médico, engenheiro. Não estamos conseguindo aumentar o número de jovens no ensino presencial, e deveríamos investir muito nisso. Grande parte dos jovens é de classes mais desfavorecidas, eles não conseguem mais acessar as vagas públicas, que são poucas, não têm mais o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil), que praticamente acabou, e têm o problema da crise. Até pouco tempo atrás, o Ensino Superior estava no radar desses jovens, eles tinham esse sonho. Agora eles nem pensam mais nisso porque têm que trabalhar. Isso perpetua o subdesenvolvimento. Ou a gente forma capital humano para produzir conhecimento, ou vamos continuar sendo esse país de terceiro mundo — comenta Capelato.
Para o presidente em exercício do Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe/RS), Osvino Toillier, a queda no número de matrículas presenciais nas instituições privadas de Ensino Superior não chega a ser uma surpresa e, segundo ele, confirma uma tendência de redução com a qual, lamenta, as entidades particulares estão tendo de conviver desde as mudanças no Fies, aprovadas no ano passado. Das 34 instituições associadas ao Sinepe/RS, apenas 30% se mantiveram no programa nacional de financiamento.
— Essa redução tem a ver com a falência do Fies, que virou uma injunção política de governo quando tinha de ser uma política de Estado. Com as mudanças, as instituições tiveram de assumir a garantia do pagamento do financiamento, então, deixaram de participar. Com isso, o aluno deixou de ter acesso — diz Toillier.
*Colaborou Bruna Porciúncula