O que começou com vaias a Eduardo Leite (PSDB) e gritos de apoio ao seu colega de Minas Gerais, Romeu Zema (NOVO), terminou com aplausos do público que participou do principal painel da abertura do Fórum da Liberdade, nesta quinta-feira (13), em Porto Alegre.
— Parabéns, Zema, estão todos gritando pra ti aqui — foi a primeira frase dita por Leite, logo após o anúncio de seu nome no protocolo oficial do evento, em reação às manifestações negativas que lhe eram endereçadas pela plateia.
Mas, bastou assumir a palavra, depois da primeira fala de Zema, para que o cenário e, sobretudo, os ecos no Auditório de Eventos da PUCRS, mudassem de tom, sem poupar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente Jair Bolsonaro de críticas mais contundentes no decorrer de sua participação.
— Estamos aqui para falar de liberdade. A liberdade é de vaiar também e não há problema algum, estou na vida pública há 20 anos. A liberdade é de escolha e, no caminho, eu optei por uma vida dedicada ao serviço público para o qual eu me dedico desde os 19 anos. No primeiro ano de Palácio Piratini, ouvi vaias de 10 mil manifestantes por conta das reformas estruturantes necessárias e que envolviam a carreira e previdência de servidores. Eu tinha o MBL de um lado e movimentos sindicalistas de outro — declarou ao arrancar as primeiras palmas, ainda tímidas dos espectadores.
E prosseguiu para ganhar de vez a sustentação da grande maioria das pessoas presentes — algumas delas, até então, com cartazes de protesto em mãos:
— Não há caso de país próspero em que a inciativa privada tenha sucesso, quando o Estado está desorganizado. Mais do que um comício, venho para falar de ideias. Há quatro anos, as trouxe aqui, quando tínhamos (Zema e eu) Estados com alíquotas majoradas e contas em atraso. Agora, estamos os dois com as obrigações em dia e investimentos sendo feitos.
Zema já havia exaltado semelhanças entre as situações de Minas e do Rio Grande do Sul. Segundo ele, a adesão ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF), entre outras estratégias de gestão, “mais aproximavam do que afastavam” os debatedores. Os resultados: Minas subiu de quase dois pontos de participação do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, em razão do que constatou como maior liberdade para atração de investimentos.
Semelhanças
De fato, no palco estavam duas trajetórias bastante compatíveis com parecidos problemas a gerir. Ambos assumiram seus cargos nas urnas em 2018, quando Jair Bolsonaro chegou à presidência, e conquistaram a reeleição no ano passado. No meio do percurso, entretanto, os dois ganharam papel de destaque e projeção nacional em seus partidos.
Zema, de um lado, conduziu em definitivo o NOVO ao caminho do apoio a Bolsonaro, mesmo que o partido tivesse chapa na disputa de 2022. Leite pleiteou a candidatura tucana e, assim como lideranças históricas do PSDB do passado — caso do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso —, acabou ao lado de Lula, na disputa do segundo turno que o reconduziria ao Palácio do Planalto para o seu o terceiro mandato.
— Assim como o Eduardo (Leite), eu peguei um Estado quebrado e tenho um partido problemático — resumiu Zuma ao responder a primeira pergunta dos participantes.
Segundo ele, agora, é preciso adaptar o discurso das siglas mais alinhadas com o campo liberal. É o caso, justamente, do NOVO e do PSDB:
— Temos slogan que é um privatiza tudo, que mais atrapalha do que ajuda. Temos que adaptar. Não podemos falar em livre mercado para o grande público, mas, sim, levar que queremos que as pessoas tenham trabalho e garantir que quem quer empreender não enfrentará obstáculos. É o que a esquerda faz muito bem, só que de maneira mentirosa e que serve para manipular.
Críticas
A fala de Zema direcionou de vez a conversa para o cenário eleitoral de 2026. À vontade e novamente em casa, Leite, que já havia criticado o marco fiscal pretendido pela equipe econômica do governo federal, por considerá-lo uma proposta “que premia o aumento da arrecadação, sem discutir a eficiência do gasto público”, se apegou na privatização da Corsan para demonstrar discordância com a condução do país.
— Ouvi do presidente da república que as estatais do saneamento precisam de um voto de confiança, para justificar mudanças que mexem no marco legal do setor. Tiveram décadas para fazer. É hora de dar oportunidade para a iniciativa privada. As pessoas não querem uma estatal de saneamento, elas querem esgoto e água tratados em casa — disse.
Aos que pensaram que o discurso era algum tipo de realinhamento com os apoiadores de Bolsonaro, o governador gaúcho emendou. Afirmou que, para ele, apesar do histórico antagonismo entre tucanos e petistas e do apoio aos velhos rivais em 2022, as circunstâncias não tendem a se repetir.
— Divergimos sobre o tamanho do Estado, as privatizações e reformas. Mas não compactuamos com o preconceito e a intolerância que identifico nos últimos anos no país. Defendemos a liberdade e isso também é liberdade de escolha, da orientação sexual e não apoiamos ataques contra raça e credos. Por isso, 2026 não é um projeto pessoal meu. É sobre estar do lado de quem se opuser ao que esteve lá no passado (Bolsonaro) e está agora (Lula); e temos, para isso, um bom nome aqui na mesa (Romeu Zema). Em 2026, não quero ter de escolher o que eu não quero, quero que as pessoas possam escolher com os próprios sonhos — arrematou.