O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre) deu início a divulgação de uma nova sondagem trimestral sobre o mercado de trabalho nacional, nesta terça-feira (6). Na primeira edição, o material revela um grau de vulnerabilidade nas vagas existentes hoje e a elevada preocupação relacionadas aos tipos de vínculo empregatício, renda e baixa proteção social.
Em uma das categorias que mais cresceu durante a pandemia, os trabalhadores por conta própria, que atuam como pessoa jurídica, o estudo – realizado em todo o território nacional entre agosto e outubro – aponta que 69,6% prefeririam dispor de algum vínculo formal com uma empresa. Nesse universo, os principais motivos mencionados foram ter rendimentos fixos (33,1%) e o acesso a benefícios que as empresas costumam dar (31,4%).
Já para os não desejam deixar de trabalhar por conta própria (30,4%), o fator mais citado foi a preferência por flexibilidade de horário (14,3%), seguido pelos que acreditam que conseguem ter rendimentos maiores (11,9%). Entre os informais (sem carteira assinada, empregadores e por conta própria sem CNPJ), a maioria das pessoas (87,7%) afirmou que gostaria de ter uma ocupação mais formalizada. Apenas 12,3% preferiam o contrário.
O dado, conforme explica o pesquisador e economista da FGV/Ibre, Rodolpho Tobler, assinala que o crescente empreendedorismo no mercado de trabalho nacional pode estar mais associado a uma necessidade do que com a diversificação das atividades. Ele recorda que os trabalhadores por conta própria representam cerca de 25% do mercado atual.
— Foi uma porta de entrada, acredito que mais gente ingressou por necessidade do que por vontade e depende muito do cenário econômico para que haja reversão do quadro, o que também depende de políticas públicas voltadas ao tema — analisa.
Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador sênior da área de Economia Aplicada da FGV/IBRE acrescenta que há aspectos conjunturais e estruturais que privilegiam o trabalho por conta própria, como a pandemia e a reforma da previdência de 2017. Segundo ele, a impressão revelada pela pesquisa é de que a participação da categoria persistirá elevada, a despeito da insatisfação demonstrada.
Sobre a satisfação com o próprio trabalho, 72,8% dos entrevistados relataram estar satisfeitos e 27,2% insatisfeitos, por conta da remuneração baixa, poucos benefícios e insegurança. A possibilidade de perder o emprego ou a principal fonte de renda nos próximos 12 meses é visto como improvável pela maioria dos respondentes. No sentido oposto, 41,3% temem que isso ocorra. Caso aconteça, 66,5% garantem ter condições de se sustentar por até três meses e 33,5% por mais tempo.
— De alguma maneira essas percepções qualitativas complementam a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE), que assinala a rápida recuperação quantitativa do emprego, mas com a renda brasileira estagnada. Com isso, apesar da queda da taxa de emprego, é possível mostrar quadro mais rico da participação da informalidade nessa retomada, as vulnerabilidades das vagas, os riscos e a fragilidade do mercado de trabalho – pontua Campelo Junior.
Como funcionará a sondagem trimestral
A nova sondagem, que será divulgada a cada trimestre, foi dividida em três grupos de análise: satisfação com o trabalho e bem-estar, futuro do trabalho e percepções de longo prazo e segurança do trabalho e renda. Com resultados elaborados a partir da coleta mensal feita com 2 mil pessoas físicas, acima de 14 anos, as questões foram inspiradas em métodos de organizações como OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), OIT (Organização Internacional do Trabalho), IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e desenhadas com PNAD, ou seja, detalhada por sexo, faixa etária, renda e regiões.
Uma das ideias, explica o superintende de Estatísticas Públicas da FGV/Ibre, Aloisio Campelo Junior é permitir a ampliação, com percepções qualitativas, dos dados apurados pela PNAD e que, atualmente, sinalizam a expansão do mercado de trabalho nacional. Apesar da melhora, com cerca de 100 milhões de brasileiros empregados, as preocupações com a renda (ainda abaixo do nível pré-pandemia) e a qualidade dos postos gerados tendem a ficar mais evidentes com o avanço da série histórica da pesquisa da FGV/Ibre, comenta.