Dirigentes e centrais sindicais dos trabalhadores do comércio decidiram entrar com uma ação civil pública para colocar o trio de acionistas de referência da Americanas no "polo passivo" de processos trabalhistas. A ideia é usar o dinheiro dos bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto Sicupira para cobrir as rescisões que poderão — e muito provavelmente, irão — acontecer por conta da recuperação judicial.
— Queremos chamar os três acionistas para colocar o patrimônio deles. Porque, se não, vão jogar tudo para cima da Americanas. Depois, ela pode quebrar e os trabalhadores ficam sem receber. Queremos colocar os acionistas de referência no polo passivo — disse Nilton Neco, presidente do Sindicato dos Empregados do Comércio de Porto Alegre (Sindec), que participou da reunião.
De acordo com Neco, a decisão de entrar com uma ação civil pública contra os três não impede que cada sindicato ajuíze sua própria, conforme o impacto na região.
A decisão foi tomada depois de uma reunião entre dirigentes sindicais e um representante da Americanas para tirar dúvidas sobre o processo de recuperação judicial e a crise bilionária da empresa varejista. Ao final do encontro, a percepção de Neco foi de que a empresa fechará lojas e demitirá funcionários.
— Eles não confirmam o número de pessoas atingidas nem a quantidade de lojas fechadas. Mas foi apresentado um comunicado enviado aos funcionários que indica que haverá cortes — disse Neco.
O comunicado ao qual o dirigente se refere foi enviado aos funcionários no dia em que foi protocolado o pedido de recuperação judicial. Nele, há uma lista de perguntas e respostas sobre a crise. Uma delas é, justamente, se haverá demissões. A resposta da Americanas para os trabalhadores foi: "Neste momento, a companhia está focada na manutenção das operações. Um plano estratégico de otimização dos recursos está em andamento para que decisões que garantam a sustentabilidade da companhia tenham efeito em curto prazo. Em processos como esse, é comum que haja reestruturação".
Realmente, é comum que em um processo de recuperação judicial, especialmente nesse caso, que envolve uma dívida bilionária, haja reorganização de estrutura e enxugamento do quadro de funcionários. De acordo com a Americanas, hoje ela emprega, direta e indiretamente, 100 mil pessoas. Só em Porto Alegre, segundo Neco, são 290 funcionários. Pelo Brasil, ela tem 1,8 mil lojas.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br) Leia aqui outras notícias da coluna