Em um momento onde a indústria do Rio Grande do Sul tenta sair do vermelho e engatar recuperação, o setor moveleiro tem destaque na busca por tração. Com peso importante na categoria, o ramo de fabricação de móveis acumula alta de 8,9% em 2024, segundo pesquisa de desempenho da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs).
O crescimento é um dos maiores dentro da indústria no período. O faturamento do setor também apresenta salto neste ano, com avanço de 12,2%, conforme dados da Associação das Indústrias de Móveis do Estado (Movergs). Economia progredindo acima do esperado no país e expansão da demanda após a inundação estão entre os principais fatores que explicam essa movimentação, segundo especialistas.
No acumulado de janeiro a julho deste ano, a indústria moveleira do Estado registrou R$ 7,4 bilhões em faturamento, segundo dados da Movergs. No mesmo período de 2023, essa cifra ficou em R$ 6,6 bilhões.
O presidente da entidade, Euclides Longhi, afirma que esse salto responde a uma série de fatores, como avanço da atividade econômica no país e necessidade de compra de móveis no Estado em um ambiente de reconstrução pós-inundação:
— A maior parte das cidades perdeu uma boa parte dos seus móveis ou todos. Então, essa bolha, realmente, ainda está grande.
Longhi explica que a expansão do setor ocorre com mais intensidade na área de móveis populares, porque parte da população mostra menos segurança em investimentos mais robustos nesse momento. No entanto, afirma que o segmento de mobiliários das classes A e B já começa a avançar em vendas. O executivo também afirma que esse crescimento do faturamento não significa lucro expandindo na mesma proporção entre as empresas. Isso porque muitas empresas diminuíram margens ou doaram móveis em meio ao auxílio aos afetados pela inundação.
Divulgado nos últimos dias, o dado da pesquisa mensal da indústria, do IBGE, também reforça o momento da indústria moveleira. O levantamento aponta que a produção física do segmento acumula salto de 12,5% no ano.
Peso na indústria
No ano, a indústria gaúcha acumula queda de 1,9%, mas apresentou dois meses seguidos de alta até julho. Na contramão da maioria dos segmentos, além da indústria moveleira, o ramo de veículos automotores, que teve alta de 12% no Índice de Desempenho Industrial (IDI), da Fiergs, também tem destaque. O indicador é obtido por meio de variáveis como faturamento, compras, horas trabalhadas e emprego.
Segundo a Fiergs, o setor moveleiro ocupa a 10ª posição em participação no Valor da Transformação Industrial (VTI) do Rio Grande do Sul, o que destaca a relevância dentro da indústria de transformação do estado. Após as enchentes de maio, essa área continuou avançando. Junto de setores como construção e reparação de máquinas, a fabricação de móveis está entre os principais responsáveis pela busca por recuperação no Estado, conforme dados da Fiergs.
Como a retomada da indústria geral no Estado ocorre diante de fatores pontuais, como aumento de demanda em segmentos específicos no pós-inundação, alguns integrantes do setor afirmam que são necessários avanços estruturais para crescimento mais sustentável do setor como um todo.
Polo na Serra
A vice-presidente do Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves (Sindmóveis), Priscila Manfroi, afirma que essa aceleração também é observada na região. O polo moveleiro apresentou alta de cerca de 10% no faturamento no primeiro semestre, segundo a dirigente. Ela afirma que esse movimento cria ambiente para investimentos e renda:
— Isso também gerou mais renda, mais emprego para o povo gaúcho e para o povo da nossa região. Teve um acréscimo de contratações da indústria moveleira aqui de Bento Gonçalves, motivada por esse aumento de faturamento e também por um segundo semestre que, sazonalmente, dentro do varejo, do mercado, costuma ser mais positivo.
O diretor comercial da Cavaletti, Loivo Bombana, afirma que o momento do setor também é observado na operação da empresa, que atua no segmento específico de móveis para escritório. A empresa, que tem sede em Erechim, observa crescimento de cerca de 20% ante o ano anterior. Bombana atribui a alta a uma conjunção de fatores, como sequência de investimentos da companhia, melhora no ambiente econômico do país, maior demanda externa e reconstrução após inundação no Estado:
— As empresas também estão buscando reconstruir. Além disso, elas têm outro fator que é o fator motivacional. Dar um bom ambiente de trabalho, dar um bom móvel para o colaborador que está voltando de um período difícil também aumenta a autoestima.
Próximos meses
O presidente da Movergs estima que, após saltos em julho e agosto, o setor deve entrar em uma rota de normalidade no segundo semestre. Problemas no fornecimento e insumo é um dos fatores que seguram a continuidade da aceleração, segundo Longhi:
— Eu vejo o setor dentro de uma regularização mais natural, porque temos um problema de matérias-primas, inclusive. Tem uma dificuldade muito grande no mercado de chapas.
A vice-presidente do Sindmóveis de Bento Gonçalves destaca que, sazonalmente, o segundo semestre costuma ser melhor para o setor moveleiro. No entanto afirma que desafios como juro alto diante de acenos da inflação podem pesar no outro lado da balança, mesmo com demanda acelerada.
— Isso aumenta os juros de financiamento e impacta no consumo, na compra de móveis e consequentemente afeta diretamente o nosso setor — avalia Priscila Manfroi.