O grupo da Agricultura, Pecuária e Abastecimento da transição entrega ao governo eleito, nesta semana, um primeiro relatório com o diagnóstico do setor. Entre outras medidas, será indicada a renegociação do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia. Ainda que tenha sido concluído em junho de 2020, o pacto não entrou em vigor porque depende de ratificação dos parlamentos de todos os países envolvidos.
Se por um lado o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva disse, em discurso de posse, que o Brasil não deve estar condenado ao eterno papel de exportador de commodities, a União Europeia tem como um dos impedimentos à livre entrada de produtos brasileiros o crescente desmatamento da Amazônia. A senadora Katia Abreu (MDB-TO), integrante do grupo de transição, disse que o Brasil tem plenas condições de demonstrar aos europeus que uma das preocupações do governo eleito é a preservação do meio ambiente, em especial, a floresta amazônica. Um dos indicativos foi a presença do petista eleito na Cúpula do Clima da ONU (COP-27), no Egito.
— Não vejo dificuldade do Brasil provar que nós temos compromisso com o meio ambiente. Primeiro lugar porque o interesse é nosso mesmo e não apenas para cumprir desejos internacionais. Manter a Amazônia, combater o desmatamento ilegal faz bem para a produção de chuva. No centro-sul do país, 70% da chuva é proveniente da Amazônia — disse após sair de reunião com setores produtivos no Centro Cultural do Banco do Brasil na tarde desta terça-feira (29).
Segundo a pecuarista e ex-ministra da Agricultura, ao mundo, deverá ser demonstrado um forte compromisso ambiental, sem descuidar das exportações do setor produtivo. De acordo com ela, "felizmente, tudo que faz bem ao meio ambiente, faz bem à agropecuária brasileira" e os mandatos de Lula e Dilma Rousseff primaram pela preservação ambiental.
— É fácil de recuperar (a credibilidade do Brasil com a preservação), não digo num primeiro ano porque o desmonte foi terrível, mas neste primeiro ano já será possível verificar que estamos fazendo um resgate das estruturas anteriores — completou.
A senadora ainda disse que é contrária à divisão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O grupo temático vai indicar que o setor da Pesca não seja retirado no Mapa. Além disso, ela entende que o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) não deveria ser recriado, colidindo com o entendimento do grupo temático do Desenvolvimento Agrário.
— Acho que devemos ter um ministério só para que os pequenos agricultores pronafianos (que utilizam recursos do Pronaf) tenham perspectiva de crescimento de classe média. Não temos classe média no campo. Temos uma grande classe D e E no campo, um grande A e B, e uma diminuta classe C. Acho que o Ministério da Agricultura deve manter o agroexportador de sucesso, mas também manter um olhar constante para a produção interna — ressaltou.
Alguns aliados do governo eleito defendem que o MDA não somente seja recriado, como também seja turbinado com mais funções.