A busca por uma agricultura mais sustentável mobiliza diferentes estratégias no Rio Grande do Sul. Um dos exemplos destacados pela área técnica da Embrapa no Estado é o da Estância Guatambu, localizada em Dom Pedrito, na região da Campanha. A propriedade aplica um conjunto de ações destinadas a reduzir emissões de carbono e a aumentar a produtividade que incluem plantio direto, integração lavoura-pecuária, rotação de plantio e melhoria das condições do solo com o uso de componentes desenvolvidos em uma biofábrica localizada na própria fazenda, onde a produção vai de cabeças de gado a soja, arroz, milho, forrageiras e até vinho.
— Quando se faz a integração de atividades e a rotação de plantio, uma atividade se beneficia da outra. Por exemplo: não precisamos trabalhar sempre com adubação. Se eu adubo bem para a soja, e deixo a terra com fertilidade, a pastagem vai reciclar os nutrientes. Desenvolve mais a pastagem, aumenta a produção de grãos, melhora a condição do solo, e a quantidade de carne por área — explica o produtor rural Valter Pötter, responsável pelo comando da estância.
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Pelo método empregado na Guatambu, uma mesma área pode receber plantio de arroz, depois ser semeada com pastagem rasteira e servir por alguns anos para pecuária de corte. Além disso, a terra é pulverizada com um composto preparado em uma biofábrica que inclui bactérias e fungos selecionados, a partir de uma análise prévia do solo, para potencializar a fertilidade. A técnica já permitiu uma redução de 30% no uso de insumos químicos, e o objetivo é ampliar esse índice a 50% e, futuramente, abrir mão de vez.
Por meio de ações de melhoramento genético, que seleciona os animais que apresentam maior ganho de peso com menor necessidade de consumo, se consegue ainda reduzir o ciclo de abate. Com auxílio de pastagens de alto rendimento, é possível abater o gado com pouco mais de um ano de idade. Isso também reduz o impacto ambiental e diminui as emissões de carbono por unidade de carne produzida. Segundo a Radiografia da Agropecuária Gaúcha de 2022, elaborada pela Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi/RS), apenas 5,5% dos bovinos abatidos no Rio Grande do Sul em 2021 tinham idade abaixo de 12 meses. Quase metade do número total de abates (49,2%) foi de animais com mais de 36 meses.
— No momento, estamos com seleção por sequenciamento genômico, o que permite identificar os animais superiores. Isso permite selecionar os animais que, mesmo comendo menos, ganham mais peso — complementa Pötter.
Meta do Estado é expandir tecnologias
Em todo o Estado, o governo gaúcho tem como meta estimular estratégias de agricultura de baixo carbono por meio do Plano Estadual de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (ABC+RS). A meta atual é expandir tecnologias como integração, plantio direto, florestas e manejo de solo, entre outras, em 4,6 milhões de hectares até 2030. O resultado prático disso seria uma redução de cerca de 75 milhões de toneladas na emissão de dióxido de carbono.
— O plano é nacional, mas cada Estado tem de fazer ações com base em oito tecnologias. Delas, duas têm relação mais direta com a produção pecuária, que são práticas de recuperação de pastagens degradadas e a melhoria do campo nativo, por meio de iniciativas como a sobressemeadura, a introdução de forrageiras ou leguminosas no campo nativo. Isso faz com que os animais ganhem mais peso — complementa o engenheiro florestal da Seapi/RS e coordenador do Plano ABC+RS, Jackson Brilhante.