O que mais chamou a atenção no comunicado que quebrou o silêncio dos acionistas de referência da Americanas não foi terem negado conhecimento sobre o rombo contábil de R$ 20 bilhões. O destaque vai para o ponto três dos oito que formam a lista na qual se dividiu o texto. Nele, os bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto Sicupira chamam a responsabilidade da auditoria PwC.
Como eles próprios enfatizam, a empresa é uma das maiores e mais conceituadas do segmento no mundo. Se já é difícil compreender como essa dívida de anos passou pelo crivo da Americanas e dos seus acionistas que são conhecidos como exemplos de gestão, é ainda mais complicado ter passado despercebida pela auditoria da PwC. Na carta ao mercado, os empresários colocaram que "contavam" com a empresa e, por isso, "acreditavam firmemente que tudo estava absolutamente correto."
Procurada pela coluna, a PwC respondeu por meio da assessoria de imprensa que não se manifesta sobre casos de clientes. Porém, sabe-se que não se trata de um caso qualquer, mas uma escândalo financeiro emblemático e com potencial de abalo setorial e sistêmico. Em algum momento, será importante a empresa explicar o ocorrido, sob pena de prejudicar outros auditados, se não o fizer.
A situação chega a lembrar a crise do subprime nos Estados Unidos em 2008, que provocou um dominó financeiro no mundo. Na ocasião, as agências de classificação de risco avaliavam positivamente os empréstimos hipotecários que originaram o colapso de crédito na economia norte-americana. Com isso, sofreram uma crise forte de credibilidade, lembrada até hoje.
Em tempo, eles nem citaram a possibilidade de fazerem um aporte na Americanas. A expectativa, especialmente dos bancos, é que, sim, os acionistas injetem alguns bilhões na empresa para ajudá-la na negociação com os 16 mil credores.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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