A busca por seguro-desemprego voltou a avançar no Rio Grande do Sul. O total de pedidos desse benefício cresceu 5% no Estado no acumulado de 2022 até novembro ante igual período de 2021. Os dados fazem parte de painel do governo federal. A alta nas solicitações desse auxílio está ligada a fatores como desaceleração da economia, acomodação da geração de emprego e encolhimento da atividade de alguns setores no Estado em um ano marcado por estiagem severa, segundo especialistas.
O seguro-desemprego é um benefício voltado a trabalhadores formais demitidos sem justa causa. O brasileiro que se encaixa nos pré-requisitos do programa tem direito a uma assistência financeira temporária, calculada de acordo com os seus últimos vencimentos.
Requerimentos
De janeiro a novembro de 2022, o Estado anotou 334,5 mil requerimentos de seguro-desemprego – 16,1 mil a mais do que o montante registrado no mesmo período do ano anterior. No país, o total de pedidos subiu de 5.607.258, em 2021, para 6.156.468, em 2022 – avanço de 9,8%. Tanto no Estado quanto no país, mesmo em alta, os números são menores do que os observados em 2020 – ano marcado pelo primeiro choque causado pela pandemia de coronavírus.
O professor Marcos Lélis, da Escola de Gestão e Negócios da Unisinos, afirma que esse novo aumento dos pedidos de seguro-desemprego está atrelado ao momento da economia do país. Após a atividade dos setores atingir um pico na retomada, a economia apresenta sinais de desaceleração diante de problemas internos e externos, segundo o especialista.
Esse movimento respinga no auxílio buscado por trabalhadores que perderam o emprego.
— A gente ainda está vendo um cenário econômico internacional complicado. Era esperado que essa acomodação global começasse na virada do ano, mas parece que foi antecipada, começando em agosto e setembro. E a gente já sofreu as consequências aqui — diz.
Economista e professora da Universidade Feevale, Lisiane Fonseca da Silva avalia que a alta nos pedidos ocorre diante da falta de tração da economia gaúcha em 2022. A especialista cita que, em 2020, houve o choque causado pela pandemia. No segundo semestre de 2021, o processo de retomada ganhou força, impulsionando o mercado de trabalho. Já em 2022, ocorreu um movimento diferente, segundo a economista:
— Parte desta alta na busca pelo seguro-desemprego está associada a esse não crescimento da economia do Rio Grande do Sul.
Lisiane destaca os efeitos da estiagem sobre a agropecuária e a repercussão desse efeito em outros setores entre os fatores que contribuem para essa retração.
A professora cita os dados do PIB no Estado para explicar essa análise. No acumulado de janeiro a setembro de 2022, período com dados mais recentes do PIB, a economia gaúcha teve queda de 6,6% ante igual período de 2021.
— É uma cadeia produtiva. Por mais que eu olhe as plantações ou os rebanhos, tem também a indústria de alimentos, o setor provedor de insumos para esse segmento, a logística. Tudo isso, à medida que a agropecuária encolhe, também vai encolhendo. Não necessariamente na mesma proporção, mas também tem resposta de queda — aponta.
O professor Ely José de Mattos, da Escola de Negócios e pesquisador do laboratório PUCRS Data Social, afirma que não observa mudanças estruturais no mercado de trabalho no período que ajudam a explicar esse aumento, mas sim um movimento de acomodação:
— Não teve nada de muito novo nos últimos meses de 2022 que pudesse dar uma justificativa mais estruturante. A gente tem de fato uma acomodação. Teve uma recuperação mais forte do mercado em um período anterior e isso começou a acomodar.
Entre os segmentos, o setor de serviços, um dos principais motores da economia e do emprego no país, lidera nos pedidos de seguro-desemprego no Estado. Esse ramo é seguido por comércio e indústria.
Tendência para 2023
O professor Marcos Lélis, da Unisinos, estima que o emprego deve apresentar ritmo de desaceleração no país na primeira metade deste ano, com acomodação após um período de retomada mais intensa. Ele projeta um cenário com espaço melhor para as contratações no quarto trimestre do ano.
Lélis destaca que o número do seguro-desemprego, mesmo pegando apenas o mercado formal, é um bom termômetro para estimar o comportamento da taxa de desemprego em novas atualizações desse indicador:
— O indicador do seguro-desemprego antecipa a taxa de desemprego. Então, provavelmente a taxa de desemprego deve parar de cair a partir de outubro e novembro de 2022. Pode começar a estabilizar ou até talvez subir no final do ano ou início de 2023.
Iniciativas
A professora Lisiane, da Feevale, destaca que é necessário observar as ações dos governos para ter uma clareza maior sobre os rumos do mercado de trabalho neste ano:
— A gente tem de entender quais serão as políticas destinadas aos setores produtivos, isso vale em nível nacional e regional, para entender o impacto na geração de emprego.
O professor Mattos, da PUCRS, afirma que é difícil projetar o cenário do mercado de trabalho nos próximos meses, mas destaca que não há um fato novo aguardado para 2023 que possa gerar impacto maior no emprego no curtíssimo prazo. O economista estima um ano com certa normalidade econômica em um cenário de crise global, marcado por taxas de crescimento mais modestas.
— Se vamos retomar ou acelerar a ampliação de vagas com carteira vai depender muito do que a gente vai observar nas próximas semanas do ponto de vista de políticas públicas. Não consigo enxergar nada no curtíssimo prazo que tenha um impacto tão relevante assim — diz.