Em um cenário de economia fraca e malabarismo para pagar as contas em dia, o seguro veicular segue entre os itens que pressionam o orçamento dos donos de veículos. O valor desse serviço cresceu 23,68% no acumulado de 12 meses fechados em abril na região metropolitana de Porto Alegre.
Os dados são do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial de inflação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No mesmo período, a inflação teve alta de 3,71% na Grande Porto Alegre. Aumento nos preços de reparação, valorização dos bens e alta no preço dos serviços oferecidos nos contratos ajudam a explicar seguro mais caro, segundo especialistas. No entanto, estimam melhora para os próximos meses, com equilíbrio nos preços após picos.
Cleverson Veroneze, diretor do Sindicato das Seguradoras do Estado (Sindseg-RS), afirma que a volta da mobilidade após o momento mais crítico da pandemia aumentou a sinistralidade, que é o volume de incidentes que as seguradoras indenizam, após um período de preços mais baixos. Esse processo, junto do aumento do dólar e dos custos, forçou as empresas a organizarem os preços, segundo o dirigente.
Perdas parciais, que incluem reparos, peças e mão de obra, serviços, como assistência 24 horas e carro reserva, e indenização integral com valores mais altos estão entre os principais itens que elevam o valor final dos seguros, segundo o dirigente. Na parte das indenizações, Veroneze cita a valorização dos bens, como um dos responsáveis pela alta:
— A indenização integral por perda total ou por roubo está diretamente ligada não necessariamente a sua incidência, mas ao aumento do valor dos bens. Por exemplo, tinha um carro que valia R$ 50 mil há três anos atrás, que era para ter desvalorizado algo em torno de 10% ao ano. Mas esse carro teve um pico de 30% depois da pandemia e não regrediu esse valor.
Essa avaliação vai ao encontro da análise do economista Raphael Galante, da Oikonomia Consultoria Automotiva. O especialista afirma que o aumento nos preços dos veículos observado nos últimos anos tem peso importante na variação do valor do seguro:
— Lembre-se que existe uma cláusula no seguro que paga o valor do carro em caso de perda total. Por isso, as seguradoras aumentaram os valores cobrados. O prêmio aumentou.
O presidente do Sindicato dos Corretores de Seguros do Rio Grande do Sul (Sincor-RS), André Thozeski, também cita o aumento expressivo de indenizações, resgates, benefícios e sorteios pagos pelo setor de seguros em 2022 como fator determinante para a curva de alta nos preços. Apenas no Estado, foram pagos R$ 7,3 bilhões em indenizações no ano passado — valor 47% maior ante 2021, segundo levantamento do Sincor-RS. Esse dado leva em conta todos os ramos.
“Vê-se que as indenizações cresceram absurdamente ano após ano desde 2019. Era natural que os custos das apólices de seguros necessitassem de correções, de realinhamentos para fazer frente a tamanhos volumes de indenizações”, destaca Thozeski em comunicado.
Mesmo ainda em patamar elevado e com crescimento, a alta do valor do seguro veicular no acumulado de 12 meses apresenta desaceleração nos últimos meses. Se olhar o recorte do acumulado do ano, de janeiro a abril, a variação mostra queda (veja abaixo). Integrantes do setor afirmam que esse movimento faz parte de um processo de acomodação. Após os picos de reajustes em 2022, o segmento começa a mostrar correção em patamares mais próximos da normalidade.
Busca por preços mais em conta
Ricardo Padilla, sócio-diretor da R.Padilla Corretora de Seguros, afirma que o cliente tem duas linhas de raciocínio distintas. Na primeira, ele pensa em chegar no menor valor possível sem levar em conta os riscos futuros. Na outra, tenta obter o melhor retorno no momento do sinistro, se dando conta que o serviço contratado não tinha a melhor assistência. Nesse sentido, reforça a importância do corretor profissional:
— O corretor vai ajudar a chegar nesse ponto de equilíbrio.
O médico José Eduardo Carvalho, 60 anos, é um dos clientes que se assustou com o aumento no preço do seguro na renovação do contrato neste ano. Em um primeiro momento, o reajuste ficou na casa dos 40%, segundo o médico, que mora em Porto Alegre. Diante disso, ele iniciou conversa com a corretora para chegar em um valor menor, mas sem perder a maior parte dos itens de seu pacote, como danos materiais e seguro contra terceiros:
— Pedi que o corretor fizesse uma busca mais intensa com as operadoras de seguro. E ele conseguiu baixar para 30% em relação ao ano passado, mas com um valor bastante alto.
O diretor do Sindseg-RS estima o fechamento de 2023 marcado por desaceleração no patamar de alta do preço dos seguro veicular:
— Quando você olha e projeta o segundo semestre, dado o cenário atual, já se projeta aumentos de prêmios mais amenos, menos robustos.
O corretor Ricardo Padilla compartilha análise na mesma linha, projetando acomodação dos reajustes de preços após as correções observadas no ano anterior, que foi ruim para seguradoras, corretores e clientes:
— A tendência é equilibrar, chegar em um ponto de equilíbrio, subir de acordo com a inflação ou até em patamar menor.
Dados do IPCA-15, considerado a prévia de inflação, corroboram a estimativa dos integrantes do setor. O indicador divulgado nas últimas semanas mostra que o grupo de seguro veicular recuou 1,26% em maio na variação mensal na Grande Porto Alegre. Em 12 meses, a inflação no setor desacelerou para 12,47% na prévia.
Dicas para se sair bem na hora de escolher o melhor seguro:
Abaixo, alguns apontamentos elaborados com o auxílio de fontes consultadas na matéria:
- Analise o perfil de uso do veículo para escolher o melhor custo/benefício, de acordo com as principais necessidades.
- Verifique se a empresa seguradora é supervisionada pela Superintendência de Seguros Privados (Susep). Isso garante maior proteção na contratação do serviço.
- Cote o serviço com empresas diferentes. Como existe uma competição de mercado, isso pode ajudar a encontrar preços mais em conta.
- Tente chegar em um meio termo entre valor mais em conta e proteção maior. Pensar em qual cobertura será a mais adequada em cada uma das situações. Olhar apenas para o valor final pode deixar o consumidor insatisfeito em algum tipo de sinistro.
- Consultar corretores profissionais, com registro na Susep, pode auxiliar em todos esses processos. Eles facilitam a busca por seguro mais adequado de acordo com o perfil de cada cliente.