A reunião que deve definir a primeira alta no juro básico do país após dois anos começa nesta terça-feira (17), em Brasília. Integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) se reúnem até quarta-feira (18) para atualizar a Selic. A decisão costuma sair após as 18h de quarta, mas a maior parte do mercado já projeta a elevação da taxa, que está em 10,50% ao ano.
Caso essa estimativa se confirme, seria o primeiro acréscimo no juro desde agosto de 2022. Crescimento da economia acima do esperado, previsão de inflação elevada e necessidade de reforçar atuação vigilante no controle dos preços são alguns dos motivos que explicam esse viés de alta, segundo especialistas.
A maior parte dos especialistas estimam uma uma adição de 0,25 ponto percentual, elevando a Selic para 10,75% ao ano. Divulgada nesta segunda-feira (16), a última edição do Relatório Focus, documento do BC que concentra as expectativas de mercado, aponta para elevação nesse patamar. Segundo as estimativas, essa seria a primeira de pelo menos três altas consecutivas, com a Selic fechando o ano em 11,25%.
O professor de economia da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/EESP) Joelson Sampaio afirma que as estimativas que apontam para inflação ainda elevada no próximo ano pressionam o Copom a optar pela alta da Selic:
— Quando a gente olha o que o Banco Central mira, ele está olhando a expectativa, o quanto que os agentes esperam que a inflação futura seja. Nesse sentido, para 2025, a gente ainda tem um IPCA, de certa forma, elevado. Para essa inflação futura começar a cair, o Banco Central pode tomar essa decisão de aumento da taxa de juros na próxima reunião.
Sampaio acredita em acréscimo de 0,25 ponto na próxima reunião, com um colegiado menos rigoroso nesse início de novo ciclo.
Reforço na credibilidade
O economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira, afirma que existe espaço para elevação de 0,50 ponto percentual. Oliveira afirma que existem três fatores principais que explicam essa análise: desaceleração da demanda, controle mais célere da inflação e reforço na credibilidade da política monetária:
— Não acredito que o Banco Central está fazendo a elevação de juros apenas para ganhar credibilidade. O ponto não é esse. Mas você acaba, obviamente, do ponto de vista estratégico, maximizando a potência do canal de transmissão quando você adota uma postura mais restritiva.
Oliveira estima três altas consecutivas de 0,50 ponto percentual na Selic até o final do ano. Na avaliação do economista, a postura da autoridade monetária vai abrir espaço para reversão do juro básico nos próximos anos em um ambiente de inflação mais controlada:
— Provavelmente no final do segundo semestre do ano que vem e em parte de 2026 a gente vai ver queda de juros. Então, de certa forma você sobe um pouco agora, coloca em cima do neutro para fazer uma queda até mais acentuada lá na frente.
Fatores que devem pesar no aumento da Selic
- Indicadores mais recentes de emprego e atividade mostram economia crescendo acima do esperado, acendendo alerta para a inflação. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,4% no segundo trimestre de 2024, acima das estimativas de mercado, que já revisa para cima o crescimento do país neste ano.
- Atividade mais aquecida tende a provocar aumento no consumo, que pressiona a inflação. Com expectativa de inflação mais alta, o Copom tende a elevar o juro para controlar a demanda.
- Com a expectativa do mercado para a inflação futura elevada, o aperto monetário também reforça o compromisso do BC com a meta.
- Sinais que apontam para dificuldade no cumprimento das metas fiscais por parte do governo federal também mantêm um sinal de alerta no âmbito da política monetária.
- O cenário externo pressiona menos, mas segue no radar. Se de um lado a previsão de começo do corte no juro dos Estados Unidos a partir desta semana alivia, do outro, a desaceleração da economia da China e o impacto no comércio internacional preocupa.
- Fontes: economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira, e professor de economia FGV/EESP Joelson Sampaio