O Rio Grande do Sul manteve, em 2020, primeiro ano de pandemia, o 5º lugar no ranking que mede a qualidade de vida e o desenvolvimento nos Estados. Com avanço em dados de segurança e recuo no padrão de vida, o RS apresentou certa estabilidade em relação ao nível do índice do ano anterior. Os impactos da crise sanitária são alguns dos fatores que explicam esse cenário, segundo especialistas.
Os dados estão presentes na 9ª edição do Índice de Desenvolvimento Estadual — Rio Grande do Sul (iRS). A pesquisa é uma parceria entre GZH e PUCRS e avalia o desempenho dos Estados e do país em três dimensões: padrão de vida, educação e segurança e longevidade.
Seguindo os moldes do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o iRS varia de zero a um. Quanto mais próximo de um, melhor o desempenho de cada região. A pesquisa tem como base dados de 2020, recorte de tempo mais recente possível, levando em conta as informações disponíveis. Essa é a primeira edição com dados do período da pandemia de coronavírus.
No Rio Grande do Sul, o índice geral caiu de 0,659 para 0,652, retornando ao nível observado dois anos antes, em 2018. Mesmo com a retração, o Estado segue na 5ª colocação no país e acima da média nacional. De 2007 até 2015, o RS registrou a melhor colocação no índice, conquistando e mantendo o 4º lugar no ranking. Nos anos seguintes, oscilou entre 5º e 6º lugar.
A certa estabilidade do Estado no iRS ocorre diante de fatores distintos. As três dimensões apresentaram oscilações no patamar do índice, mas mantiveram a colocação em seus respectivos rankings. De um lado, a dimensão de padrão de vida apresentou o maior tombo entre os dois últimos anos de pesquisa. Já o índice de segurança apresentou melhora mais robusta, enquanto o indicador de educação teve aumento menor na margem.
O coordenador do iRS e professor da Escola de Negócios da PUCRS, Ely José de Mattos, explica que o resultado do Estado em 2020 sofre o efeito de algumas dinâmicas provocadas pela pandemia na economia e, consequentemente, na área social:
— Tudo piorou do ponto de vista da dimensão padrão de vida, porque a gente estava enfrentando uma crise. No Rio Grande do Sul e na média nacional, nós pioramos nas três variáveis. Perdemos empregos, a renda média do trabalhador diminuiu e a desigualdade aumentou.
No campo de segurança e longevidade, especialistas afirmam que parte da melhora ocorre diante das medidas de distanciamento social promovidas no primeiro ano de pandemia. Com menor circulação de pessoas, taxas de homicídios, mortes no trânsito e mortalidade infantil recuaram no período.
O RS segue com o pior desempenho entre os Estados da Região Sul, atrás de Santa Catarina e Paraná, mesmo diminuindo a distância para os vizinhos.
A ponta do ranking segue sob a tutela do Distrito Federal (0,774), que apresentou leve avanço em relação ao ano anterior. Essa unidade da federação ocupa a liderança no iRS desde 2015. São Paulo (0,716) e Santa Catarina (0,708) completam o top 3. O Paraná segue na 4ª colocação (0,658). Mesmo com a manutenção das posições, esses Estados também apresentaram retração no índice na comparação com 2019.
Sergipe (0,436), mesmo com ligeira melhora, repetiu a 27ª colocação, seguido de perto pela Bahia (0,444), que ficou no 26º lugar após perder uma posição. O Ceará (0,463) apresentou tombo expressivo em 2020, passando da 13ª para a 25ª colocação.
Perguntas e respostas
Por que criar um indicador?
Não havia um índice reconhecido no país especificamente para avaliar os Estados. O iRS é o primeiro com proposta de atualização anual.
Por que as variáveis?
Para refletir qualidade de vida e desenvolvimento humano, a definição da metodologia do iRS leva em conta indicadores que vão além dos estritamente econômicos. Foram escolhidos os mais abrangentes, que impactam maior quantidade de pessoas.
O que o diferencia?
Transparência: todos os dados são oficiais e de fácil acesso. Significa que qualquer pessoa pode conferi-los e que os números têm fontes confiáveis.
Foco na vida real: a meta é traduzir a realidade de quem vive no Estado. A exemplo do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o foco é nas pessoas, e não nas instituições ou no poder público.
Fácil compreensão: alguns índices utilizam tantas variáveis que fica difícil entendê-los. O iRS apresenta fórmula simples e foi feito para ser compreendido intuitivamente.
Qual é a escala?
Para obter um resultado comparável entre todos os Estados, foi criada uma escala de zero a um, baseada em patamares mínimos aceitáveis e metas de desenvolvimento. Quanto mais perto de um, mais próximo da meta. Quanto mais perto de zero, mais distante.
Por que os dados são de 2020?
O iRS avança até o ano dos dados mais recentes disponíveis para todas as variáveis. O atraso das estatísticas é um problema comum devido ao tempo de coleta, ao processamento e à divulgação das informações. O iRS busca utilizar as opções mais rápidas para reduzir ao máximo esse tempo.
Entenda os cálculos
Educação
- Os indicadores adotados analisam o desempenho dos alunos nas séries iniciais, o grau de distorção entre a idade ideal e a efetiva do Ensino Médio e a taxa de matrícula nessa etapa.
- Variáveis: média padronizada em português e matemática da Prova Brasil no 4º ano, taxa que mostra o quanto os jovens estão atrasados em relação à idade ideal e taxa de matrícula do Ensino Médio. Nessa última, a opção foi adotar a faixa etária de 15 a 19 anos. Ainda que a Meta 3 do Plano Nacional de Educação (PNE) seja a ampliação do atendimento do Ensino Médio na faixa etária de 15 a 17 anos, intervalo ideal, o Brasil conta com grande contingente de jovens que não concluem a etapa antes dos 19 anos, ou sequer estão matriculados.
- Fonte dos dados brutos: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), ligado ao Ministério da Educação, realiza a Prova Brasil — dados neste site.
Segurança e longevidade
- Mede expectativa de vida e grau de violência ao qual as pessoas estão expostas.
- Variáveis: índice de mortalidade infantil, taxa de homicídios e taxa de mortalidade no transporte (trânsito).
- Fonte: Datasus. O Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (SUS) é responsável por publicar dados relacionados ao sistema, de estatísticas epidemiológicas a números de mortalidade — informações disponíveis neste site.
Padrão de vida
- Renda é o parâmetro. Mede qualidade de vida no que se refere aos bens materiais. Usa como critério quanto cada pessoa ganha por mês.
- Variáveis: renda média do trabalhador, distribuição de renda e ocupação formal.
- Fonte: Rais. A Relação Anual de Informações Sociais (Rais) é uma base de dados do Ministério da Economia que informa quanto ganham os trabalhadores formais no Brasil. As informações partem das empresas e estão disponíveis em sites do governo federal.