O volume de adaptações de veículos para gás natural veicular (GNV) sofreu queda abrupta na largada deste ano no Rio Grande do Sul. No primeiro trimestre, o total de conversões para esse tipo de combustível caiu 81,82% ante o mesmo período do ano passado no Estado. Os dados fazem parte de levantamento do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-RS), órgão responsável por esse registro.
Valor do GNV próximo ao da gasolina, que afeta a competitividade, e reduções recentes de impostos em outros combustíveis ajudam a explicar esse movimento, segundo empresa do setor e categorias de motoristas profissionais. Em paralelo a esse processo, oficinas especializadas na instalação de kits GNV enfrentam busca por desinstalação do equipamento.
No acumulado de janeiro a março de 2023, o Estado registrou 195 conversões para GNV, conforme os dados do Detran-RS. No mesmo período do ano passado, esse montante ficou em 1.073. Os dados levam em conta todos os tipos de veículos que passaram por esse tipo de adaptação.
“Fomos bastante impactados com as alterações tributárias e tivemos redução de 40% de nossas vendas com GNV, porém, com o retorno dos impostos na gasolina já sentimos o reflexo nas vendas”, afirmou o diretor comercial da Sulgás, Silvio Del Boni, por e-mail.
O dirigente destaca dois movimentos. O primeiro é marcado pelo trabalho da Sulgás em campanhas de esclarecimento para manutenção de clientes. O segundo ocorre no âmbito futuro, onde o retorno dos impostos já retoma a competitividade do GNV, refletido no aumento das vendas.
“Outro olhar da Companhia no momento é o GNV para frotas pesadas, em que o Rio Grande do Sul tem uma das maiores frotas de veículos pesados a GNV do Brasil”, complementa o executivo da empresa.
O porta-voz da Sulgás destaca que, com os preços médios que estão sendo praticados hoje na bomba, o GNV é cerca de 21% mais eficiente que a gasolina.
Impacto nas oficinas
O diretor-presidente do Sindicato dos Taxistas (Sintáxi) de Porto Alegre, Luiz Nozari, destaca que, mesmo em um cenário onde o GNV segue mais vantajoso na economia em relação a quilometragem, o alto custo para manter a adaptação afeta o setor:
— Quem tem GNV no carro carrega um cilindro, que pesa. É um passageiro a mais permanentemente. Traz muitas despesas com manutenção, precisa fazer vistorias do gás, requalificação dos cilindros. São mais despesas que, no momento, não tornam vantajoso. Não vale a pena ter.
A presidente do Sindicato dos Motoristas em Transportes Privados por Aplicativos do Estado do Rio Grande do Sul (Simtrapli-RS), Carina Trindade, também cita o alto custo para manter o sistema e a diferença pequena entre os preços absolutos da gasolina e do GNV (veja mais abaixo) como fatores que afastam a categoria do uso desse combustível:
— Acaba sendo um custo muito alto para manter o GNV dentro do veículo. Acabou que a grande maioria retirou os kits de GNV dos seus veículos.
Esse movimento de aumento na busca por desinstalação de kits de GNV é observado na oficina R&A Serviços Automotivos, no bairro Navegantes, em Porto Alegre. Há cerca de oito anos no mercado, o local já chegou a fazer 20 conversões por semana em um passado recente. Entre janeiro e março, o local realizou três adaptações. No momento, os trabalhos no local estão mais ligados à manutenção e retirada de equipamentos. Em alguns dias, a empresa chega a realizar cerca de três desinstalações, segundo o proprietário, Rafael Rocha. O empresário afirma que o cenário atual afeta o caixa da empresa e investimentos em mão de obra:
— O quadro de funcionários já reduziu duas vezes e, se continuar assim, vai ter que sofrer mais uma redução. Eu tinha sete mecânicos na oficina. Agora, só tenho dois.
O empresário e os representantes de motoristas afirmam que uma queda no preço do produto pode reaquecer a procura por esse combustível e, consequentemente, pelas instalações. Na última segunda-feira (1º), entrou em vigor a redução média de 8,1% no preço do gás natural, anunciado pela Petrobras em abril. A Sulgás informou que o produto terá redução no Estado, mas destacou que os repasses do custo do gás pela Sulgás são integrais, “porém não acompanham a mesma periodicidade daqueles praticados pela Petrobras nos contratos de suprimentos”.
“Além do preço do gás, as tarifas de gás natural são compostas pela margem da distribuidora e pelos impostos e são homologadas pela agência reguladora (AGERGS) a cada reajuste ou revisão tarifária”, afirmou o diretor comercial da empresa.
Aumento na rede de abastecimento
Em outra ponta, olhando pelo lado da rede de abastecimento via GNV, números da Sulgás mostram crescimento. Em cinco anos, a região metropolitana de Porto Alegre teve um aumento de 47,9% no número de postos que vendem GNV. Conforme dados da Sulgás divulgados a pedido de GZH, em 2018, eram 48 postos, frente a 71 neste ano nas cidades de Porto Alegre, Cachoeirinha, Esteio, Viamão, Alvorada, Canoas, Gravataí e Sapucaia do Sul. Quando comparado este ano com 2022, há estabilidade: no ano passado, eram 70.
No que se refere ao número no Estado inteiro, no mesmo período, a ampliação foi de 32,9% — de 85 para 113. Entretanto, mais da metade fica na Região Metropolitana.
“Nota-se um crescimento no número de postos ao longo dos anos no Estado, com crescimento de 10% de 2022 para 2023 (103 para 113). Apesar dos impactos da tarifa, isso mostra que este mercado continua tendo grande importância para a Sulgás”, explica o Diretor Comercial da Companhia, Silvio Del Boni.
Apesar de algumas regiões do Rio Grande do Sul não terem postos que vendem o GNV, a expectativa da Sulgás é de novos estabelecimentos com o produto nos próximos meses. O retorno dos impostos dos combustíveis, que retoma a competitividade do gás natural, e uma frota robusta de veículos pesados usando o GNV são fatores que explicam essa tendência de expansão, conforme a companhia.
“Temos novos postos em etapas distintas de seu processo de implantação que estarão disponibilizando o combustível nos próximos meses. Com a chegada do Gás Natural em Gramado, teremos o primeiro posto de GNV na região, permitindo o fechamento da rota para taxistas e transportes do aeroporto Salgado Filho a região das Hortênsias”, afirma Del Boni.