Pelo quarto verão seguido, o Rio Grande do Sul revive o alerta de anos anteriores para a falta de chuva em período crítico da estação. Mas, apesar da estiagem que persiste, o número de municípios com decretos de situação de emergência é menor se comparado aos últimos ciclos.
A falta de chuva no final de 2022 voltou a gerar preocupação pelo que viria pela frente, mas os dados até o fechamento de dezembro apontavam para uma situação diferente dos anos anteriores: foram 28 decretos de municípios no último trimestre — quatro vezes menos do que em igual período de 2021. O primeiro da temporada veio de Tupanciretã, em 1º de dezembro.
A análise considera dados da Defesa Civil apurados de outubro a dezembro de cada ano. Em 2019, por exemplo, o município de Chuvisca foi o primeiro a declarar situação de emergência devido à estiagem, em 23 de dezembro. Até o fim daquele ano, três municípios tinham decretos do tipo.
Em 2020, o primeiro decreto veio mais cedo, em 27 de outubro, no município de Tenente Portela. Naquele ano, a abrangência da falta de chuva recrudesceu no Estado, totalizando 102 decretos por estiagem até o fim de dezembro.
Já em 2021, o primeiro decreto veio em 6 de dezembro, por Júlio de Castilhos. O quadro voltou a se ampliar, com 117 municípios tendo declarado situação de emergência no encerramento do ano. O quadro se agravou muito até o fim daquele verão, sendo considerada uma das piores estiagens na história do Rio Grande e com efeitos severos também na agricultura.
Municípios em situação de emergência no RS por causa da estiagem - de outubro a dezembro:
- 2019: 3
- 2020: 102
- 2021: 117
- 2022: 28
Para especialistas que monitoram o quadro, a quantidade menor de municípios em emergência, no entanto, não indica melhora da situação. Principalmente porque o solo tem dificuldades de se recuperar após estiagens que se repetem, estando bastante prejudicado nesses quatro anos.
— A intensidade da estiagem não é diferente dos outros anos, mas o efeito é mais intenso porque as reservas já estão prejudicadas. A natureza não consegue se recuperar — diz o subchefe de Proteção e Defesa Civil, coronel Marcus Vinicius Gonçalves Oliveira.
— Apesar do menor número (de decretos), é uma situação que segue crítica. Nesse ano (2022), os decretos começaram mais cedo do que no ano anterior. Pode ser até uma precaução dos municípios, mas nos mostra que a situação é preocupante, também porque as bacias estão com níveis hidrográficos abaixo — acrescenta Nicolle Reis, meteorologista da Sala de Situação do Estado.
La Niña se despede
Além do déficit hídrico, as temperaturas elevadas reforçam a estiagem. Quando chove, a água evapora rapidamente por causa do calor, sem ser totalmente absorvida pelo solo.
De acordo com prognósticos dos sistemas de meteorologia, janeiro deve ter maior distribuição de chuvas, trazendo alívio a algumas regiões. O agravante é que até a próxima semana as temperaturas estarão muito elevadas em todo o Estado, também com umidade do ar muito baixa, explica Nicolle.
— Temos uma previsão de terminar janeiro com chuvas abaixo da média no Centro-Oeste e acima da média na faixa Norte (abrangendo as regiões de Santa Rosa, Passo Fundo e a Serra). A expectativa é de que na segunda quinzena de janeiro tenhamos outros eventos de chuva — diz.
Já em fevereiro, a tendência segue de temperaturas elevadas. E com chuvas isoladas, como é esperado para a época.
Somente a partir da metade do ano é que as precipitações devem voltar à normalidade, com a despedida do La Niña, que começa a perder força neste início de 2023. O fenômeno climático de resfriamento das águas do Oceano Pacífico está diretamente relacionado a episódios de secas.
A orientação da Defesa Civil aos municípios é que janeiro seja o mês de acumular água, implementando o uso de cisternas e outras medidas de prevenção para evitar desabastecimento.
— Seguimos sempre o prognóstico da Sala de Situação e o que nos passaram é que janeiro é o mês de acumulação. É um mês que vai chover na média dos últimos anos ou até um pouco acima em alguns locais. Mas em fevereiro e março, deve chover um pouco abaixo ou na média e por isso algumas regiões podem ainda ter problemas — diz o subchefe de Proteção e Defesa Civil, coronel Marcus Vinicius Gonçalves Oliveira.