Com 26 votos favoráveis e nenhum contrário, a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado aprovou a indicação do economista Gabriel Galípolo, feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para a presidência do Banco Central (BC).
Agora, o nome de Galípolo precisa ser submetido à aprovação do plenário do Senado, o que pode ocorrer ainda nesta terça-feira (8).
Caso seja confirmado, ele sucederá Roberto Campos Neto, cujo mandato se encerra em 31 de dezembro, assumindo um mandato de quatro anos à frente do Banco Central a partir de 2025.
— Toda vez que me foi concedida a oportunidade de encontrar o presidente Lula, escutei de forma enfática e clara a garantia da liberdade na tomada de decisões e que o desempenho da função deve ser orientado exclusivamente pelo compromisso com o povo brasileiro. Cada ação e decisão deve unicamente ao interesse do bem-estar de cada brasileiro — declarou Galípolo em sua fala inicial.
Tópicos da sabatina
Economia brasileira
Galípolo disse que a economia brasileira tem dado sinais de estar em um estágio diferente do restante do mundo. Segundo ele, os dados sugerem que a economia brasileira não está em processo de desaceleração.
— Quando a gente olha para a economia brasileira, ela dá sinais de estar em um estágio diferente de boa parte das economias do mundo. Se pegarmos o início dos anos 2000, tinha uma série de fatores que colaboravam, China crescendo e exportando desinflação e importando commodities. Estados Unidos e Europa com taxas de juros baixas e jogando liquidez no mundo. Hoje, Japão está começando a subir juros depois de muito tempo, China em desaceleração, EUA na discussão de aterrissagem suave ou abrupta — afirmou o economista, durante sabatina na CAE do Senado.
Segundo ele, "os dados do Brasil são de desemprego na mínima da série histórica, renda com crescimento de 12% desde o início de 2023 e uma combinação entre inflação e desemprego que vai estar entre as melhores desde o Plano Real, a indústria no máximo da capacidade instalada dos últimos 11 anos, serviço no máximo dos últimos dois (anos)".
Isso sugere ao BC que a gente deve assistir a um processo de desinflação mais lento e mais custoso. Como não cabe ao BC correr risco, a função é ser mais conservador para garantir que a taxa de juros está no patamar necessário para se atingir a meta que foi definida.
Autonomia
O economista declarou que o Banco Central "está conseguindo passar por esse processo de autonomia de uma maneira bastante estável", mesmo no que ele chamou de um ambiente "relativamente conflagrado da sociedade". Galípolo ressaltou que a instituição "está se consolidando naquilo que é seu mandato".
— Acho que nesse ambiente que a gente tem, relativamente conflagrado da sociedade, o BC está conseguindo passar por esse processo primeiro de autonomia de uma maneira bastante estável, se consolidando com decisões que não se deixam invadir por questões externas, mas que também não evade a suas atribuições. Ele está ali se consolidando naquilo que é seu mandato — afirmou.
A explicação se deu porque Galípolo se recusou a responder questionamentos sobre regulação das apostas eletrônicas e sobre a Receita Federal e a Petrobras.
— Por isso vou me furtar de fazer qualquer tipo de comentário sobre o que é atribuição da Receita, Petrobras, regulação de Bolsa Família ou bet. Boa parte do êxito e do bom convívio que a gente tem ali, em uma diretoria de indicados de governos distintos, mas que tem conseguido um elevado grau de coesão ali dentro — completou.
Relação entre BC e Executivo
O indicado à presidência do BC destacou sentir que "frustrou as expectativas" de que a sua chegada à autarquia, em meados do ano passado, causaria uma ampla disputa dentro da diretoria.
Sinto que eu gerei uma grande frustração, talvez, na expectativa que existia de que ao entrar no Banco Central fosse começar um grande reality show, com grandes disputas e brigas ali dentro.
GABRIEL GALÍPOLO
Ex-secretário-executivo da Fazenda na gestão Haddad, Galípolo foi indicado para a diretoria de Política Monetária do BC em julho do ano passado, com o objetivo de "harmonizar" a relação entre a autoridade monetária e a equipe econômica.
Na sabatina, o diretor afirmou que tem "a melhor relação possível" tanto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quanto com o presidente do BC, Roberto Campos Neto.
— Faço uma mea culpa: eu gostaria de, dentro das minhas funções, ter colaborado para que essa relação entre o Banco Central e o próprio Poder Executivo fosse melhor ainda do que ela tem sido — pontuou.
Galípolo não respondeu a um questionamento do senador Izalci Lucas (PL-DF), que havia perguntado se Galípolo considera as críticas de Lula a Campos Neto "justas".
Tomada de decisões
O diretor de Política Monetária do Banco Central disse que sempre ouviu do presidente da República a garantia da liberdade na tomada de decisões da instituição.
— Toda vez que me foi concedida a oportunidade de encontrar o presidente Lula, eu escutei de forma enfática e clara a garantia da liberdade na tomada de decisões e que o desempenho da função deve ser orientado exclusivamente pelo compromisso com o povo brasileiro, que cada ação e decisão deve unicamente ao interesse do bem-estar de cada brasileiro — relatou.
Galípolo comentou ser um privilégio ter sido indicado para presidir o Banco Central pelo presidente Lula.
— Estar indicado pelo presidente Lula é uma grande honra e enorme responsabilidade — agradeceu.
Ele também salientou que compete ao Banco Central ser o guardião da moeda.
— A confiança depositada à instituição é um dos pilares centrais da sociedade civil organizada como nós conhecemos. Então isso por si só já é uma enorme responsabilidade. Essa responsabilidade é amplificada pelos desafios impostos, pelo quadro histórico em que a gente vive, mas também pela confiança que é depositada em mim e em toda a diretoria do Banco Central — mencionou.
Galípolo disse que, apesar de poder estar "meio fora de moda", a tentativa é de evitar antagonismos e desavenças para tentar construir e exaltar a convergência e o diálogo.
— Faço questão de reafirmar: todas as conversas com as senadoras e senadores, independente do partido, se oposição ou situação, também foram todas no sentido de me assegurar a liberdade na gestão e de manter o compromisso com o nosso povo e com o nosso país — descreveu.