O arrefecimento do Índice Geral de Preços — Mercado (IGP-M) ao longo de 2022 vai fechando o ano como um respiro para quem mora de aluguel. O índice é o mais utilizado nos contratos de locação e volta aos patamares de normalidade depois de encostar em alta acumulada de quase 40% no auge da pandemia. Até novembro de 2022, o IGP-M acumula alta de 5,9% em 12 meses, cenário bem diferente do ano passado, quando acumulava avanço de 17,89% neste mesmo período de comparação. A mudança no índice, contudo, não deve contribuir, sozinha, para novas renegociações.
Economista e supervisora do departamento de economia e estatística do Sindicato Intermunicipal das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis e dos Condomínios Residenciais e Comerciais no Estado (Secovi-RS), Lucineli Martins acredita não haver espaço para reduções dos valores ou reajustes. Isso porque o índice já vem abaixo da inflação oficial.
Conforme projeção do Relatório Focus nesta segunda-feira (5), a previsão para o acumulado do IGP-M em dezembro é de 5,42%. Abaixo dos 5,92% esperados para o IPCA no encerramento do ano.
— Não acredito que vá ter reajustes abaixo disso porque já estará abaixo do IPCA, e quem aluga, aluga para complementar a renda. Estão contando com esse dinheiro — analisa Lucineli.
Composição
A composição do IGP-M inclui três índices de preços. Um deles é o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que captura os preços ainda no atacado, onde há influência do câmbio e o que explica as flutuações exorbitantes em 2020 e em 2021 em meio a alta das commodities. No auge da pandemia, com a disparada do IGP-M, muitos inquilinos e proprietários acordaram em trocar o índice dos contratos para o IPCA. Mas as substituições foram pontuais e temporárias, segundo Lucineli.
Na avaliação de Alberto Ajzental, professor de economia e coordenador do curso de Negócios Imobiliários da Fundação Getulio Vargas (FGV), os valores no mercado de locação não devem voltar a inflacionar, principalmente em função do ambiente macroenômico de crescimento baixo, de desemprego que se mantém e de juros altos no país. Mas o orçamento apertado das famílias tende a motivar as tentativas de negociação.
O IGP-M atua no aniversário, quando há renovação, mas agora está perto do IPCA e não vai ter muita discussão em relação ao índice. A questão principal é que a economia não está tão forte e as pessoas vão negociar independentemente de qualquer coisa.
ALBERTO AJZENTAL
Coordenador do curso de Negócios Imobiliários da FGV
— O IGP-M atua no aniversário, quando há renovação, mas agora está perto do IPCA e não vai ter muita discussão em relação ao índice. A questão principal é que a economia não está tão forte e as pessoas vão negociar independentemente de qualquer coisa — diz Ajzental.
Pelo lado dos proprietários, apesar da redução do índice balizador, é mais negócio manter os imóveis ocupados, tendo em vista os custos fixos de condomínio e IPTU. Também por este cenário, os proprietários não estão podendo “ser dar ao luxo” de escolher locatário, dizem os especialistas.
Estoque
Segundo levantamento do Sicovi-RS, o estoque disponível de imóveis para locação cresceu em Porto Alegre nos últimos anos. Em 2019, eram 13.915 entre residenciais e comerciais. Em 2022, eram 16.063 até outubro. O dado é um amostra, podendo haver ainda mais ofertas disponíveis no mercado, portanto.
O professor da FGV ainda pontua comportamentos diferentes entre os mercados de locação comercial e de locação residencial. O primeiro tem sido marcado pela baixa demanda. Com a crise gerada pela pandemia, muitas empresas desocuparam seus espaços físicos para reduzir os gastos. E como a economia ainda demora a se recuperar, a tendência é de que a procura por imóveis comerciais permaneça baixa e os valores também.
— O mercado está para quem é inquilino e não para quem é locatário — resumo Ajzental.
Nos contratos residenciais, o professor lembra que a locação substitui a compra, e vice e versa. Mas no contexto atual, o mercado de compra de imóveis deve desacelerar. Assim, quem vive de aluguel tende a seguir nesta modalidade, embora buscando reajustes.
— Quem mora de aluguel é mais provável que continue no aluguel. Mas o cenário levará às negociações, principalmente porque a inflação corrói o poder de compra e sobra menos para pagar aluguel — completa o professor.