Confirmadas as primeiras demissões das Americanas, o sindicato que representa os empregados do comércio em Porto Alegre (Sindec) relata dificuldades em entender a dimensão dos desligamentos na Capital. Pelo menos 50 terceirizados foram cortados no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Porto Alegre, mas não há detalhes sobre quantos funcionários pertenciam a cada praça.
O presidente do Sindec, Nilton Neco, diz que o que mais preocupa é a falta de informações. O sindicato solicitou ao Ministério Público do Trabalho (MPT-RS) uma mediação entre a empresa e representantes sindicais com o objetivo de se obter dados mais concretos sobre a situação no Estado.
— Eles não dizem qual o tamanho, e essa é a grande expectativa. Quantas lojas vão fechar? Antes do dia 19 (data da Recuperação Judicial), quantas demissões haviam sido? Eles não falam isso — questiona Neco.
Pelo menos uma pessoa na Capital teria procurado o sindicato informando desligamento.
— Sabemos pouca coisa. O pessoal não fala abertamente porque tem medo. Está todo mundo apreensivo — afirma o presidente do Sindec.
Conforme noticiou a colunista Giane Guerra, a Americanas confirmou as demissões, mas disse se tratar de ajustes pontuais em contratos de terceirizados. Em nota, a empresa negou que tenha iniciado um processo de demissão de funcionários.
“A Americanas atua nesse momento na condução de seu processo de Recuperação Judicial, cujo um dos objetivos é garantir a continuidade das atividades da empresa, incluindo o pagamento dos salários e benefícios de seus funcionários em dia. O plano de recuperação definirá quais serão as ações da empresa para os próximos meses e será amplamente divulgado assim que for finalizado”, diz o comunicado.
No Rio de Janeiro, onde fica a sede da companhia, a Americanas entrou com um pedido na Justiça para obter a manutenção dos serviços básicos de luz, água e esgoto enquanto trata da recuperação judicial. Há relatos de falta de produto e desorganização em algumas lojas desde que foi noticiado o escândalo de fraude.
Em Porto Alegre, o clima nas lojas é de normalidade. A reportagem de GZH percorreu três unidades de rua da rede nesta quarta-feira (1º) para verificar a situação.
Na Americanas da Rua da Praia, um dos pontos mais emblemáticos da rede e do comércio de rua na Capital, o movimento era tranquilo durante a manhã. Não havia falta de produtos visível e os funcionários trabalhavam normalmente. Cerca de 30 pessoas formavam filas nos caixas no térreo da loja.
Na avenida Protásio Alves, em uma unidade express, o movimento também era normal. Funcionários da loja e representantes de marcas de alimentos repunham itens nas prateleiras e havia poucas filas nos caixas. Uma funcionária que cuidava da organização da loja relatou não ter tido alterações na rotina de trabalho nos últimos dias.
Já no ponto que fica na Avenida Azenha, uma das lojas mais antigas, o movimento de clientes era menor. Gôndolas mais vazias na entrada da loja indicavam promoções, mas sem falta de produtos.
Uma das funcionárias que trabalhava reposicionando itens nas prateleiras disse não ter ouvido falar sobre desligamentos, mas afirmou que a preocupação com a crise na companhia preocupa os colegas. Oito funcionários trabalham na unidade. Em meio às incertezas, ela disse que seguem as expectativas positivas pela Páscoa, época em que a loja costuma “bombar em vendas”, conta.
Segundo o Sindicato dos Empregados no Comércio, pelo menos 290 pessoas trabalham nas 15 unidades da companhia em Porto Alegre. Nesta quarta-feira, o Sindec se reuniu com representantes do Sindicato de Lojistas de Porto Alegre para traçar alternativas caso sejam confirmadas mais demissões. Uma das sugestões é criar uma plataforma que divulgue oportunidades para realocar os funcionários demitidos.
— Não é a primeira recuperação judicial que lidamos e sabemos que o impacto é negativo. Sem falar que o comprador tira o pé para comprar — acrescenta Neco.
Após o encontro, o presidente do Sindilojas Porto Alegre, Arcione Piva, disse em nota: "Estamos atentos à situação que vem ocorrendo e na torcida para que não haja demissões”. Na ocasião, o Sindilojas colocou à disposição o Sindivagas, serviço para conectar funcionários demitidos a lojistas. “Os candidatos podem se cadastrar gratuitamente para novas oportunidades no mercado de trabalho através do nosso site, na aba Sindivagas”, concluiu Piva.
Na sexta-feira (3), representantes sindicais de diversos Estados se reúnem no Rio de Janeiro para uma reunião com a empresa. O grupo cobra um posicionamento em relação aos cerca de 45 mil funcionários da varejista no país. Antes, uma manifestação está marcada para acontecer em frente à loja localizada na Cinelândia, no Centro do Rio de Janeiro.