Enquanto não sai a regra do governo federal dos descontos em veículos, concessionárias estão apreensivas. Presidente do sindicato do setor (Sincodiv-RS), Paulo Siqueira teme que locadoras abocanhem os carros populares, sem sobrar os baratos para o consumidor. Elas renovam frotas comprando diretamente da montadora e em grande quantidade, o que, aliás, sustentou as vendas no primeiro trimestre de 2023, informaram as montadoras no balanço trimestral.
Um mecanismo limitando unidades por CPF e CNPJ evitaria isso, entende Siqueira. Claro que há uma dor setorial, que fica de fora quando ocorrem vendas diretas da montadora, mas, ocorrendo o que as concessionárias alertam, o consumidor ficará a ver navios após ter criado expectativa de comprar o carro zero.
A demora da regra também fez o cliente segurar a compra e a venda caiu lá embaixo. Aqui no Rio Grande do Sul, por exemplo, a General Motors (GM) anunciou um novo período de férias coletivas, de 10 dias, para junho. No varejo, um dos impactos foi o cancelamento por parte dos consumidores de compras de veículos já engatilhadas.
À tarde passada, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o pacote foi validado por Lula. O anúncio está previsto para segunda-feira (5). O programa terá benefícios para carros até R$ 120 mil, com descontos entre 1,5% e 10,96%. Saber o detalhamento é importante para o setor se programar. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos (Anfavea) apresentará o balanço de maio na semana que vem e gostaria de já ter as informações para prever as vendas das próximas semanas. As medidas devem ser por medida provisória, que deve ser encaminhada ainda nesta sexta-feira (2) à Casa Civil.
Atualização: Presidente do Conselho Nacional da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (ABLA), Marco Aurélio Gonçalves Nazaré procurou a coluna para argumentar que, caso as medidas governamentais não contemplem pessoas jurídicas, levaria a uma forte e rápida redução nas compras pelas empresas, que não seria compensada pela demanda de pessoas físicas, o que afetaria a produção e o emprego no setor automotivo, com aumento nos preços dos carros. Ele defende que o incentivo seja oferecido de "forma isonômica" para alcançar o objetivo de estimular o setor, sem causar distorções de mercado.
"Caso a redução não seja isonômica para PF e PJ, o preço de compra se manterá, mas o preço de venda do carro iria se adequar conforme o preço do carro novo, caindo cerca de 20% (considerando, se confirmada, a redução das alíquotas de ICMS+IPI). Esse cenário mais do que dobraria a depreciação econômica, implicando na necessidade de repasse da tarifa de aluguel entre 35-50%, com consequente colapso da demanda pelos serviços de quase 23 mil empresas de locação."
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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