A paralisação promovida por algumas das principais montadoras de veículos do país em linhas de produção acendeu sinal de alerta na indústria de autopeças no Rio Grande do Sul. Com parte da carteira de clientes ligada às fábricas de automóveis, esse segmento também teme retração no volume de pedidos e, consequentemente, nos investimentos voltados para as unidades.
Volkswagen, General Motors (GM), Hyundai e Mercedes-Benz estão entre as montadoras que anunciaram paralisação nos últimos dias em algumas unidades no país, concedendo férias coletivas para parte dos colaboradores. Falta de equipamentos e impactos da alta do juro e da inflação nas vendas de veículos estão entre os principais pontos citados pelas empresas.
O vice-presidente de Relações Institucionais do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul e Região (Simecs), Ruben Antonio Bisi, afirma que o setor de autopeças no Estado ainda não sentiu um impacto direto dessa parada das montadoras. No momento, o cenário é marcado pelo "pé no freio" nos investimentos, segundo o dirigente. Bisi explica que essa cautela ocorre diante da incerteza em relação ao futuro:
— Todos estão em compasso de espera, não estão fazendo investimentos, contratando mais pessoal, praticamente não estão repondo trabalhadores nas vagas que estão fechando. Estão aguardando, nesse compasso.
Bisi afirma que abril será o mês decisivo para avaliar o impacto da parada do setor automotivo no ramo de autopeças. Se a pausa vai persistir e afetar a produção desse segmento em maior escala. O executivo avalia que o governo federal precisa avançar em temas importantes, como a nova regra fiscal, para criar um ambiente com previsibilidade, onde é possível aquecer a economia e ativar os setores.
A região de Caxias do Sul é um dos principais polos da indústria metalmecânica no Estado e abriga diversas fábricas de autopeças, responsáveis por itens que vão desde pastilhas de freio até eixo virabrequim, componente do motor de automóveis.
A Keko Acessórios, com sede em Flores da Cunha, registrou redução nos pedidos de montadoras para linha de montagem para os próximos meses, mas destaca que conseguiu mitigar o efeito dessa retração com a demanda do aftermarket e exportação, que conta com vendas para lojas multimarcas por exemplo.
A gerente de Marketing da Keko, Liliam Mantovani, afirma que a empresa vai discutir o impacto da paralisação das montadoras nas próximas semanas. Avaliação sobre a capacidade atual de produção diante do impacto na demanda é um dos pontos que serão tratados:
— Nesta semana, a gente já deve começar uma reunião para discutir isso. Fazer uma nova previsão de vendas e entender se a nossa capacidade instalada está adequada à nova demanda ou não.
Liliam afirma que, nesse primeiro momento, caso o efeito de redução de pedidos por parte das montadoras persista, uma das medidas estudadas pela empresa é a redução de jornada.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Caxias do Sul, Assis Melo, afirma que o setor ainda não observou os efeitos da paralisação no âmbito do trabalho na região. No entanto, o líder sindical destaca que a entidade acompanha o caso com preocupação.
— A preocupação existe, porque os fornecedores de autopeças têm essas empresas na carteira de clientes. Então, sempre tem impacto quando existe uma paralisação. Um fato importante é que as fabricantes de peças têm um comércio diversificado, não atendem exclusivamente um único cliente. Então, elas conseguem absorver um pouco essa baixa na demanda — explica Melo.
A pausa nas montadoras
- Na semana passada, diversas montadoras, como Volkswagen, Hyundai Motor Brasil, Mercedes-Benz do Brasil, GM e Stellantis, anunciaram paralisação nas fábricas.
- Na segunda-feira (27), Volkswagen e GM iniciaram períodos de férias coletivas para cerca de cinco mil trabalhadores de suas fábricas de Taubaté e São José dos Campos, no interior de São Paulo
- Problemas causado por fornecimento de componentes e o impacto do juro e da inflação em patamar elevado nas expectativas de vendas do setor estão entre os principais pontos que explicam a paralisação.
- Na semana passada, integrantes da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) se reuniram com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em Brasília. O presidente da Anfavea afirmou que a crise de produção no setor brasileiro migrou da falta de semicondutores para a projeção de demanda mais fraca.